quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

A marca do Sorro - Jayme Copstein

Mal atarrachada no rosto, a máscara com que Aldo Rebelo se disfarçara de cordeiro, ao assumir a presidência da Câmara Federal, esborrachou-se com sua negativa recente de que o mensalão tenha existido.
É verdade que Rebelo tem dificuldades com a semântica. Sua iniciativa mais notável, como parlamentar, foi o ridículo projeto para ejetar do dicionário as palavras de origem estrangeira, que não entendia.
Apesar da montanha de indícios e provas, demonstrados com fartura pelo relator da CPI, Osmar Serraglio, como não é possível apurar o dia, a hora, o minuto e o segundo exatos em que o dinheiro da batota era pago, Rebelo simula não perceber que “mensalão” é gatunagem pura e não “salários não contabilizados”.
Faça-se justiça ainda que tardia. O deputado gaúcho, Alceu Collares, acusado de oportunista e demagogo, teve razão quando argüiu a falta de autoridade moral de Rebello para presidir a sessão que cassou José Dirceu.
Rebello fez um discurso indignado, sob os aplausos delirantes até da oposição. Mas sua atuação posterior, quando a Câmara enodoou a história política do país, absolvendo Romeu Queiroz, com direito a boca de urna e a cédulas previamente marcadas com “não”, mostra que por trás da máscara de cordeiro, havia não um lobo das estepes, mas um brasileiríssimo sorro manso.

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