quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O boi sem sono - Jayme Copstein

Não sei se Lazier Martins ainda se lembra do que lhe disse, durante a Rio-92 (ou Eco-92), ele chefiando a equipe de cobertura enviada pela Rádio Gaúcha, eu apresentando de lá o Brasil na Madrugada, atendendo ao desejo dos númerosos ouvintes que a emissora contava no Rio de Janeiro. Lazier realizou trabalho primoroso, orientando e movimentando com maestria repórteres que iniciavam a carreira e entrevistando com sua reconhecida competência figuras de importância do evento. Eu, já diabo velho, por isso mesmo sem maldade, mas apenas enfastiado das obsessivas e messiânicas boas intenções que garantem lotação permanente ao inferno, opinei com franqueza, valendo-me de uma velha marcha de Carnaval, 'Touradas de Madri': "Isto é conversa mole pra boi dormir. Não vai dar em nada."

Dezessete anos passados, algumas "eco" depois, o boi continua sem sono. Há uma multidão em Copenhague, fazendo um Carnaval europeu politicamente correto – o Brasil de Lula ostentando a fantasia de califa das Mil e Uma Noites, com sua luzidia caravana – países ditos pobres, que não o seriam tanto se não fossem tão corruptos, cantando o "me dá um dinheiro aí", países ditos ricos montando arapucas uns aos outros para assumirem a "proteção" do planeta.

Ninguém sabe ao certo a extensão do problema. O bom-senso está sendo atropelado por achismos de toda a ordem. Até fraudes são cometidas por cientistas tidos como respeitáveis. Omite-se que nada pode ser feito a curto prazo. Sem limitar drasticamente a natalidade, qualquer solução de longo prazo em curto prazo se tornará insuficiente diante do vertiginoso crescimento demográfico. A Terra tinha três bilhões de habitantes em 1969. Hoje tem seis bilhões, todos consumindo os recursos naturais. Como abrigar, alimentar e vestir toda essas gente sem aumentar a atividade agrícola, industrial e de serviços?

Era a indagação de Malthus, no século 19, quando advertiu que o crescimento dos meios de subsistência em razão aritmética (1+1=2+1=3+1=4+1=5+1=6) não chegaria para atender ao crescimento da população em razão geométrica (1x2=2x2=4x2=8x2=16x2=32). Isso que, no seu tempo, a expectativa de vida andava pelos 40 anos, pouco mais da metade do que é hoje.

Portanto, nenhuma proposta que não contemple o controle da população mundial vai fazer esse boi dormir e terminar com o Carnaval.

Prêmio ARI

A Associação Riograndense de Imprensa entregou anteontem os troféus do 51º Prêmio ARI de Jornalismo, certame honrosamente patrocinado pelo Banrisul. Fosse eu colunista social haveria de enfatizar a alegria da confraternização dos mais de 60 profissionais classificados como finalistas e também de suas famílias, todos chuleando a proclamação dos agraciados. Reservaria destaque especial para a lhaneza do presidente Fernando Lemos no trato com as pessoas. Foi de chamar a atenção.

Na atmosfera festiva, duas sombras: a do subterfúgio técnico do Supremo Tribunal Federal, recusando-se a julgar a proibição imposta ao jornal O Estado de São Paulo, e apenas ao jornal O Estado de São Paulo, de noticiar investigação pública instaurada pela Polícia Federal, para esclarecer negócios da Família Sarney, e apenas esta investigação envolvendo a Família Sarney; e da pesada pena pecuniária imposta ao jornal "Já", de Porto Alegre, por ter noticiado fatos do registro policial, como se a notícia em si fosse a gênese dos fatos e não os fatos a causa de desgosto de seus protagonistas. Não faltou veemência nos muitos protestos.