O jornalista Sérgio Reis, sugere acréscimos à afirmação ( em “Imagina, Cara!”, coluna de ontem) de que o regime militar cassou Cândido Norberto para impedir a eleição de Ruy Cirne Lima ao Governo do Estado: “Cândido foi cassado para que ‘fosse eleito’ governador o Peracchi Barcelos”.
Sérgio tem razão no acréscimo porque delimita a fronteira em que o Movimento de 1964 – um contragolpe, como defendeu o historiador Hélio Silva – evoluiu para uma reles ditadura.
Ninguém podia levantar nada contra a integridade e a capacidade de Cirne Lima, jurista, professor universitário, escritor e jornalista, mas o regime mudara e impusera regras eleitorais estritas, para poder “nomear” a seu bel-prazer os governadores estaduais. No Rio Grande do Sul, o quinhão estava destinado a Walter Peracchi Barcellos, coronel da Brigada Militar, homem da “Revolução”.
Com toda a certeza, Cirne Lima seria o vencedor, não só com os votos da oposição, maioria na Assembléia, mas também com os de vários deputados governistas. Era uma questão de currículos e Peracchi não desfrutava de simpatia nem mesmo entre seus correligionários, o que, aliás, lhe valera fragorosa derrota para Leonel Brizola, disputando a mesma governança, alguns anos antes.
A cassação de Cândido e de outros deputados permitiu a Peracchi Barcellos governar o Rio Grande do Sul, mas castrou a política brasileira. Mem de Sá, então ministro da Justiça, outra grande figura da vida pública, deixou o governo em protesto. Raul Pilla renunciou ao mandato de deputado federal com memorável discurso de despedida da vida pública que deveria ser oferecido aos jovens em nossas escolas como uma cartilha de altivez e coragem.
A mesma altivez e a mesma coragem faltaram ao parlamento brasileiro e a toda a oposição para se autodissolver e retirar a legitimidade ao regime. Teria sido bem mais eficaz para derrubá-lo que fazer correr o sangue generoso da juventude, com o único objetivo de substituir uma ditadura por outra.
O Brasil nunca mais foi o mesmo depois daquele dia. Os grandes personagens, que faziam a História do país com H maiúsculo, saíram de cena, abrindo-se espaço para a fauna de aventureiros, oportunistas e aproveitadores, sobre os quais é escusado qualquer comentário porque é de todos conhecida.
Não terá sido este o maior crime que se cometeu contra a nacionalidade?
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
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