terça-feira, 4 de abril de 2006

Questão de tempo - Jayme Copstein

Os membros do governo repetem, como cantochão, a queixa de que, em conluio, a oposição e a imprensa não os deixam em paz.
Seria ingenuidade descabida achar que opositores são vozes do coro de arcanjos, com vocação para cantar um afinado amém. Sobra, então, a “maldita” imprensa que teima em devassar os bastidores, onde longe dos olhos da platéia, Chapeuzinho Vermelho beija apaixonadamente o Lobo Mau, com escaldante e insuspeitada intimidade.
Depoimento de quem tem mais de seis décadas de estrada por jornais, emissoras de rádio e de televisão: nenhum jornalista, em qualquer tempo, em qualquer lugar do mundo, por mais que tenha investigado, jamais conseguiu saber algo além do que alguém estivesse disposto a lhe contar. A maior parte das vezes, não se necessita sequer procurar: a informação vem sozinha, trazido por quem calou mas não consentiu. Sendo uma das almas, discorda que São Miguel ficasse com a melhor parte
Se o sr. Luiz Inácio Lula da Silva deseja saber como vaza sua informalidade e a de seus correligionários no trato privado do patrimônio público, que procure entre os íntimos. Ou acaso crê que foram as cadeiras da sala, as xícaras do cafezinho ou cupins do madeirame que expuseram a versão petista do Big Brother Brasil, com prêmio também de um milhão de reais a quem segurasse a bronca do sigilo violado do caseiro Francenildo Costa?
Bom que se precavenha – é mera questão de tempo até que um cúmplice, insatisfeito com quinhão que lhe coube no butim, decida confiar mágoas piores a um jornalista de ouvido atento.

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