Idéias não são metais que se fundem. Érico Veríssimo detestava a frase de Silveira Martins, com toda a razão: a única utilidade dos metais é a sua fusibilidade. Sem ela não serviriam de nada. Seriam meros seixos a ornamentar jardins ou a arrombar vidraças, dependendo do uso ou destinação que se quisesse dar.
O dr. Anis Kurban remete mensagem sobre o conceito de “desproporção”, expressado por este colunista na semana passada: “Permita que me reporte a Vossa Senhoria para lembrar-vos que as vossas opiniões externadas sobre a "manipulação" das baixas dos palestinos em Gaza são muito semelhantes as dos revisionistas e até negacionistas do Holocausto (eles também alegam montagem fotográfica e aumento no número de vítimas, os famosos cabalísticos 6 milhões!).”
O colunista poderia dizer, mas não o faz, que dr. Kurban parece decepcionado porque a granada do morteiro não caiu na escola da ONU e não fez o número de vítimas que as primeiras notícias noticiaram com grande destaque. Seria uma opinião, tal como o dr. Kurban faz quando põe dois adjetivos qualificativos – “famosos cabalísticos” – ao se referir aos números do Holocausto.
Ele está equivocado porque o colunista não opinou sobre o número das vítimas do suposto bombardeio da escola. Neste particular, limitou-se a divulgar o desmentido do coordenador de ajuda humanitária da ONU, Maxwell Gaylord, de que a escola não fora atingida.
O colunista opinou, isto sim, sobre a diferença entre as manchetes da primeira notícia e a discrição do desmentido. Há poucos dias, houve jornais – não todos – que publicaram a retificação de Gaylord em páginas internas. A televisão simplesmente o omitiu. Salvo melhor juízo, configura-se aí absoluta desproporcionalidade.
Em que o colunista não vê nenhum sentido é trazer o conflito para o Brasil, onde todos nós, imigrantes e descendentes de imigrantes árabes e judeus, vivemos em paz. Ninguém se iluda com a exaltação de certas solidariedades que põem a Sinagoga em primeiro lugar na alça de mira. Há lugar reservado, também, para a Mesquita e para a Igreja. A ordem com que são dispostas nesse “paredón” depende dos interesses eventuais de quem hoje incendeia o Oriente Médio.
Isso também é uma opinião. Espero que o dr. Anis Kurban, a cuja mensagem agradeço, dela compartilhe.
No país da impunidade
Batem boca a presidência do DEM e o deputado Edmar Moreira, cuja expulsão do partido eram favas contadas no dia de ontem. Velho conhecido da opinião pública desde o mensalão (foi absolvido, como todos os outros, exceção de Jefferson e José Dirceu), Moreira apega-se ao conceito de “discriminação pessoal”, e muda de partido para preservar a cadeira na Câmara Federal.
Sua expulsão justificada por conduta desabonatória – sonegação de imposto de renda, apropriação das contribuições de seus empregados à Previdência Social – devolveria o mandato ao DEM. Mas Edmar Moreira não sofrerá nenhuma sanção até esgotar os 65 recursos que tem à sua disposição para provar a influência da camisa listrada nas auroras boreais.
Não fosse este o país da impunidade, já estaria correndo processo de cassação deste deputado, em nome da moralidade para cujo zelo, com tal currículo, a própria Câmara o elegeu corregedor.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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