Há qualquer coisa que não fecha na absolvição do deputado Romeu Queiroz, réu confesso da manipulação de 400 mil reais, de origem escusa, para fins eleitorais. Compare-se com o motivo alegado para se cassar o mandato do senador João Capiberibe: deu a fortuna de 52 reais a um casal, para comprar duas passagens de ônibus.
Pode-se contra-argumentar que os dois casos são diferentes. Uma diferença brutal, convenhamos, que tem como acréscimo o dedo de José Sarney, o condestável do Amapá, prestes a ser ejetado do trono por Capiberibe;
Há outras estranhezas, porém. Em determinado momento, a onda do mensalão arrefeceu. Foi quando Roberto Jeferson, o papa do neomoralismo, em súbito acesso de generosidade derramou indulgências plenárias a José Dirceu.
Os bastidores de tão comovente religiosidade escaparam à cobertura da imprensa. O que vem a furo são miudezas, diz-que-me-diz-que. Mas José Dirceu, por esperançoso, até estourou sua verba de gabinete para se movimentar na cabala de votos contra a cassação.
Em vão. Ícone como Jéferson, ou boi de piranha, os dois foram o preço para salvar o resto da tropilha. A começar por Romeu Queiroz, do PTB de Jeferson, absolvido ontem. Antes mesmo de começar a sessão que o julgou, contabilizava fartura de adeptos da sua inocência, inclusos aí 50 dos 81 deputados do PT de Dirceu, que como todos sabemos, é o partido da ética na política, como jamais houve na história deste país.
Ora, em um Congresso onde Sarney é gênio literário, não se fale em Shakespeare nem na Dinamarca. A podridão – e botem podridão nisso – é no reino do mensalão.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2005
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