segunda-feira, 5 de julho de 2010

O carnaval da petalhada – Jayme Copstein

Ontem, o tópico desta coluna, "Aparências enganam", transcrevia acusações de Ruy Barbosa a oponentes, na Campanha Presidencial de 1919. Na publicação no jornal "O Sul", misturou-se ao tópico anterior, que falava dos prejuízos que a burocracia causa ao país. Como uma coisa nada tinha nada a ver com a outra, eis o tópico reproduzido, separadamente, como deveria ter saído e também uma continuação:

"Frase de candidato à presidência da República: '(...) Mas o carnaval da petalhada não tinha mãos a medir.' Que ninguém tire conclusões apressadas. Petalhada é uma coleção de petas, de mentiras. Quem pronunciou a frase foi Ruy Barbosa, em 1919, durante a campanha eleitoral em que disputou o Governo com Epitácio Pessoa. Qualquer coincidência com campanhas mais recentes é mera semelhança, como diria Chaplin.

Ruy estava agastado com os gaúchos e desceu a lenha em Borges de Medeiros, pois queria exigia a reforma da Constituição, Borges não a apoiava. O trecho em questão (Mentira nº 4 – A revisão) diz:

'(...) Mas o carnaval da petalhada não tinha mãos a medir. Ainda após tantas, lá vem outra ideia genial da mascarada. É a Constituição Federal abraçada com a Constituição do Rio Grande do Sul. As duas se osculam uma à outra. São as gêmeas inseparáveis, e conclamam que comigo não querem graças; porque eu sou a revisão, e a revisão ameaça as duas do mesmo golpe. Atirei aos calungas do carro um papel do Sr. Borges de Medeiros. Não serviu. Não me quiseram. Entretanto, a figura que entrou, em meu lugar, no cortejo, levava na bagagem, como um casal de pombinhas na mesma gaiola dourada, a reforma da Constituição Federal com a reforma da Constituição rio-grandense; e as duas prisioneiras, na mesma corbelha rodante de flores de papel, ali se estão à vontade, como Deus com os anjos, entre os que votam à breca o revisionismo. Viva Baco! Evoé! Evoé, soberana Mentira'".

A história daquelas eleições de 1919 é curiosa. O presidente eleito em 1918, para o quatriênio até 1922, fora Rodrigues Alves que governara o país de 1902 a 1906. Já estava muito doente, mas sua candidatura e também a do vice Delfim Moreira, este com a agravante de sofrer de demência senil, resultaram de acordo em uma das muitas "pacificações" (= divisões de poder) da República Velha.

Rodrigues Alves faleceu antes de ser empossado e o alienado Delfim Moreira assumiu, governando por ele o ministro da Viação, Afrânio de Melo Franco. Novas eleições foram marcadas para 1919, como ordenava a Constituição da época. A mesma "coligação pacificadora" escolheu, por sugestão de Borges de Medeiros, o paraibano Epitácio Pessoa, tido como maleável por não ser considerado inteligente.

Ruy Barbosa, inconformado apresentou-se pela oposição. Já fora derrotado, em 1910, por Hermes da Fonseca, e em 1914 por Venceslau Brás. Maior jurista brasileiro de todos os tempos, Ruy foi convidado para chefiar a nossa delegação à Conferência de Paz de Versalhes. Recusou, acusando ser subterfúgio para afastá-lo da campanha. Tinha muito a dizer aos eleitores. De fato fez campanha vibrante, onde consta o trecho da petalhada.

Em seu lugar, para a Conferência de Versalhes, foi nomeado Epitácio Pessoa que passou todo o tempo fora do Brasil. Não fez campanha e... derrotou Ruy.

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