terça-feira, 31 de outubro de 2006

De volta à arquibancada - Jayme Copstein

O dia seguinte à eleição presidencial devolve o brasileiro ao que ele mais gosta – a arquibancada, onde dá palpites, cria boatos, faz certezas de suas meras especulações, com direito a aplaudir o nosso time e xingar o do adversário.
Desta vez, começou com os ministros Tarso Genro e Luiz Marinho, proclamando, domingo, quando a certeza da reeleição de Lula tornou-se matemática, que a Era Palocci havia terminado.
Ora, todos nós pensávamos que o prestígio de Palocci, como guru da economia, que ele nunca foi, havia acabado quando, com o rabo entre as pernas, foi obrigado a demitir-se no seguimento do vexatório episódio do caseiro Francenildo Costa.
O que se reflete nas palavras dos ministros Tarso Genro e Luiz Marinho é a mentalidade entranhada na alma do brasileiro, moldada ainda no tempo do Brasil Colônia, de submissão à figura de El-Rei todo poderoso ou de seu preposto-fidaldo que lhe transmite as ordens.
O programa de estabilização das finanças brasileiras, o Plano Real, não nasceu na cabeça de Palocci, tampouco na de Pedro Malan, ministro durante oito anos, ou do próprio Fernando Henrique Cardoso, quando ministro de Itamar Franco. Foi elaboração de uma equipe de economistas, da qual faziam parte Pérsio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho e Winston Fritsch, alguns dos quais a maior parte das pessoas nunca ouviu falar nem sabe de quem se trata.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado duro aos dois ministros: a política econômica é do governo.
Em outras palavras: “Toca de volta para a arquibancada. O dono do espetáculo sou eu!”

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Lições do pleito - Jayme Copstein

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito com mais de 60% dos votos. Mesmo não sendo a unanimidade, é votação expressiva diante das denúncias de desmazelo e corrupção que marcaram seu governo. Só tem um significado: o povo brasileiro o absolveu.
História não se faz com condicionais. Mas, vale perguntar: o que aconteceria a Fernando Collor de Mello, se em vez de enfrentar um congresso hostil, tivesse podido pregar diretamente ao eleitor as excelências do seu governo. Que também existiram. Por sinal, nunca foram revogadas.
A resposta não é difícil. Collor está de volta à cena política, como senador por Alagoas, onde tem tevê, rádio e jornal para fazer a pregação. Até se diz que será um dos líderes de Lula no Congresso.
Em nenhum dos dois casos se pode contestar a lisura da votação e a legitimidade dos dois novos mandatos. Vale, porém, a reflexão: o eleitor se queixa da corrupção, mas acaba de sacramentá-la. Se o faz porque cansou de esperar pela Justiça ou se nunca teve a ética como virtude, é a dúvida que resta esclarecer.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Um país curioso - Jayme Copstein

Há uma polêmica nos jornais, trazida por ilustre advogado criminalista, sobre uma senhora algemada por policiais militares, após “apenas ter se envolvido em um acidente de trânsito”, segundo uma das partes, mas após “a constatação de irregularidades em seus documentos de condução do veículo, desacato aos policiais e ter tentado atropelar um deles”.
São versões conflitantes das partes envolvidas, mas com toda a certeza esta senhora não mora na Vila Cachorro Louco. Se morasse, deixaria de ser uma “senhora”, para ser reduzida a “uma mulher” e ter o nome estampado com todas as letras no noticiário. A árvore genealógica não, porque naquelas bandas quase ninguém sabe quem é. Não tem como alegar o “sabe-com-quem-está falando”.
Chama a atenção o que se pretende da Polícia aqui no Brasil. Os governantes escamoteiam as verbas para treiná-los e equipá-los porque têm outro destino a dar ao dinheiro. Destino, aliás, que caberá à Polícia investigar depois, para definir a legalidade ou ilegalidade, o que dependerá, também, de “quem está falando”, mesmo que não tenha nenhuma árvore genealógica em seu pomar.
Na planície habitada pelo cidadão comum, a Polícia serve para exigir dos “outros” o cumprimento da lei e dos deveres de cidadão. Por que ela não está lá "onde todos os crimes são cometidos"? Por que ela teima apenas em comparecer quando “eu, cidadão direito, cumpridor dos meus deveres", decido deixar de ser tão direito assim e descumprir meus deveres?
Manoel, o grande filósofo lusitano, não diria desta vez – que país gracioso. Apenas, que país curioso.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

