quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

O quorum dos canalhas - Jayme Copstein

As absolvições do deputado federal Romeu Queiroz, réu confesso de manejo de 450 mil reais de origem escusa, e do deputado estadual do Ceará, José Nobre, envolvido nos dólares do cuecão, conduzem à reflexão do equívoco a que a opinião pública foi induzida no impeachment de Fernando Collor de Mello.
Havia motivos de sobra para cassar Collor, mas também eles existiam, sim, para extinguir com desonra os mandatos de Queiroz e de Nobre. A única conclusão a que se chega é que o “caçador de marajás” não contou com número suficiente de canalhas para lhe assegurar a impunidade.
A absolvição de Queiroz e de Nobre ultrapassa qualquer dimensão imaginável de falta de pudor. Na Câmara Federal, fazendo pose de imparcialidade, a presidência da Casa fechou convenientemente os olhos para a escancarada “boca de urna” em favor de Queiroz. Na Assembléia Legislativa do Ceará, seis cúmplices anularam o voto, o sétimo votou em branco, para deixar escapar por um voto o irmão de José Genoíno.
Pairando sobre este espetáculo máximo de indecência, a cordura da população, capaz de provocar um terremoto se o juiz de futebol anula o goal do seu time, mas assiste a tudo como se ocorresse em algum nebulosa remota.
Que diabo de país é esse?

Um comentário:

  1. Anônimo1:51 AM

    PROMETEU E EPIMETEU

    Antonio Augusto Castello Costa

    Prometeu foi o libertador do homem. Deu-lhe o fogo e com ele as habilidades de forjar os metais.
    Seu irmão Epimeteu era o oposto de Prometeu. Interessava-lhe o presente: o aqui e o agora.
    Zeus, enciumado, mandou-lhe um presente: a Caixa de Pandora. Prometeu o recusou.
    Mas Epimeteu aceitou. Ao abri-la, liberou todos os males que castigam a Humanidade. Os males não eram evidentes. Revestiam-se de beleza, sedução, graça e eloqüência. O mal não desvenda a sua face. Apenas a esperança, permaneceu no fundo da caixa. Enfim, quando os males nos atingem ela é o derradeiro refúgio.
    Não é por nada que a mitologia grega inspira as artes e as ciências.
    Há povos guiados por Prometeu e outros por Epimeteu.
    Vivemos uma fase de Epimeteu.
    Ela atinge o seu clímax. A decisão será nossa, ao final? Antes, competiria aos nossos representantes, às instituições, aos partidos e às lideranças formais optarem por um dos dois mitos.
    Uma visão panorâmica mostra uma clara preferência por Epimeteu.
    Destaco três coadjuvantes. Dilma chora ao entregar os arquivos da ditadura. Logo depois a guerrilheira emotiva recupera sua imagem severa. E decreta: não nenhuma irregularidade no relatório da CPI dos Correios. Porque e para que Dilma lutava? As declarações de Dilma desmoralizam a guerrilha. Vem o jurista emérito. Da Justiça é ministro. Marcio T. Bastos se dedica a generalizar o crime que qualifica de transgressão menor e desculpável. Desvenda o perfil autoritário do seu Presidente. O mais autoritário da nossa história, incluindo a Monarquia e a República. Finalmente, uma figura ímpar: Aldo Rabelo. Reportagem recente o descreve como um político sem inimigos. Mas, também, sem um único e solitário amigo. Mas lá está para cumprir o seu papel. O pior que jamais recebeu: ocultar, justificar, ensejar a impunidade.
    Eis ai Epimeteu. Importa aos três o momento. Nem respeitam seu passado, nem medem a conseqüência danosa de seus atos e palavras. Mas, finalizo com uma dupla de exceção: Lula e Duda. Um desejava o Poder. Outro mirava 30 milhões de reais. Conseguiram. O primeiro nada sabia o que fazer com o Poder. Ao segundo, como iria receber o seu butim. Os dois piratas não se arrependem. Um deles se arvora terra a dentro proclamando suas virtudes.
    Por um milhão de delúbios e valérios. Os predadores tomaram conta. Epimeteu vence.

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