quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Do “bundum” ao chulé – Jayme Copstein

A senhora Dona Dilma Roussef, por ser dama de respeito, não pode ou não deve contar piadas apimentadas – sem nenhuma alusão, é claro, àquela tentativa do deputado Paulo Pimenta de fabricar uma lista fajuta do mensalão com os advogados do Marcos Valério.

Por isso, Dona Dilma entrou na onda do profeta Delúbio Soares: "Mensalão vai virar piada de salão". Ao discursar para os mais de mil convidados no salão, na festa dos 30 anos do PT, ela se confessou estarrecida com as "inequívocas provas" de corrupção da quadrilha de José Roberto Arruda, mas negou haver "provas contundentes" do mensalão de Zé Dirceu & Bob Jeferson e Cia.

Enfim, é a tese do grande teórico otomano al Tchxim Dar'Ará Paxá, de que a corrupção baixou como nunca na história deste país: escorreu das cuecas da família Genoíno para as meias do Leonardo Prudente.

Eles "faiz", "nóis" paga

A ausência ou omissão da Procuradoria Geral da União (PGU), em processo movido pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Rondônia, vai custar aos cofres públicos quantia superior a R$ 100 milhões. A indenização refere-se a reivindicações que o próprio Tribunal Superior do Trabalho considerava incondicionais e contrárias à jurisprudência do próprio TST.

Um dos ministros da 2ª Turma do TST, à qual estava afeto o julgamento, manifestou surpresa com o que chamou de "posicionamento ambíguo" da União. Na sessão anterior do julgamento, o Sindicato dos Servidores de Rondônia alegara acordo prévio, o que faria a ação perder o objeto. Intimada União para se manifestar a respeito, a PGU não apareceu. Resultado: mais 100 milhões de reais, a serem pagos com os impostos extorquidos de todos nós.

E daí? Daí, nada. Não vai acontecer nada. Desde quando alguma coisa acontece neste país? Repete-se o de sempre: eles "faiz", "nóis" paga.

Democracia versus formnalismo

Em qualquer país civilizado, ou até nem tanto, mas com pretensões à condição de civilizado, não haveria como uma família, mesmo conhecida de sobejo, como a de José Sarney, impor através do Poder Judiciário censura a um único jornal, O Estado de São Paulo, em relação a uma investigação policial, a Operação Boi Barrica que procura esclarecer milagres de multiplicação de pães, bolachinhas e conexos.

Não se trata de uma reportagem investigativa do jornal em que a afoiteza de um repórter pode invadir a privacidade alguém. É investigação da Polícia Federal, instituição pública, cujos registros, por consequência, públicos também são e portanto de livre acesso a qualquer cidadão.

O Supremo Tribunal Federal, entretanto, deixou de analisar ontem tão gritante absurdo porque não conseguiu, pelo voto da maioria de seis de seus ministros, descartar-se da liturgia que às vezes transforma a Justiça em um simulacro do velho Baal-Moloch babilônico, ao qual se aplaca com a estrita obediência ao formalismo, sacrificando a ordem democrática e o direito fundamental e universal da liberdade de expressão e de informação e mantendo a ilegalidade flagrante da censura imposta ao jornal O Estado de São Paulo.