O conto do seguro - Jayme Copstein

Há muito tempo que a Susep, a Superintendência dos Seguros Privados está a merecer uma investigação profunda que revele, no mínimo, sua omissão diante do banditismo acampado no setor.
O dia em que alguém abrir os subterrâneos desse verdadeiro submundo, a Nação ficará bestificada com a imundície que vai jorrar. Não se necessita falar do dinheiro de órfãos e viúvas que as seguradoras retinham para jogar no mercado financeiro, naqueles tempos sórdidos do governo de José Sarney.
Contudo, se naquela ocasião, as seguradoras furtavam de mulheres e crianças, agora querem completar o serviço. Nova falta extorsão está sendo praticada por uma grande empresa, contra os velhos que contrataram seguro de vida. Com uma interpretação maliciosa da própria Susep, equiparando seguro que é previdência, com negócios geridos pelo Código Civil, a empresa está aumentando o prêmio e diminuindo o valor da indenização por morte.
Em qualquer país onde a lei tenha primazia, com toda a certeza alguém já teria dado com os costados na cadeia. No Brasil, onde prevalece a mais absoluta impunidade, os idosos, vítimas desta falcatrua, são obrigados a entrar na Justiça.
Aos malfeitores e seus cúmplices nada vai acontecer.

Mantega, o travesso - Jayme Copstein

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está apostando todas as suas fichas em crescimento econômico, fermentado com o aumento do crédito à população de baixa renda, para estimular o consumo de supérfluos.
É a demagogia mais antiga que se conhece neste país, com uma única serventia: ganhar eleição. José Sarney, cujo governo de triste memória deteriorou o Brasil, que o diga.
Teoricamente, o aumento das vendas traz aumento da receita de impostos e tapa todos os rombos do governo, que têm mais a ver com mensalões, dossiês e despesas secretas de cartões de crédito do que com a espoliação internacional.
Na prática, porém, mais adiante, o esquema estoura porque aos endividados da benemerência governamental falta renda para continuar gastando e pagar os compromissos assumidos. O consumo diminui, reduzindo a receita dos impostos. O remédio é mais tributos e inflação.
A primeira arte já está em andamento. O próprio ministro Mantega reconheceu em conversa, ontem, com empresários paulistas. Ele não tinha como negar o brutal aumento dos impostos neste último ano, atingindo a marca cavalar de 37,37 por cento do PIB. No ano passado representou mais de 724 bilhões de reais extorquidos do bolso do brasileiro.
Mais tarde, talvez de orelhas puxadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Guido Mantega voltou atrás: estava brincando quando falou que tinha havido aumento.
Com o devido respeito a uma autoridade da República, não é só com os números da receita que Mantega está brinca. Também está cometendo travessuras como ministro da Fazenda. Quem vai pagar a conta somos nós.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Em um país gracioso - Jayme Copstein

Com a notícia, já antiga, de que a Caixa Econômica Federal desistiu de mais de 35 mil ações na Justiça, vem outra, dando conta que os incréus de uma pequena cidade do Nordeste conseguiram rapidamente do juiz de Direito a proibição de o pároco local tocar os sinos da igreja de manhã cedo.
Os dois casos retratam a Justiça brasileira. Se depois de tanto tempo, por derrotas sucessivas em pendengas anteriores, a Caixa se convenceu que não tinha razão nos 35 mil processos, a sua manutenção durante anos, com interminável recurso aos tribunais superiores só significa litigância de má-fé. Não é para menos que todos esses processos se referem à correção garfeada do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Não só a litigância da má-fé da Caixa não mereceu nenhuma objeção do Judiciário como jamais foi movida uma palha para investigar a caixa preta do FGTS. Onde foi parar o dinheiro garfeado?
Em compensação, na hora, ali na batata, a igrejinha nordestina foi proibida de tocar seus sinos, porque alguns incréus dorminhocos alegaram que lhes perturbava o sono. No meio de tanta roubalheira, de tanta incompetência, de tanta omissão, é espantoso que a única coisa que não os deixe dormir são as badalações de um padreco.
Quem tem razão é o Manoel, o filósofo português que não vê necessidade de inventar piada de brasileiro. É um país realmente muito gracioso.

Dois pesos, duas medidas - Jayme Copstein

Duas decisões antagônicas, como se fossem dia e noite ou água e fogo, são um convite à reflexão sobre a composição do Supremo Tribunal Federal e, em conseqüência, a do Tribunal Superior Eleitoral que dele resulta.
Os dois candidatos que disputam o segundo turno da eleição presidencial solicitaram aumento no limite de gastos da campanha. O relator do processo de Luiz Inácio Lula da Silva aceitou conceder-lhe mais 28 milhões de reais e encaminhou o pedido ao plenário, onde foi aprovado. Já o relator do processo de Geraldo Alkimin, que desejava mais 10 milhões, negou o pedido liminarmente e pó arquivou sem encaminhar à votação do plenário.
Como os dois candidatos pediram a mesma coisa em igualdade de condições, decisões tão diametralmente opostas podem ser interpretadas de maneiras diversas, nenhuma delas, porém, lisonjeira para um dos dois magistrados: ou incompetência ou engajamento político. Nada que atenda aos requisitos de conduta ilibada e notório saber jurídico, exigidos pela Constituição.
Fica patente a inadequação do critério político para a escolha dos integrantes dos tribunais superiores. Acesso privilegiado tão somente a magistrados de carreira, àqueles que demonstraram integridade, sabedoria e bom-senso ao longo dos anos, desde quando comeram o pão que o diabo amassou em paróquias onde o diabo perdeu as botas, nos proporcionariam mais tranqüilidade em relação às duas decisões.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Socialisteiros e privativistas - Jayme Copstein

