Vinte anos após a tragédia, a Ucrânia dispõe-se a desenterrar a verdade oculta sob os escombros de Chernobyl.
É improvável que o consiga. Mais espesso e impenetrável que a blindagem de cimento, erguida para isolar o reator explodido, é o mito construído para ocultar os crimes cometidos pelo bolchevismo onde se instaurou no poder.
Se compararmos as duas ditaduras, as mais horrendas da história humana, a impossibilidade de definir qual foi a mais cruel não exclui que, ao menos o nazismo não escondia o propósito de escravizar os demais povos para servir à raça que se sentia superior.
O bolchevismo, sob uma utopia de justiça e igualdade, dissimulou o mesmo propósito de escravizar os demais seres humanos para servir oligarquias que, tal como os hitleristas, só se diferenciavam de criminosos comuns, pela pregação messiânica. Se os nazistas exterminavam seres humanos para salvar a raça superior da degeneração dos seres inferiores, os comunistas se assumiram protetores dos pobres e dos oprimidos, e sob esse pretexto oprimiram e empobreceram os povos que submeteram.
É extraordinário que o mito tenha sobrevivido à própria derrocada da União Soviética, agora recoberto com uma aura de romantismo, muito do agrado dos jovens, e que gera ícones como Che Guevara. É o mesmo mito que impede a verdade de vir à tona em Chernobyl. Será descrito sempre como acidente indesejável. Jamais se chegará com profundidade na origem da tragédia.
Em sua edição de anteontem, Zero Hora publicou entrevista do engenheiro Yuri Andreyev, em que ele conta seu teste de ingresso ao corpo técnico da usina. Pediram-lhe que imaginasse a explosão de um reator nuclear.
Andreyev elaborou três hipóteses em que o desastre poderia ocorrer. Foi repreendido porque reatores soviéticos não explodiam.
O relato confirma o que foi publicado sem grande destaque, poucos anos depois, quando caiu o muro de Berlim. Os técnicos haviam alertado à direção de Chernobyl da iminência da explosão com tempo suficiente para evitá-la.
Foram ameaçados de processo como inimigos do povo porque, de acordo com as normas de segurança do partido, a explosão só seria possível por sabotagem dos inimigos do povo.