As pessoas têm me perguntado sobre este caso de violência sexual de Florianópolis, envolvendo crianças recém-entradas na puberdade. Percebo que não estão realmente interessadas no que aconteceu, já narrado de sobra na Internet e também em noticiário de jornal, rádio e tevê, mas em versões que lhes permitam formular opiniões segundo se identifiquem com as famílias dos agressores ou da vítima. Houve até quem reclamasse do meu "silêncio", e a ele atribuindo razões equivocadas que aqui não reproduzo por respeito aos leitores.
Não me lembro, ao longo do exercício profissional, mesmo antes da proibição legal de identificá-los, ter alguma vez esmiuçado delitos praticados por menores. Tenho isso, sim, manifestado minha simpatia pelo sistema inglês que os julga como se fosse adultos, a partir dos 11 anos de idade, os faz cumprir medidas socioeducativas até a maioridade e, então, suspende – não extingue, como aqui – a execução da sentença. Se tornar a delinquir, volta a ser recolhido, agora, sim, em prisão de adultos, para cumprir o resto da pena. Acabaria com o sentimento de impunidade que tem parcela importante na delinquência juvenil.
Como eu não mudaria de opinião, ainda que se tratasse de meus próprios filhos, não tenho por fazê-lo em relação a este caso de Florianópolis, mesmo nutrindo afeto especial por membros da família de um dos envolvidos. Mas não deixo de externar a eles a minha solidariedade, a mesma que os amigos de Pelé lhe hipotecaram quando seu filho envolveu-se em atividades ilícitas.
Ninguém estava aprovando a conduta criminosa do rapaz quando aplaudiu a grandeza de Pelé solidário ao filho, mesmo tendo ele lhe posto na boca, para que emborcasse até o fim, um cálice de fel. É nesse momento que se conhece a dimensão de alguém. Da mesma maneira que se mede a dignidade de quem fica à espreita de brechas para dar vazão aos seus recalques ou servir a interesses outros.
Que pena que as paredes não falam. No velho Correio do Povo, fui testemunha de um ato de grandeza que merecia ser contado e recontado em cada aula do curso de jornalismo, como lição de ética.
Em determinado momento, alguém ligado à ditadura militar, trouxe como furo jornalístico o envolvimento de um familiar de Leonel Brizola em ocorrência policial, aliás, repetido posteriormente, quando foi governador do Rio de Janeiro.
Brizola, ao tempo em que ocupara o Palácio Piratini, teve graves desentendimentos com a velha Caldas Júnior. Foi uma guerra feroz, e os arroubos de sua juventude foram responsáveis por alguns excessos dos quais ele não tinha motivos para se orgulhar.
Sobrevindo o regime militar, Brizola no exílio virou saco de pancadas, sem condição de revidar. Mas havia dentro da Caldas Júnior a máxima de que não se tripudiava sobre o vencido. O mensageiro do suposto furo de reportagem saiu com o rabo entre as pernas, quando lhe foi dito, com todas as letras, que os jornais de Breno Caldas não desciam a tais baixezas.
Brizola soube do incidente. Quando voltou do exílio, ao visitar o Correio do Povo, cumprimentou Breno Caldas com esta frase: "A Neusa me disse que não deixasse de visitar o dr. Breno." E mais não disse, ficando tudo subentendido.
Breno Caldas tinha estatura. Nem todos a têm.
Nenhum comentário:
Postar um comentário