Assunto que vem à tona, com freqüência, é o dos benefícios fiscais. Teoricamente, atraem e mantém investimentos em um estado. Na prática, contudo, geram polêmicas intermináveis porque não conseguem tapar os imensos rombos do orçamento, cavados pela demagogia e pela roubalheira somada e continuada de facções políticas que se revezam no poder.
Os socialisteiros chamam os antagonistas de privativistas, mostrando que a linguagem, dinheiro público e traseiro de bêbado não têm dono. Alegam que, cobradas as renúncias fiscais, as receitas fluirão para o tesouro, na realização do mito bíblico da terra do leite e mel.
Há controvérsias. A transferência de grandes empresas para o Norte e o Nordeste é argumento dos mais fortes. Dizem até que a Bahia agora tem 366 igrejas, uma a mais, dedicada ao padroeiro que lhe deu a Ford de graça.
Já os privatizadores oferecem uma varinha de condão. Concedam-se os benefícios fiscais e o dinheiro jorra caudaloso, para sermos felizes por todos os séculos dos séculos, amém.
Não é que, na prática, a teoria seja outra. O problema está em socialisteiros e privativistas não conseguem separar o dinheiro público do privado. Tudo que cabe no bolso é privatizado.
Com tal prática, não há teoria que sirva.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Santos Dumont, o mito e o fato - Jayme Copstein

Chama atenção, no dia em que se festejam os 100 anos do vôo de Santos-Dumont no 14-Bis, ser a única efeméride importante e definitiva que o Brasil tem para comemorar no âmbito mundial. O resto são façanhas esportivas: multicampeonatos de basquete e futebol, recordes de salto tríplice, a perfeição olímpica de Daiane Santos na ginástica acrobática.
Assim mesmo, sendo a única efeméride de âmbito mundial, o Brasil a comemora mal. E o faz pelo pecado histórico que se comete contra seu povo, qual seja o de mantê-lo, através da educação deficiente, na mais crassa ignorância.
A importância do 14-Bis não é o de uma façanha esportiva. Como o avião não foi inventado por ninguém, mas resultou de um longo processo de aperfeiçoamento através de séculos, pouco importa quem fizesse isso primeiro ou passasse mais tempo naquilo outro.
Santos Dumont, na história da aviação mundial, ocupa o lugar mais importante. Deve ser equiparado a Cristóvão Colombo e a todos os descobridores que libertaram o homem para a civilização. Foi ele quem percebeu que os balões no ar se comportavam da mesma maneira que os barcos que flutuam na água. Adaptou um motor de automóvel aos balões, para não depender do vento, e também um leme que permitiu navegar para a esquerda e para a direita e voltar para o ponto de partida. Sem isso, os balões não teriam nenhuma utilidade prática.
Mais tarde, o problema se apresentou com os aviões, para fazê-los subir e descer sem que se esborrachassem no chão. De novo, funcionou o gênio de Santos Dumont. As asas do seu 14 Bis eram dotadas de caixas que se moviam para cima e para baixo, fazendo com que o ar elevasse o avião ou o trouxesse suavemente a terra.
Sem isso não teria havido aviação. Sem Santos Dumont, teria demorado muito mais para ser descoberto. Foi ele quem desbravou os caminhos do céu.

Comentários:

Surfista Barbeiro – Bem, sem dúvida são importantes o 14-Bis e Santos Dumont, porém, quem inventou o avião, tal como o conhecemos, foram os irmãos Wright. E antes de Santos Dumont ter criado o 14-Bis. O 14-Bis não era um avião. Já ouviu falar em um avião que só voa em linha reta e não faz curvas? Eu não. Pois é, o 14-Bis só voa em linha reta. Já o avião dos irmãos Wright, o Flyer, era completamente manobrável, apesar do motor não ser suficientemente potente para a decolagem. Só não foi mostrado em Paris antes do 14-Bis por questões de patente. Dois anos depois da exibição do 14-Bis, já com o problema da patente resolvido, os irmãos Wright fizeram um vôo em Paris, contornando a torre Eiffel (algo impossível para o 14-Bis), que resultou em manchetes nos jornais da época reconhecendo o "Flyer" como o verdadeiro avião e os irmãos Wright como os inventores. Há um livro de um brasileiro que conta esta história toda, foi entrevistado recentemente na CBN pelo Heródoto Barbeiro. Acho que não deve ser difícil achar nas livrarias.

