quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Nostalgias - Jayme Copstein

Os jornais noticiam, com alguma precipitação, o fim da dentadura postiça com a descoberta de um gene que controla a produção do esmalte dentário. Não duvido, como também não faço pouco de algum poeta, comovido com a extinção da espécie, decidido a escrever uma ode à dentadura da vovó.

Não pensem que estou ironizando. Até o digo com o máximo respeito. Sou do tempo em que todas as vovós era acrobatas com suas dentaduras, jogando-as no ar e as apanhando na boca com precisão milimétrica. Com um pouco de imaginação e de sonoplastia, poder-se-ia ouvir até o “clic” do encaixe.

Já era um progresso, apesar do sorriso alaranjado, quando não vermelho-pimenta. Feitas de vulcanite, o mesmo material dos pneus, era tingido com um corante que relutava em não ser rosa como as gengivas, talvez por homofobia.

Antes disso, rezam crônicas coloniais, havia um escravo-artesão, cujo nome não lembro, oferecendo aos domingos, na porta da igreja, dentaduras esculpidas em osso. As pessoas as experimentavam ali mesmo, até encontrar uma que melhor se adaptasse ao seu sorriso.

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