quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O sentido das palavras - Jayme Copstein

Ontem, nos Guerrilheiros da Notícia, o programa diário de Flávio Alcaraz Gomes na TV Pampa, um telespectador queixou-se da resposta “destemperada” do jornalista Antônio Carlos Baldi à sua afirmação de que Israel deveria ser banido do Oriente Médio. O telespectador exigia o cumprimento das resoluções da ONU, na melhor das hipóteses sem saber do que tratam, isso para não lhe atribuir a prática da meia verdade para dar consistência às suas acusações.

Se a primeira das resoluções referidas pelo telespectador é a partilha da região em dois Estados, um judaico, outro arábico, quem não reconhece sua legitimidade não tem como exigir o cumprimento das demais resoluções, votadas como conseqüência da primeira e sem revogá-la.

Dentro deste contexto, Antônio Carlos Baldi disse que a exigência era uma tolice. O telespectador reagiu com veemência, porém com a intenção clara de desviar o foco do essencial. Ao alegar desproporção da resposta do jornalista, não vai mais discutir os fatos, mas a “truculência” do antagonista.

Nestes últimos dias, tenho pensado bastante sobre o sentido desta palavra “desproporção”, subitamente trazida para cena por militantes políticos dentro da mesma tática de tirar de foco o essencial. O Hamas bombardeava Israel apenas com foguetes “caseiros” – modelo fabricado pela indústria bélica soviética nos anos 70 – os israelenses “massacravam inocentes em uma escola da ONU em Gaza”, conforme as manchetes da imprensa mundial.

A conta era terrível – 43 mortos, dezenas e dezenas de feridos. O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon perfilhou a versão de que as tropas israelenses haviam sido avisadas sobre a escola ter se transformado em refúgio de civis, e denunciou Israel por crimes de guerra.

Pois no início desta semana, o jornal “The Globe and Mail”, do Canadá, publicou com destaque declarações de Maxwell Gaylord, coordenador de ajuda humanitária da ONU com sede em Jerusalém, admitindo que o bombardeio havia ocorrido em ruas próximas da escola, mas ela não havia sido atingida e nenhum dos alunos ou civis nela refugiados haviam sequer sido feridos.

Um professor, entrevistado por “The Globe and Mail” disse que três alunos mortos nos bombardeios, tinham saído da escola e estavam na rua, mas que não pôde esclarecer a questão porque alguém da ONU lhe recomendara que não falasse à imprensa.

Esta matéria foi publicada na segunda-feira e foi repercutida pelo jornal israelense na terça-feira. Tenho procurado em todos os jornais brasileiros, não vi até ontem uma linha a respeito. Não ouvi uma frase no rádio ou na tevê.

Comparo o ruído daquelas manchetes, contra as quais não protestei, com o silêncio deste desmentido, que não exijo, apenas comparo, repito. Confesso-me absolutamente incapaz de reconhecer qualquer significado na palavra desproporção. Assalta-me a dúvida, também, se devo mudar o sentido que atribuía a palavras como honestidade, decência e dignidade.

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