Blog: A tese defendida pelo comentário é a de que ninguém inventou o avião, tal como o relógio ou o automóvel, apenas para citar dois engenhos do dia-a-dia. Tudo resultou de um longo processo de aperfeiçoamento ao longo dos séculos. Não é verdade que a "Flyer" dos irmãos Wright fosse manobrável. Só apresentou esta condição depois de 1906, quando aquelas caixas móveis do 14-Bis inspiraram os "ailerons" e os "flaps". Portanto, a dirigibilidade dos aviões, tal como a dos balões, ambas descobertas por Santos Dumont, foi que abriu definitivamente os caminhos do céu.

Marco Aurélio – Não tenho dúvidas de que ele é o inventor do avião. Mais um injustiçado como outros dois gênios brasileiros Villa Lobos e César Lattes.

Blog: Qual a injustiça sofrida por Villa-Lobos?

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Manoel e Maluf - Jayme Copstein

O Manoel é aquele português chato que não inventa piada de brasileiro porque a concorrência do próprio brasileiro é invencível. Ele me telefona:
“O Paulo Maluf não foi condenado a perder os direitos políticos por dez anos?
– Foi, respondo.
“Se foi, como vai assumir uma cadeira na Câmara Federal?”
– Bom, foi eleito com mais de 700 mil votos.
O Manoel estranha:
“O eleitor brasileiro que fala tanto contra a corrupção, não sabia que ele estava sendo processado por corrupção?”
– Sabia, Manoel.
“E mesmo assim votou nele... “
– Votou, Manoel.
“Ah, entendo. O processo era recente, ninguém sabia."
– Não, Manoel. O processo rolava há dez anos no Juduciário. Todos sabiam.
– Ah! Então a prova é que era difícil?
– Não, Manoel. A prova era bem simples: campanha eleitoral feita com dinheiro público.
“Ah! Eu entendo. Para a Justiça brasileira, a prova simples é que complica o julgamento.
– Não exagera, Manoel. O Judiciário anda sempre muito ocupado.
“De facto (português fala assim). O papa levou mais de mil anos para decidir que o limbo não existe. Como decidir em 10 anos o sexo dos anjos.... Mas agora terminou: o Maluf perde o mandato, paga multa de três milhões de reais e devolve outro milhão à Prefeitura de São Paulo...”
– Não, Manoel. Ele só foi condenado na primeira instância. Vai entrar com recurso na Segunda Instância. Deve demorar mais quatro anos.
“Ué, estranhou o Manoel. Quatro anos não é o tempo de mandato dele?”
– É, é o tempo do mandato.;
“E ele pode votar uma lei anistiando seu próprio crime, não pode?”
– Pode, Manoel. Pode.
Antes de desligar, o Manoel soltou:
“Hum!... que país gracioso.”

Os ingredientes do atraso - Jayme Copstein

Estarrecedora não é a descoberta, após a mortandade dos peixes no Rio dos Sinos, de dois mil canos clandestinos, para despejos de dejetos das indústrias instaladas às suas margens.
Estarrecedora é a demora em se identificar publicamente os responsáveis pela poluição do rio, que já deviam estar todos indiciados e respondendo por crime cometido contra o patrimônio público.
Mais estarrecedor, ainda, é que haja um órgão federal e duas secretarias, uma municipal, a de Novo Hamburgo, a outra estadual, para zelar pelo meio ambiente, com titulares, subtitulares, técnicos, assessores, agregados, apaniguados e fiscais. Todos deviam, também, ser indiciados e responder por prevaricação ou peculato porque todos consumem uma fortuna em salários, pagos com o dinheiro do nosso bolso, sem ao menos fingir que cumprem o seu dever. Isso se mais não puder ser acrescentado em uma investigação de verdade
Apesar de todos os estarrecimentos, ainda não se viu a metade da missa. Começam agora os discursos indignados, as promessas de providências severas, enfim, a demagogia barata e nojenta que faz deste país um dos mais atrasados do mundo e a pátria universal da impunidade.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

