Leitores me chamam a atenção para o que lhes parece semelhança entre os crimes do cineasta Roman Polanski e do religioso Roger Vanheluwe, ex-Bispo de Brugges (Bélgica), e também sobre a diferença de tratamento que a mídia deu aos dois casos.
Por mais insistências que receba, não tenho como me arvorar em juiz das pessoas e da mídia na cobertura dos casos específicos, não porque me sobre a religiosidade do "como julgares, assim serás julgado", mas por me faltarem dados essenciais para a análise correta. Tudo que sei é o que todos leram nos jornais e na Internet, ou ouviram no rádio e na tevê.
Acho que alguns leitores têm razão quando se queixam do aproveitamento do crime do Bispo como pretexto para atacar rudemente a Igreja, mas a perdem quando argumentam, a meu ver absurdamente, que ninguém vincula o crime de Polanski à arte cinematográfica.
Nem teriam como fazê-lo. Há uma diferença substancial entre um artista, a cuja conduta pessoal não se vincula a obra, e a natural ascendência que um sacerdote de qualquer religião exerce sobre seus devotos, marcadamente sobre crianças. Ademais, o crime de Polanski tem estado na mídia há duas décadas, desde que foi cometido. No contraponto, os abusos sexuais de sacerdotes católicos têm sido ocultados por tempo bem maior.
Não saberia dizer quantas vezes a publicidade em torno de Polanski evitou que ele ou outro gênio de qualquer arte tenham reincidido no crime. Da mesma maneira que é impossível dizer quantas crianças teriam sido poupadas da violência sexual se a hierarquia da Igreja não tivesse ocultado os abusos de alguns de seus sacerdotes.
Polanski já foi denunciado, preso e julgado nos Estados Unidos. Pode ser deportado se for a qualquer lugar, fora da Polônia, da França ou da Suíça, cuja Justiça negou extradição por "falhas na instrução do processo". Roger Vanheluwe, o ex-Bispo de Brugges, está recolhido voluntariamente a um mosteiro. Mas não há ordem de prisão para ele em nenhum país do mundo. Sequer foi denunciado à Polícia.
Estes são fatos que posso recolher do noticiário. Quanto aos filmes de Polanski, continuarão a ser aplaudidos, assim como as peças de Jean Genet ou os contos de O. Henry. Com toda a certeza também qualquer produção artística do ex-Bispo de Brugges será apreciada se ele se mostrar talentoso.
Mural
Sobre "A esquerda em baixa" (coluna de ontem) James Masi escreve: "Digo isso há décadas, apenas observando os EUA: os republicanos põem a casa em ordem, para depois virem os democratas e gastarem toda a riqueza acumulada durante o período republicano, muitas vezes criando despesas que não podem mais ser diminuídas quando saírem do poder. Levam o país próximo ao abismo da bancarrota econômica ou deixam bombas armadas para mais adiante, como essa crise imobiliária, criada no governo Carter. Leia sobre CRA em http://tinyurl.com/2cadzhq.
Essa ideia "brilhante" forçou os bancos a emprestarem a quem não teria recursos, levou 30 anos para explodir devido à pujança econômica dos EUA. Mas explodiu, um dia esses "almoços-grátis" explodem, inevitavelmente".
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