segunda-feira, 3 de abril de 2006

O dito pelo não dito - Jayme Copstein

Que o Brasil conhece muito pouco o Brasil, prova-o esta senhora deputada, Ângela Guadagnin, que protagonizou a dança do corrupião no plenário da Câmara, para festejar a absolvição do correligionário envolvido no mensalão.
A deputada Guadagnin já estava em evidência desde que os relatórios de cassação de mandatos começaram a chegar à Comissão de Ética da Câmara, da qual ela faz parte. Não fosse ter encarnado uma versão cabocla de Isadora Duncan cabocla (o filme anda correndo a Internet), no máximo ela seria famosa, durante breve tempo, pelas tentativas de retardar os trabalhos da Comissão, em manobra clara para ganhar tempo e permitir às negociações do acordão, do qual resultam as absolvições dos mensalistas.
Não fosse a dança do corrupião, não haveria indignação, menos ainda leitores da revista Veja lembrando, na edição desta semana, que Ângela Guadagnin, quando prefeita de São José dos Campos, foi acusada por seu próprio secretário de Finanças, Paulo de Tarso Venceslau, de contratar a consultoria da CPEM, acusada de arrecadar dinheiro para a caixa dois do PT.
Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do PT. Ângela Guadagnin continuou impávida, sendo acusada, logo adiante, de contratar, sem licitação, a empresa Machado e Daniel, ligada aos ex-prefeitos Celso Daniel, Santo André, e José Machado de Piracicaba.
Está tudo na página 41 da Veja desta semana, acrescendo-se que ela continua enfrentando na Justiça, ainda sem decisão, processo por superfaturamento de contrato com uma agência de publicidade.
Nada disso era conhecido, ou melhor dito, tudo isso era omitido. Só resta é um pergunta cruciante: não há absoluta incompatibilidade entre uma pessoa com tão fornido currículo e uma comissão que pretende ser de ética?

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