As dúvidas de Clodovil - Jayme Copstein

Clodovil Hernandez, eleito com quase meio milhão de votos, foi ontem à Câmara dos Deputados, aprender, como ele mesmo disse, o caminho da escola. Mas já chega lá sabido. Depois de declarar a um jornal argentino que venderia o voto, dependendo da proposta, começou a acusar a imprensa de ter distorcido suas palavras. “O que eu disse é que todo o homem tem seu preço. Trinta mil reais é pouco, com trinta milhões pode ajudar algo ou alguém”.
Mas as preocupações de Clodovil são outras. Bem paramentado, ele só foi lá para saber se quando assumir o mandato, deve levar uma bolsa Louis Vuitton ou uma sacolinha da Casa da Banha.
À primeira vista, parece que Clodovil deseja inaugurar o exótico na Câmara Federal. Está chegando atrasado. Vai precisar de muito talento para se igualar, por exemplo, à deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC) que apresentou projeto, obrigando o pedestre avisar com o braço que vai atravessar uma faixa de segurança, para não ser atropelado. Ou à deputada também federal Maninha, do PSOL de Brasília, que deseja instituir o Dia da Visibilidade Lésbica, a ser comemorado em 29 de agosto. Justifica a deputada: é para combater o preconceito porque quem não é visto, não é lembrado. Daí, dia de visibilidade lésbica.
Mas tudo isso é ninharia. Já teve vereador Quixeramobim, Ceará, querendo pintar de amarelo fosforescente a cauda de animais que andem na rua, para evitar atropelamentos. Outro de Caicó, Rio Grande do Norte, que desejava tornar obrigatória a distribuição de Viagra, para prevenir o alcoolismo e a violência contra as mulheres.
A número desses absurdos é incontável. O mais descabido de tudo, entretanto, é o eleitor perguntar como isso é possível. A resposta é simples: com o seu voto.

Gurus - Jayme Copstein

Ninguém tem certeza da influência que as pesquisas de opinião exercem sobre o eleitor. Parecem funcionar como a guerra de torcidas organizadas do futebol. O grito das arquibancadas, porém, nunca decidiu o resultado de uma partida.
Como não há maneira do brasileiro se libertar de seus mitos e superstições, os jornais refletem esse espírito com interpretações que não fecham com os próprios números que publicam. Exemplo, a mais recente pesquisa do Datafolha, publicada pela Folha de São Paulo, com o título de “Lula amplia para 11 pontos a vantagem sobre Alkimin”.
A pesquisa, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, diz que, após o debate de domingo, as intenções de voto declaradas em Luiz Inácio Lula da Silva subiram de 50 para 51% e as de Geraldo Alkimin desceram de 43 para 40%. Os votos em branco, nulos e as indecisões também oscilaram, para cima, mas apenas um ponto percentual.
Considerados os dois por cento da margem de erro, o máximo que se pode dizer desta pesquisa é que o debate de domingo não produziu nenhuma mudança na opinião dó eleitor. Como aliás, a própria Folha de São Paulo noticia em matéria correlata, sob o título “(...)Debate na televisão terminou empatado”.
As conclusões são lógicas: 1ª) O erro das pesquisas de opinião não é dos institutos especializados; 2º) Não só os economistas passam a vida a explicar porque suas previsões nunca dão certo. Os jornalistas, também. Pelo menos, deviam.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Marco Milhões - Jayme Copstein

Só para amenizar um pouco as agruras da vida, a pequena biografia de um mentiroso emérito que atravessou os séculos e hoje tem seu nome história: Marco Polo.
Ele é autor de um livro que não escreveu. Preso em Veneza – dizem as más línguas que por caloteiro – distraía os companheiros de cadeia, contando histórias mirabolantes. Elas foram anotadas por outro presidiário, de nome Rusticiano, e reunidas no livro “Viagens de Marco Pólo”.
Quando perguntado quantas léguas tinha percorrido pelo mundo afora, respondia: “Milhões, milhões!”
Contava que havia viajado como nenhum outro homem o fizera na história deste planeta. Os coleguinhas de cela, para fazê-lo falar mais, o bajulavam e lhe perguntavam, por exemplo, quantas aventuras ele vivera.
“Milhões, ele respondia, Milhões!”
Mas, com toda a certeza tinha realizado grandes negócios. Ele continuava respondendo:
“Milhões! Milhões!”
Alguém se lembrou de perguntar se era tão rico, porque dera com os costados na cadeia. Onde estava o dinheiro?
Como se não fosse com ele, continuou bradando:
“Milhões! Milhões!”
Foi assim, por causa desta obsessão, que Marco Polo ganhou o apelido de Marco Milhões.
Gostaram da historinha? Quem souber, que conte outra.

