Os advogados criminalistas são oradores poderosos, capazes de transformar assassinos dos pais em pobres órfãos para torná-los dignos da piedade universal. Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, um dos grandes penalistas do país, ontem demonstrou seu talento ao negar na Câmara Federal qualquer participação sua ou de seus assessores, direta ou indiretamente, na quebra do sigilo bancário do porteiro Francenildo Costa.
Eles não sabiam de nada. Pela versão de Márcio Thomaz Bastos a gente até pode desconfiar que nem Palocci sabia de alguma coisa. Primeiro, contratou um caríssimo advogado defesa. Depois é que percebeu haver alguma acusação no ar.
As reuniões com o Palocci, ainda segundo Márcio Thomaz Bastos, foram apenas para indicar o advogado de defesa, que o coitado do Palocci queria, mas nem sabia pra quê. Nessa creche de anjinhos, Márcio Thomaz Bastos ainda foi obrigado a fazer as apresentações: tanto Palocci como Arnaldo Malheiros sofrem de invencível timidez. Se não houver alguém para dizer, este é o Palocci, este é o Malheiros, os dois são capazes de ficar corados, roendo as unhas, olhando fixo para o bico dos sapatos, incapazes de iniciar conversa. Ainda mais que nem tinham assunto para conversar.
Tanta inocência nos comove. Em um mundo de tanta hipocrisia, nos deixa nostálgicos e nos remete à terna infância, às histórias das mil e uma noites, quando sultão Shariar pedia com voz doce: “Conta outra, Sherazade!”.