quarta-feira, 7 de julho de 2010

As mulheres e a Presidência – Jayme Copstein

Esta é a primeira eleição presidencial em que duas mulheres – Dilma Roussef e Marina Silva – candidatam-se à Presidência da República e são levadas em conta pelo eleitorado. É também a primeira vez em que uma delas – Dilma - tem chances concretas de se eleger. Desde já as pesquisas de opinião mostram que a votação de Martina será significativa.

Da outra vez em que aconteceu – 2006, Heloísa Helena (PSOL) e Ana Maria Rangel (Partido Republicano Progressista) – só Heloísa Helena ganhou votação consistente. Em compensação, Ana Maria foi a primeira a ter também uma mulher como candidata a vice-presidente: Delma Gana e Narcisi.

A eleição de 2010 mostra a presença da mulher tomando corpo na política. É também a primeira vez que se registram candidatas em eleições consecutivas. Lívia Maria Ledo Pio de Abreu concorreu em 1989 pelo Partido Nacional e Thereza Tinajero Ruiz, pelo Partido Trabalhista Nacional em 1998. Só homens concorreram em 1994 e 2002.

A trajetória da mulher na política brasileira é consequência de que só depois de 1932 o direito ao voto a elas foi estendido; Antes, elas não existiam para a legislação eleitoral;

As pioneiras na luta pelo voto feminino foram as irmãs Virgilina e Anelina de Sousa Sales, em 1914, através da sua "Revista Feminina". Quem deu corpo ao movimento, foi a paulista Berta Lutz, fundadora e presidente da Liga de Emancipação Intelectual da Mulher.

Obtido o direito de voto, as mulheres candidataram-se à deputação, pela primeira vez, quando se realizaram as eleições para a Assembleia Constituinte de 1934. Elegeu-se uma mulher, também paulista, a médica Carlota Pereira de Queirós, responsável pela incorporação dos direitos eleitorais femininos na Constituição de 1934. Quanto à pioneira Berta Lutz, com ela cumpriu-se o velho ditado: o bom bocado não é para quem faz. Só bem depois é que conseguiu eleger-se deputada, perdendo a primazia que lhe cabia por mérito.

Primeiras damas

Dentro deste contexto histórico, tem restado às mulheres, até agora, o papel de coadjuvante, como esposas de Presidente – a Primeira Dama. De maneira geral, foram pessoas comedidas, vivendo à sombra dos maridos.

A campeã da discrição é com toda a certeza a atual, Mariza Letícia da Silva, da qual se conhecem apenas poucas frases que não revelam muito a seu respeito. A mais culta e brilhante, sem dúvida alguma, foi Ruth Cardoso que se valeu da posição para desenvolver programas sociais, sem tentar interferir nos rumos do Governo.

Duas se destacaram pela filantropia: Darcy Vargas, mulher de Getúlio, e Sara Kubistchek, mulher de Juscelino. A mais alegre foi Nair de Teffé, segunda mulher de Hermes da Fonseca, por sinal a primeira chargista da imprensa brasileira.

A que mais se destacou por interferir na política foi Ana de Castro Belisário Soares de Sousa, a Anita, esposa de Nilo Peçanha. Não tinha papas na língua. Quando se tratou da sucessão presidencial de 1914, preterido por Venceslau Brás que surgiu como candidato de conciliação, Pinheiro Machado zangou-se. Acusou Nilo da manobra: "Houve o dedo do Nilo. Hei de cortar a cara desse moleque a chicote", disse para quem quisesse ouvir.

Quando Anita soube disso, revidou na hora: "Digam ao Pinheiro que eu quebro o guarda-chuva na cabeça dele." Só não quebrou porque nunca mais se encontrou com ele.

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