sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

Incertas certezas - Jayme Copstein

É puro dramalhão a frase, perfilhada pelo comandante do Policiamento de Porto Alegre, explicando a execução de um industrial por assaltante que lhe queria roubar o carro.
“Ele estava no lugar errado, na hora errada.”
O que significa que era o assaltante quem estava no lugar certo, na hora certa.
A elucubração altamente filosófica induz à pergunta:
“Em que lugar estava a Polícia?”
O comandante responde: “Onde estamos, ele não comete o crime.”
Se o assaltante comete o crime onde a Polícia não está, ele está no lugar certo, a Polícia no lugar errado.
O comandante, quando põe de lado as frases de efeito, em apenas duas palavras toca no cerne do problema: impunidade e reincidência. Causa e efeito.
Mas ele o afirma com timidez, o que mostrar o constrangimento a que o politicamente correto submete a sociedade brasileira contemporânea.
É o que preserva o código de porta de cadeia, cuja mudança, essencial para que pudesse migrar ao átrio dos fóruns, ninguém pede.
É mais fácil, parece, processar jornalistas.

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