quinta-feira, 1 de julho de 2010

O drible – Jayme Copstein

Não gosto quando a ideologia sai dos púlpitos e dos palanques para se imiscuir na busca do conhecimento e castrar a curiosidade que tirou o homem das cavernas e o pôs nesta civilização ainda prodigiosa de hoje. E digo ainda prodigiosa porque amanhã ela não o será mais diante da infinidade de coisas que ainda descobriremos e ficarão por serem descobertas.

Vai daí que me soa como asneira quando alguém contrapõe a ciência "oficial" àquela outra, encaixada no "politicamente correto" e que serve tanto para defender posições de poder (as nossas) como para contestá-las (as deles). Só resultam mitos porque dialética, na cabeça travada de militantes, só pode gerar coisas como ser o flato o grito de protesto das massas fecais oprimidas.

A piada corria no meu tempo de Universidade, atribuída a Aporelly, mas acabou desaparecendo do repertório porque sendo ele homem de esquerda, não podia ser autor de piada tão politicamente incorreta. Há poucos dias, porém foi apresentada com toda a seriedade na Globo News a professora de uma universidade carioca, defensora da tese de ter sido o drible no futebol uma invenção do negro brasileiro na sua luta contra a escravidão.

É difícil saber o que esta senhora andava estudando, se a escravidão ou o futebol, ou os dois ao mesmo tempo, quando chegou a tão brilhantes conclusão. Ou se apenas atendeu a pedido do apresentador, ele sim, autoridade em futebol, para "esquentar" o programa.

A primeira pergunta que cai de madura é por que a palavra "dribble" é inglesa e não africana, como seria o caso. Haveria considerações de outra ordem, pois quando o futebol surgiu, a escravidão já fora abolida no mundo ocidental onde ele se popularizou como esporte. Caberia perguntar, também, porque negros escravos em outras paragens da América, da própria Europa e particularmente do mundo islâmico, não desenvolveram, como os nossos, a arte de "fintar" que seria a palavra genuinamente portuguesa correspondente ao "to dribble".

Não fosse a obrigação da interpretação dialética e politicamente correta, o apresentador da Globo News e seus convidados fariam mais bonito se tivessem buscado a origem do "drible" brasileiro na ginga da capoeira, esta sim, criação genuína do escravo brasileiro, transplantada para o futebol quando os nossos negros tiveram a ele tiveram acesso.

Ditos e Achados

Falando dos gaúchos, Auguste Saint-Hilaire, viajante francês que aqui esteve entre 1820 e 1821, escreveu sobre a nossa culinária, em "Viagem ao Rio Grande: "Verifiquei logo os hábitos carnívoros de seus habitantes. Em todas as estâncias vêem-se muitos ossos de bois espalhados por todos os cantos e, ao entrar nas casas de fazendas, sente-se o cheiro de carne e de gordura. Em toda parte servem-nos refeição logo à chegada; cardápios compostos unicamente de carne, de galinha e de vaca, sob diversos feitios, assada, cozida ou guisada. Nunca nos ofereceram hortaliças. salvo em Barros, onde comi excelente prato de nabos".

Também sobre os costumes, observou: "Encontrei modos distintos em todas as pessoas da sociedade. As senhoras falam desembaraçadamente com os homens e estes cercam-nas de gentilezas, sem contudo demonstrarem empenho ou ânsia de agradar, qualidade Quase que exclusiva do francês. Ainda não tinha visto no Brasil uma reunião semelhante. No interior, como já repeti uma centena de vezes, as mulheres se escondem e não passam de primeiras escravas da casa; os homens não têm a mínima ideia dos prazeres que se podem usufruir decentemente".

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