quinta-feira, 22 de julho de 2010

A pena do ganso na Copa da África – Jayme Copstein

Na sexta-feira passada, mais uma vez me lembrei do "velho" Archymedes Fortini, com quem convivi por mais de 15 anos na Redação do antigo Correio do Povo. Fortini foi ás de reportagem em seu tempo (idos de 1910-1920) e trazia um furo por dia, praticamente sem sair da Rua da Praia, enquanto os colegas viravam o mundo pelo avesso, mas em vão.

Certa manhã em que estávamos apenas os dois na Redação, perguntei-lhe pela "mapa da mina". Não havia segredo, conforme me explicou e relatei no livro Ópera dos Vivos: "Eram uns trouxas. Saíam correndo como bando de marrecas alvoroçadas, enquanto eu ia para a rua buscar o feijão com arroz. Se o caviar caía no prato, quebrava a rotina".

Pois me lembrei do Fortini na sexta-feira passada, ao encontrar, depois de muitos anos, o casal Hajimu e Ceci Hirano, colegas de jornalismo ainda na velha Zero Hora da Rua Sete de Setembro, antes de ser incorporada ao Grupo RBS. O casal já se aposentou das redações. Ceci, especializada em saneamento, hoje dá assessoria de imprensa a empresas e repartições do setor. Hirano encerrou a carreira de repórter fotográfico quando fechou a revista Manchete. Hoje é tradutor juramentado e se dedica voluntariamente ao intercâmbio Brasil-Japão.

Foi reencontro de abraços apertados e ruidosas manifestações de apreço como acontece entre amigos após longo tempo de ausência. E também por um segundo motivo: estávamos ali para aplaudir um "guri" que praticamente víramos crescer, o Dr. César Boeira da Silva, naquela festa empossado como presidente da Agadie, a Associação Gaúcha dos Advogados de Direito Imobiliário e Empresarial.

Quando jornalistas veteranos se encontram é inevitável a comparação das épocas. Nada sobre as vantagens ou desvantagens da pena de ganso, da máquina de escrever ou do computador, apenas sobre o que era e continua sendo notícia. Hirano me conta da Seleção do Japão, a grande surpresa da Copa da África do Sul e que só foi eliminada nos pênaltis pelo Paraguai. O goleiro Yoshikatsu Kawaguchi devia ser muito conhecido dos gaúchos. Só não é porque ninguém se deu conta de que, ainda adolescente, ele aprendeu a jogar na posição, sendo treinado pelo finado Schneider, preparador de goleiros do Esporte Clube Internacional.

Kawaguchi e outros jovens vieram a Porto Alegre em um programa de intercâmbio firmado com o Colégio Shimizu (Kiyosho), da Província de Shizuoka, onde o futebol recebe atenção especial. Vários de seus alunos têm se profissionalizado e três deles, contando Kawaguchi, integraram a Seleção Japonesa deste Mundial.

Se Hirano não tivesse me contado, não teria sabido. Ao menos os jornais que li não trouxeram uma linha a respeito. O "velho" Fortini tinha razão, quando escrevia seus textos com pena de ganso, há quase 100 anos: a rotina ainda é uma boa fonte de notícias – o furo é como o caviar que cai no feijão com arroz.

A propósito

O time do Shimizu volta a Porto Alegre na terça-feira da semana que vem e fica 10 dias no Rio Grande do Sul. São 18 atletas que vêm acompanhados do treinador Masayoshi Otaki, por sinal também professor de Contabilidade do educandário. Cumprem programa que inclui jogos com equipes do Grêmio, Inter, São José, Juventude e SER Caxias.

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