Clodovil e Suassuna - Jayme Copstein

Clodovil Hernandez, personagem das eleições legislativas de 2006, é candidato certo à cassação de mandato. Não pelo espetáculo que apresenta há anos na tevê ou por suas preferências sexuais – vai alegar o pretexto – mas por ter dito com todas as letras que seu voto na Câmara Federal estará à venda, ao dispor de quem pagar mais.
É flagrante quebra de decoro. Não se irá discutir se apenas ele diz, mas não faz, em contraste com os que fazem, mas não dizem. Cabe comparar as duas situações, a dele e a do senador Ney Suassuna, que falou até mais, quando denunciado no escândalo das ambulâncias: todos vendem voto no Congresso.
A respeito, há um engano por arte da imprensa, ao noticiar que Suassuna pode escapar impune se não for cassado até terminar o mandato em 31 de janeiro. Não é verdade. A punição por corrupção implica também a suspensão dos direitos políticos por oito anos. Não há por que sustar o processo contra ele e contra os mensaleiros renunciantes, agora reeleitos. O Parlamento que se empossa em janeiro dirá a que veio.
Cabe refletir, entretanto, sobre o sistema eleitoral. Clodovil é fruto da aberração chamada voto proporcional. Não necessitou apresentar nenhum programa, nenhuma proposta, nada, absolutamente nada. Era apenas uma figura exótica, dizendo coisas engraçados na tevê. Se confrontado nos limites de um distrito com adversários diretos, como está acontecendo agora, na disputa para a presidência da República ou para o Governo de alguns Estados, teria de dizer o que pretendia ao se candidatar. Com facilidade seria desmascarado. Como aconteceu com Suassuna, ao disputar a reeleição para o Senado.

Depressa ministro - Jayme Copstein

A única atitude sensata diante do acidente do Boeing da Gol é esperar a conclusão da perícia nas caixas pretas dos dois aviões. Todo o resto é pura especulação, diz-que-me-diz-que, absolutamente cruel e injusto para os familiares e amigos das 155 de pessoas que morreram no desastre.
Chama atenção, entretanto, a entrevista de ontem, do ministro da Defesa, Waldir Pires à Folha de São Paulo, rebatendo afirmações do repórter Joe Sharkey, passageiro do Legacy envolvido na tragédia, de que “o controle aéreo brasileiro é péssimo". O jornalista só fez repetir o que circula pelos aeroportos brasileiros, inclusive com relato de pilotos a respeito da deficiente comunicação no monitoramento do nosso espaço aéreo. As denúncias são graves e dizem respeito à própria higiene do trabalho: não há fiscalização efetiva do revezamento em turnos de duas horas, para evitar a fadiga de um trabalho altamente estressante. Há também acordos informais entre controladores de vôo, o famoso jeitinho, para acomodar folgas e reduzir plantões.
Confrontado com relatos como esses, o ministro Waldir Pires respondeu à Folha de São Paulo que “quase todo o pessoal que executa esse trabalho no Cindacta (Centro de Controle de Vôo) é formado por sargentos e cabos que têm salários e são treinados para isso. Trabalham as horas que são compatíveis com a natureza desse trabalho”.
O que o ministro Waldyr Pires quis dizer com isso, só ele mesmo sabe. Não percamos as esperanças, porém. Ele prometeu que “vai ver isso”, para verificar procedência das denúncias. Tomara que o faça bem depressa, antes que ocorra outra tragédia.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Os temas da campanha - Jayme Copstein

O país assistiu ontem ao primeiro debate, desde a redemocratização, que merece este nome. Fosse por inexperiência, porque não era prática da política brasileira antes de 1964, o que se tinha visto até agora era um guerra de marqueteiros, explorando mitos da tevê norte-americana sobre roupas e gravatas, temperados com carnaval, macumba e circo. Fernando Collor de Mello e Anthony Garotinho são as lembranças mais patentes deste passado.
Ontem, não. Para surpresa de todos, o candidato Geraldo Alkimin trouxe à discussão, desde o princípio, as preocupações do eleitorado não engajado, aquele que responde pesquisas, afirmando que vai se abster ou ainda cita um nome, só por citar, mas só toma sua decisão definitiva às vésperas da eleição.
Foi a partir destes temas – corrupção, gastos públicos, moralidade, enfim, coisas que andam na boca de todos – que o debate tomou o seu rumo e não deve sofrer mudanças nos 20 dias restantes da campanha.
Se ontem houve vencedor, as pesquisas devem sugerir algo nos próximos dias. A esta altura dos acontecimentos, os institutos especializados vão redobrar o zelo para se resgatar das interpretações fantasiosas que permitiram fazer no primeiro turno.
As cartas estão na mesa. A realidade já demonstrou cabalmente que o eleitor brasileiro não é tão otário, a ponto de engolir todos os blefes.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Os pecados da Anac - Jayme Copstein

O advogado José Carlos Dias, que assiste aos dois pilotos americanos envolvidos no acidente da Gol, faz uma advertência correta: é cedo demais para apontar as responsabilidades pela tragédia.
De fato. Trata-se de uma investigação demorada por sua complexidade e que tem de levar em conta detalhes pequenos, de difícil apuração. Toda a certeza que se tem, até agora, é que os dois aviões voavam à mesma altura e que uma falha de comunicação impediu que um deles mudasse o rumo.
A quem ou a que atribuir à falha, se aos pilotos americanos, ao Serviço de Proteção ao Vôo, se a equipamentos defeituosos ou se até a algo insuspeitado, só depois do exame exaustivo de registros e gravações que se encontram nas caixas pretas dos dois aviões e nos apontamentos das equipes de controle de vôo.
Até agora, o único pecado comprovado de verdade é o da Agência Nacional de Aviação Civil no trato com os familiares das vítimas. Uma das funcionárias da Anac, quando cobrada por suas respostas descorteses, respondeu ainda com mais rudeza: “Eu não sou psicóloga”.
É evidente que, criando sinecuras para correligionários do governo de plantão, a Anac nem de longe se assemelha à eficiência do velho e prestimoso DAC, o Departamento de Aviação Civil, comandado pela Aeronáutica.

