É patética a realidade desenhada pelo delegado Eduardo de Oliveira César, titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Porto Alegre, Rio Grande do Sul: 90% dos delinqüentes presos em 2005 foram soltos, não mais com sentimento mas com plena certeza da impunidade.
A reportagem está na Zero Hora de hoje. O delegado queixa-se da dificuldade de provar a culpa de ladrões e receptadores, mas os exemplos que fornece para fundamentar sua argumentação dizem respeito às deficiências da estrutura de prevenção e repressão ao crime no Brasil.
Esta estrutura é herança do regime militar. O papel da velha Polícia, que todos conhecíamos, admirávamos e amávamos, de se responsabilizar pela segurança do cidadão, foi deturpado para que pudesse servir à segurança do Estado.
Ao lhe dar funções judiciárias, a ditadura dissimulou as arbitrariedades da repressão política que, em certos momentos, baixou até o nível da delinqüência comum. Foi quando, tal qual uma Gestapo ou uma KGB dos trópicos, a velha Polícia desaprendeu a arte de investigar e se especializou em métodos de arrancar confissões e acomodar provas.
Não se precisa dizer que, em uma democracia, uma Polícia assim anacrônica não tem muito o que fazer. Mas como na cabeça dos governantes, cidadão só serve mesmo é para votar – criar os juizados de instrução, equipar a Polícia e treinar os policiais não são obras que se possa exibir nas campanhas eleitorais. Nem superfaturar para recompensar os amigos do peito.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2005
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