terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

E daí? - Jayme Copstein

A Câmara Federal acaba de aprovar mais uma ridicularia, a proibição do “trote violento ou vexatório” nas universidades brasileiras. Tanto um quanto o outro já são proibidos pela legislação penal, dentro ou fora das universidades.

E daí?

Como todo o universo das infrações, da mais leve à mais grave, estão também sob a proteção da única lei realmente abrangente e vigente Brasil, a da mais absoluta impunidade.

É mais papel, é mais palavrório, é mais desfaçatez para esconder a realidade dos grandes gatunos e até assassinos, aboletados nas tetas do poder e fora do alcance da lei.

Já não se dão sequer ao trabalho de simular desaforos, quando acusados frontalmente, como aconteceu recentemente, ao serem desmascarados pelo senador Jarbas Vasconcellos. A rotina são essas inutilidades atrás das quais se acobertam, desviando a atenção para outros alvos.

Alguém da imprensa deplorou uma falha da nova “legislação”: obriga os reitores das universidades abrir inquéritos – os “rigorosos”, que todos conhecemos – e punir os responsáveis, sem prever punição para que os que deixarem de fazê-lo.

Ora, a omissão desses reitores em comunicar a ocorrência às autoridades policiais – porque caso de Polícia é – já significa acobertamento, cumplicidade e obstrução da Justiça em qualquer país civilizado. Não era nisso, porém, que os deputados estavam pensando, quando duplicaram tanto a proibição como a impunidade.

Desenvolvimento indígena

Um intelectual engajado em causas politicamente corretas acaba de se surpreender com a inédita descoberta de que indígenas não tem em seu idioma nativo a palavra “desenvolvimento”.

Como teriam, se o que entendemos por desenvolvimento, organização da atividade econômica, crescimento, é passo adiante que os haveria de tirar idade da pedra onde esses povos são mantidos, como espécimes vivos de um museu antropológico por religiosos e ingênuos, ou como massa de manobra pelo velho imperialismo.

Que se dê uma faca a um índio para ver se ele ainda há de querer cortar qualquer coisa com os dentes. Ou uma enxada – nunca mais ele irá usar as mãos na escavação da terra. Eles acabarão incorporando em seu idioma o vocábulo “desenvolvimento” tal como é dito na língua de quem lhe transferiu a tecnologia.

Não há nenhum crime em transmitir conhecimento a esses povos. Além de fortalecê-los para que se defendam de seus exploradores, em nada impede que preservem sua cultura.

Há exemplos de sobra em cada recanto do mundo. Os ciganos nem ao trocarem suas carroças por caminhões, deixaram de ser ciganos. Budistas e judeus cultuam suas respectivas religiões como já o faziam há mais de dois mil anos. Os muezins já não sobem mais ao topo dos minaretes para proclamar a grandeza de Alá – o microfone e a amplificação poupam-lhes a garganta e a escalada.

Nem por isso deixaram de ser ciganos, budistas judeus ou islâmicos.

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