segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Dia da Infâmia – Jayme Copstein

O aniversário, ontem, do ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbour, no Pacífico, passou praticamente despercebido. Depois de algum tempo, mesmo fatos históricos relevantes só têm relembrança nos chamados aniversários redondos. Pearl Habour deverá voltar à pauta dos jornais em 2011, quando se completarem os 70 anos do episódio que marcou o 7 de dezembro de 1941 como o Dia da Infâmia, por não ter precedência na história de qualquer guerra, agressão marcada por tanta deslealdade. Os dois governos ainda conversavam sobre seus problemas, não estava à vista nenhuma ruptura imediata, quando os japoneses atacaram sem aviso prévio, praticamente destruíram o poderio naval americano no Pacífico e mataram civis e militares que viviam naquela base.

Isso é fato, de fácil comprovação nos documentos da época. Os japoneses nunca pretenderam justificar Pearl Harbour, apenas o explicam, tal como os alemães em relação ao nazismo, com a facção militarista, liderada pelo almirante Tojo, que pretendeu conquistar para o Japão a hegemonia da Ásia. Contudo, alguém andou escrevendo, ontem, uma dessas asneiras revisionistas, tal como a negação do Holocausto, "denunciando" que a espionagem norte-americana descobrira os planos japoneses a tempo, mas o Governo de Washington não tomou as providências defensivas, para sensibilizar a opinião pública e justificar sua intervenção na Segunda Guerra Mundial.

Passou-se exatamente o contrário, e esta é uma história pouco difundida: foram as deficiências da espionagem norte-americana que possibilitaram Pearl Harbour. Dean Acheson, então subsecretário do Departamento de Estado, reconheceu depois que a organização do serviço secreto não se atualizara significativamente desde a Guerra da Secessão. Havia muita burocracia, várias repartições se encarregavam de colher informações, mas cada uma agia por conta própria, sem coordenação, como se ninguém mais o fizesse e sem trocar informações entre si.

Que a situação com o Japão poderia deteriorar-se e descambar para a guerra era uma possibilidade concreta. O mais lógico e também o mais fácil seria registrar a movimentação da esquadra japonesa para detectar um possível ataque. Uma comissão, integrada por membros dos vários serviços secretos, foi criada três meses antes de Pearl Harbour, especialmente com tal objetivo, mas só conseguiu reunir-se, assim mesmo premida pela urgência, três dias depois do ataque.

O desastre de Pearl Harbour foi responsável pela reorganização da Inteligência do Estados Unidos, a cujas façanhas, incluindo-se aí a decifração dos códigos secretos dos japoneses, a marinha norte-americana conseguiu vencer e destruir o forte da esquadra inimiga na Batalha de Midway e tomar a iniciativa da guerra.

Há outra lenda, de que os japoneses só passaram a utilizar os kamikases (pilotos suicidas) no fim da guerra, assim mesmo por desespero. Também não é verdade. Os "kamikases" já tinham atuado em Pearl Harbour, O serviço secreto norte-americano os identificou depois, através de reconhecimento aéreo, ao fotografar um porta-aviões que, estranhamente, só permitia seus aviões levantarem voo. A suposta pista de aterrissagem, na popa, estava atulhada de canhões antiaéreos. Não havia como os aviões voltarem.