Ao que considerou excesso de alguns jornalistas em criticá-lo por ter votado no julgamento do hábeas pedido por José Dirceu, o presidente do STF, ministro Nelson Jobim, respondeu com outra demasia: disse que os idiotas haviam perdido a modéstia.
Ora, desde que prestem atenção ao noticiário dos jornais, até mesmo verdadeiros idiotas – não os que foram promovidos à categoria pelo ministro irado – sabem que não há ilegalidade nem imoralidade no voto do presidente do STF em questões importantes. Não é usual, mas é um direito que lhe cabe e que exerce ou não, com independência e segundo sua vontade. Este é um país livre.
Não foi o criticado, porém, na atuação do ministro. Aqueles jornalistas tiveram em mente iniciativas de Jobim no terreno político-partidário. A imprensa já publicou à farta, sem nenhum desmentido formal, que ele concerta uma aliança com o Planalto, para candidatar-se a vice-presidente na campanha de Lula à reeleição.
Nestas circunstâncias, onde está a idiotice e a falta de modéstia em se estranhar a disposição para votar o habeas de um correligionário e amigo chegado do futuro aliado?
Afinal de contas, este é um país livre – supõe-se – também para jornalistas.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2005
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O JOBIM QUE QUERIA SER JOBIM
ResponderExcluirAntonio Augusto Castello Costa
Raros políticos foram tão promissores quanto o Deputado Federal Walter Jobim. Orador convincente, personalidade e simpatia marcantes, posições equilibradas e capacidade de liderança.
Prestigiado, de Ministro da Justiça alcançou, jovem ainda, por indicação do Presidente Fernando Henrique, a toga de Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Jobim lá chegava como Jobim. Aos poucos, o cargo começou a pesar. Não era uma tribuna da Câmara dos Deputados. Cada palavra, gesto ou atitude deveria obedecer aos rigores da investidura, a precisão do verbo e a fleugma própria dos que usam longas vestes: padres e juizes.
Jobim ficou no meio do caminho. Assim, qualidade de um “idiota que perdeu a modéstia” posso, tranquilamente, lembrar ao Ministro que nada li nada contra a sua faculdade de votar. O idiota desavergonhado ( em companhias ilustres como a de Miguel Realli) apenas viu confirmada a tese que ilustre ministro não é bom em contas de somar e médias aritméticas. Veja: se houve empate e o ministro Sepúlveda acompanhou o seu voto o resultado seria favorável a José Dirceu por 6x5. Errou na primeira contagem, ou nesta? Já sei: o voto do ministro Pelluzo continuou o mesmo, mas, convenientemente, mudou de coluna. Antes do seu voto, ficou um placar de 6X4.
Então pode manter o seu voto, mudando a decisão. Aparentemente, satisfez a todos. Mas acho que nunca chegará ao Jobim que imaginava ser um dia.