domingo, 4 de julho de 2010

O papelão da burocracia – Jayme Copstein

O jornal "O Sul" voltou a abordar ontem a doença mais crônica e maléfica deste país: a burocracia. Já nos idos de 1970, houve tentativa, comandada por Hélio Beltrão, de se simplificar a vidas das empresas e do próprio cidadão brasileiro, abolindo exigências criadas ainda ao tempo do Brasil Colônia.

Foi inútil. A imprensa da época badalou a novidade em vão. Eu próprio, alertado pelo finado Fabio Araújo Santos, então presidindo a Federasul, publiquei uma série de duas reportagens no velho Correio do Povo, sob o titulo de "Burocracia no Brasil só faz papelão".

O trocadilho do título caiu de maduro: as empresas da época eram obrigadas a tirar suas notas fiscais em cinco vias, a última das quais destinada a "estatística". Era de se supor se destinasse à Fundação IBGE, à qual cabe no Brasil a análise dos números.

Mas, não. O IBGE nada tinha a ver com aquilo. Ninguém sabia a quem cabia a responsabilidade. A montanha de papel era recolhida a um prédio da Jerônimo Coelho e ali ficava até dezembro, para ser vendida como papel velho, alegrando o Natal de alguém. Com o tempo, a quinta via foi destinada à contabilidade.

A reportagem contava outras maluquices desta espécie, algumas hilariantes, outras trágicas, inclusive a que pesa no bolso do homem comum. Para pagar os impostos corretamente e levar os negócios adiante, as empresas são obrigadas a manter caríssimas equipes de contabilistas e advogados tributaristas sagazes, encarecendo seus custos e, em consequência o preço ao consumidor.

Passados 40 anos, leio em O Sul, a manchete da página 5, edição de ontem: "Manicômio tributário brasileiro produz 34 normas por dia". Traduzindo em língua de gente, pois burocratês não é idioma deste mundo, apenas para definir besteiras como a de que determinado imposto é pago de acordo com alíquota da norma xyz e não da zyx, a burocracia brasileira impõe ao setor privado um custo estimado em 20 bilhões de reais.

Conclusão: burocracia no Brasil continua fazendo papelão.

Aparências enganam

Frase de candidato à presidência da República: "(...) Mas o carnaval da petalhada não tinha mãos a medir." Que ninguém tire conclusões apressadas. Petalhada é uma coleção de petas, de mentiras. Quem pronunciou à frase foi Ruy Barbosa, em 1919, durante a campanha eleitoral em que disputou o Governo com Epitácio Pessoa. Qualquer coincidência com campanhas mais recentes é mera semelhança, como diria Chaplin.

Por sinal Ruy estava agastado com os gaúchos e desceu a lenha em Borges de Medeiros, pois queria exigia a reforma da Constituição, Borges não a apoiava.. O trecho em questão (Mentira nº 4 – A revisão) diz:

"(...) Mas o carnaval da petalhada não tinha mãos a medir. Ainda após tantas, lá vem outra ideia genial da mascarada. É a Constituição Federal abraçada com a Constituição do Rio Grande do Sul. As duas se osculam uma à outra. São as gêmeas inseparáveis, e conclamam que comigo não querem graças; porque eu sou a revisão, e a revisão ameaça as duas do mesmo golpe. Atirei aos calungas do carro um papel do Sr. Borges de Medeiros. Não serviu. Não me quiseram. Entretanto, a figura que entrou, em meu lugar, no cortejo, levava na bagagem, como um casal de pombinhas na mesma gaiola dourada, a reforma da Constituição Federal com a reforma da Constituição rio-grandense; e as duas prisioneiras, na mesma corbelha rodante de flores de papel, ali se estão à vontade, como Deus com os anjos, entre os que votam à breca o revisionismo. Viva Baco! Evoé! Evoé, soberana Mentira".

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