Comentários:

Felipe Klein: No Brasil, sempre que ocorre um fato em que haja comoção geral, tenta-se promover uma caça às bruxas. Muitos acusam a mídia mas , o próprio povo tem sua parcela de culpa também ( vide o caso da Escola de Base, em São Paulo há alguns anos , onde os donos foram acusados de molestar crianças sexualmente. Foram absolvidos mas a moral deles foi exterminada).
Dia desses entrei no blog do jornalista americano e um comentário deixado por um leitor me chamou a atenção: "O que um Legacy fazia a 37 mil pés de altura?” Foi essa a pergunta de alguém que conhece o assunto, eu particularmente só sei que avião voa. A pergunta que me faço é: estão as autoridades desenvolvendo essa investigação com ares de xenofobia aos malvados capitalistas? Será que não devem concentrar o foco nas torres de controle?


Blog - Faltou gente capacitada na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para lidar com o acidente. Houve desde grosserias cometidas com os aflitos familiares das vítimas até a falta de informações, redundando em especulações de toda a ordem. Pode ser que, agora, com o fabricante do transponder fazendo “recall” de equipamento, alguém chame às falas o pessoal da Anac, para explicar a bagunça.

Ed Santos: Acho precipitadas e prematuras algumas acusações que tenho lido, sobre o acidente aéreo em Mato Grosso. Em acidentes com esta complexidade, não se pode tirar nenhuma conclusão, sem que todos os dados estejam disponíveis:
1 - A transcrição de todas as comunicações havidas entre o Centro de Controle e os pilotos; 2 - A decifração das caixas pretas dos dois aviões; 3 – Exame da gravação de vídeo dos radares do Centro (ou Centros) de Controle de Tráfego Aéreo; 4 - Depoimento dos controladores de vôo de serviço no Cindacta.
5 - Depoimento dos pilotos sobreviventes; 6 - Eventuais deficiências técnicas de cobertura, quer de comunicações, quer de radar, na área do acidente, já reportadas por outros pilotos que por ali voam regularmente.
Só então, de posse de todos esses elementos, será possível reconstituír o acidente. Nunca, antes, se poderá atribuir responsabilidades a uma ou mais partes.
Outro ponto importante: tem-se escrito muito sobre a falha do TCAS como fator provocador do acidente. Ora, o TCAS é um dispositivo de último recurso. O que é que falhou antes? Se o Centro de Controle tinha contato só com uma das aeronaves, por quê perder tempo e insistir em chamar a outra que estava sem comunicações? Simplesmente teria que: 1º - dar informação da situação ao piloto do Gol; 2º - Dar instruções ao piloto do Gol, que era o único que tinha comunicações com o Centro de Controle, indicando um novo rumo que este deveria seguir, de modo a que os dois aviões passassem com separação lateral segura. Este era o único procedimento seguro a seguir, não o de alterar a altitude do Gol, uma vez que se desconhecia a altitude do Legacy.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

O patrimônio ético - Jayme Copstein

Duas concepções de política se defrontaram ontem no Senado. O relator Jefferson Perez votou pela condenação de seu colega Ney Suassuna por quebra de decoro parlamentar, em nome da moralidade política. Suassuna reagiu, dizendo que Jefferson perseguia uma utopia, ao condená-lo sem provas concretas de envolvimento com a máfia das sanguessugas , apenas em nome da moralidade política.
O relator Jefferson Perez, mesmo sem as provas concretas, assinalou que a costumeira e consentida falsificação de assinatura de Suassuna, por parte dos assessores, agredia o decoro parlamentar. Suassuna defendeu-se: fora traído pelo assessor Marcelo Cardoso, este sim, comprovadamente envolvido com a gangue das sanguessugas. Mas não deu parte à Polícia, para iniciar um procedimento criminal. É tolerância demais para quem alega inocência.
A polêmica estava neste ponto quando outro membro da Comissão de Etica do Senado, o senador Wellington Salgado (MG), amigo de Suassuna, pediu vistas para adiar a votação do parecer. De novo, o jeitinho: empurrar o processo com a barriga até Suassuna terminar o mandato e escapar da confusão sem julgamento.
No centro da polêmica, algo que o próprio senador Jefferson Perez já em agosto deste ano definiu como patrimônio ético. Na ocasião, comparou o Brasil a países deserdados da natureza, como o Japão e a Coréia do Sul, que não têm em seu território uma gota de petróleo, um grama de riquezas minerais. No entanto, são países desenvolvidos não só economicamente mas também socialmente. A diferença é o patrimônio ético. Lá não se dá jeito: a imoralidade é punida. É o ponto central.
É verdade que o eleitor fez justiça a Ney Suassuna, negando-lhe a reeleição. Diante, porém, da recondução de outros notórios gatunos, parece ter sido exceção para confirmar a regra geral.
Que pena que o eleitor brasileiro não se dá valor ao patrimônio ético. É a origem dos seus desgostos.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

