O discurso de defesa do deputado João Paulo Cunha, na sessão da Câmara que o julgou por quebra de decoro parlamentar, foi puro teatro de revista. Tanto fazia que recitasse trechos da Divina Comédia de Dante ou cantasse o Bigorrilho, mestre em tirar cavaco de pau. Dava no mesmo. Havia o acordão e ele sabia que o julgamento era uma farsa.
Daí, a hipocrisia da humildade, beirando o patético: “Serei sempre visto como um mensaleiro", queixou-se o deputado Cunha.
Desde que a Câmara Federal, com as bênçãos de Zé Dirceu, tem como presidente Aldo Rebelo, que um dia quis proibir as palavras estrangeiras, mas não o francês José Bové destruindo pesquisas científicas, dinheiro excuso, originado em suborno, extorsão ou furto, é chamado de não contabilizado (Delúbio Soares); mentira passou a ser imprecisão terminológica (Antõnio Palocci); violação de sigilo bancário mudou para vazamento (Márcio Thomaz Bastos); demissão transformou-se em “afastamento voluntário”; catupé com rebolado virou demonstração de alegria (Ângela Guadagnin); e “denuncismo” é quando nos pegam com a boca na botija.
Fica difícil, pois, entender-se a recente acusação do ministro Tarso Genro, de que a imprensa quer desestabilizar o governo. Ora, de todo esse palavrório, mensaleiro foi o único criado pelos jornalistas. Por ignorância. Se eles conhecessem a história do pretor romano Lucius Antonius Ruffus Appius, que se assinava L.A.R. Appius, a imprensa teria usado um termo mais adequado e verdadeiro.
Que falta o latim nos faz.
sexta-feira, 7 de abril de 2006
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