terça-feira, 20 de julho de 2010

Cadê o nosso apito? – Jayme Copstein

Os jornais de Porto Alegre dedicaram ontem grandes espaços ao assalto contra a médica Cláudia Hilbig, dentro do Posto de Saúde Vila dos Coqueiros, baleada na perna mesmo sem reagir – sequer com palavras – à exigência de entregar as chaves do carro aos bandidos.

O caso teve repercussões: o Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Dr. Paulo Argollo Mendes, revelou que há quase uma década está alertando o Poder Público sobre a insegurança de alguns postos. O Coronel Antero Batista, Comandante do Policiamento da Capital, repetiu o comentário de décadas de seus antecessores: não pode colocar um PM em cada posto. O Secretário Municipal da Saúde, Dr. Carlos Henrique Casartelli decidiu suspender o funcionamento do Posto, o que equivale à velha prática de tirar o sofá da sala, coisa que se faz, sem adiantar grande coisa, desde que o cacique Taparica viu sua filha Paraguaçu engraçar-se pelo fogo que saía do trabuco de Diogo Álvares, o Caramuru.

Aliás, o Caramuru entrou nesta história porque tudo parece conversa de índio, como diz aquela velha canção de carnaval – "Índio quer apito". Será que as ilustres autoridades se sentirão ofendidas se perguntarmos onde estão os nossos apitos?

Questão de geografia

A Polícia de São Paulo prendeu na semana passada um casal de estudantes (ele é peruano), sob acusação de pirataria. Mantinham um site na Internet, o Brasil Séries, para revelar onde obter acesso gratuito e gravar filmes e séries populares da televisão, como o chatíssimo House, mais o Friend e o Big Band Theory, a respeito dos quais não dou palpite porque nunca os assisti. Segundo a notícia, o Brasil Séries recebia 800 mil usuários (não confundir com acessos, o que já seria movimentação respeitável).

Com toda a franqueza, não sei se o casal cometeu realmente algum crime, como alega a Polícia de São Paulo, pois recebia doações para manter o site. Os políticos brasileiros também recebem doações para indicar o "mapa da mina" e a Polícia não anda atrás deles, a não ser que cometam a imprudência de estar do "outro lado".

A Polícia também alegou que o site recebia patrocínio comercial. Mas no fim de 2009, segundo noticiou a revista Exame, os técnicos do Tribunal de Contas da União identificaram superfaturamento de 120 milhões de reais em obra do governo no setor de energia, orçada em 309 milhões de reais.

Os responsáveis sequer negaram o superfaturamento, mas alegaram que técnicos do Tribunal de Contas são uns exagerados: eram "só" 78 milhões de reais. Não se sabe quantos são os "usuários" do "patrocínio", mas não sejamos exagerados: bem menos que os 800 mil do Brasil Séries serão estes "beneficiários" do Brasil Nada-Sério.

A propósito: o TCU mandou reduzir a conta nos 120 milhões, mas a Polícia não foi atrás de ninguém. Pura questão de geografia: são todos do lado de cá...

Mural

Nosso colega Alexandre Garcia, da Rede Globo, acrescenta a "O telefone que o Brasil não ligou" (Coluna do dia 16): "Meu xará Graham Bell já era, como inventor do telefone. O Congresso dos USA reconheceu, há uns cinco anos, como verdadeiro inventor (lá prá eles) o Antonio Meucci, um italiano de Nova Jérsey, que fez antes, mas não havia registrado. Era o Landell de Moura deles. Aqui, a gente não liga mesmo. País grande e bobo".

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