No início dos anos 50, quando faleceu Antônio Amabile, o Piratini, Cândido Norberto prestou-lhe comovedora despedida. Substituiu “Pensando em voz alta”, seu contundente comentário diário na Rádio Gaúcha, por um amoroso recado ao amigo, contando “o boato que corria pela cidade”.
“Imagina, ‘Gringo’” – começava o Cândido – disseram que tu morreste”... E descreveu os funerais, com os discursos, as lágrimas da família, dos amigos, e contou da solitária rosa, depositada por uma velhinha da Casa do Artista Rio-Grandense, fundada por Piratini. E concluiu: “Imagina, Gringo, disseram que tu morreste, mas eles não sabem que pessoas como tu não morrem jamais. Vivem para sempre no coração da gente”.
Já naquela época, com muito futuro ainda a percorrer – não completara sequer os 30 anos de idade – Cândido já inscrevera o nome na história do rádio do Rio Grande do Sul, pelo pioneirismo, tanto o jornalístico do “Pensando em voz alta” como por introduzir na Rádio Gaúcha a primeira equipe de redatores profissionais para escrever a programação e a publicidade.
As agências de publicidade e os cursos de comunicação social decretaram a obsolescência daqueles “produtores”, como eram chamados, mas a visão de que o veículo necessitava de aprimoramento intelectual para cumprir o seu papel tem sua assinatura na primeira página.
Logo em seguida, Cândido ingressou na política, e de novo pôs a sua marca, na defesa da cidadania, levando para o mandato de deputado estadual a inteligência contundente, a sinceridade de seus propósitos e uma agilidade mental que jamais se viu em outro político gaúcho. Incontáveis e notáveis os seus apartes nos desmascaramento de hipocrisias, como foi por ocasião do assassinato de quatro manifestantes comunistas, em manifestação de 1º de Maio, na cidade do Rio Grande.
"A Polícia, em legítima defesa, atirou para o ar”– defendia o líder do governo na Assembléia. “Neste momento quatro trabalhadores passaram voando...”, atalhou Cândido, fazendo o líder calar e sentar, após resmungos ininteligíveis.
A trajetória política de Cândido interrompeu-se três mandatos depois, quando o regime de 1964 evoluiu para uma reles ditadura, através de golpes sucessivos, e era preciso cassar deputados para impedir a eleição de Ruy Cirne Lima ao Governo do Estado.
Ainda que isso o tivesse afetado pela impossibilidade de reagir, voltou ao rádio com o mesmo desassombro e de novo deixou a sua marca, criando “Sala de Redação”, a semente do radiojornalismo de qualidade que o Rio Grande do Sul ostenta atualmente.
Por essa época,um assaltante que lhe apontou o revólver, quando parou no sinal em uma esquina da Avenida Ipiranga, deu-lhe o melhor atestado de probidade e honradez que alguém possa obter. Ao reconhecer Cândido, fez um gesto ao comparsa, do outro lado do carro, e disse: “Para tudo! Este é cidadão!” E foram embora os dois
Todas essas coisas, por mim sabidas e testemunhadas – fui seu amigo, o primeiro redator daquela equipe de produtores e emissário de Alberto André para lhe levar a solidariedade da Associação Riograndense de Imprensa quando foi cassado – , passaram-me pela cabeça quando li ontem de manhã, a notícia do seu falecimento. E não acreditei.
Imagina, Cândido. Disseram que tu morreste, mas eles não sabem que pessoas como tu não morrem jamais. Vivem para sempre no coração da gente.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
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