O mesmo enigma - Jayme Copstein

O competente advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos, nas horas vagas ministro da Justiça, tem trabalhado com afinco para ocultar a origem do dinheiro apreendido com os trapalhões do dossiê. Suas alegadas dificuldades de decifrar o mistério provocam risadas diante a rapidez com que se identificou o delegado federal, responsável pelo vazamento das fotos da montanha de dólares e reais.
Chama a atenção, entretanto, algo surgido e desaparecido do noticiário como um cometa: os dólares tinham vindo de Frankfurt, Alemanha. Umas poucas linhas e nunca mais se falou nisso.
Faz lembrar o que ocorreu em 1967, quando começaram as primeiras agitações do MST, instituído como herdeiro dos Afogados do Passo Real, aqui no Rio Grande do Sul. O falecido jornalista Pércio Pinto, diretor do Grande Jornal Ipiranga, transmitido pela extinta TV Piratini, conseguiu descobrir que o dinheiro para financiar o movimento chegava através um banco holandês, sob o rótulo de doações humanitárias de organizações francesas e alemãs.
A notícia não pôde ser divulgada então, porque a censura do regime militar vetou. Conheço o fato porque eu era o secretário de redação do “Ipiranga”.
Jamais conseguimos descobrir os motivos da proibição. Passados quase 40 anos, porém, pergunto-me se aquele dinheiro e este que hoje financia aventuras políticas na América Latina, não têm origens e objetivos idênticos e se não são parte do mesmo enigma.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Militâncias - Jayme Copstein

Há certa perplexidade com a reeleição de figuras carimbadas por este Brasil afora. Escapa ao entendimento das pessoas um fenômeno chamado militância partidária que no Brasil parece ser exclusividade do PT 365 dias por ano. É o único partido nacional. Os demais, só existem em véspera de eleições.
É como se explica, por exemplo, a recondução do deputado federal Paulo Pimenta, no Rio Grande do Sul, Estado cioso da ética na prática política. Não há nada a se dizer sobre a honorabilidade de Pimenta, mas seu envolvimento no episódio da lista falsa do mensalão, em novembro de 2005, foi tão importante como o de outras figuras no recente dossiê contra Serra.
Então como se explica o seu sucesso eleitoral, e o de João Paulo Cunha, Antônio Palocci e Ricardo Berzoini e o insucesso da correligionária Ângela Guadagnin, tristemente famosa por seus balés?
A explicação é a mesma. Pimenta, no Rio Grande do Sul, Cunha Palocci e Berzoini são o que Ângela Guadagnin não é: líderes da militância petista. A explicação vale também para Paulo Maluf, líder inconteste do PP paulista, que nada tem a ver com o PP do Rio Grande do Sul, por exemplo. A Paulo Maluf, porém, deve-se acrescentar outro tipo de militância, a militância pessoal, consolidada através de décadas, desde quer assumiu, pela primeira vez, a Prefeitura de São Paulo. Quem não acreditou nisso, como Delfim Netto, que decidiu concorrer pelo PMDB, deu-se mal.
Esta militância pessoal vale principalmente para apresentadores, comentaristas e artistas de rádio e tevê, caso de Sérgio Zambiazi e o falecido Mendes Ribeiro, no Rio Grande do Sul, Celso Russomano e Afanázio Jazadji, de São Paulo, e até mesmo para Enéas Carneiro e Clodovil Hernandes.
Reclama-se muito contra eleitor brasileiro. Diz-se que ele não sabe votar. Mas, respondam: ele tem alternativa? Os partidos de maneira geral, funcionando apenas às vésperas das eleições lhe oferecem escolha ideológica? Enquanto forem mero ajuntamento de interesses, sob o comando de oligarquias malandras, não se mudará o cenário.

Pano pra mangas - Jayme Copstein

Permitam-me o velho lugar comum: pano pra mangas. É a conseqüência do despreparo da Agência Nacional de Aviação Civil para lidar com emergências indesejáveis mas previsíveis, como esta do avião da Gol. Temos uma quantidade inusitada de manifestações de ouvintes, perplexos e indignados diante do episódio.
Transcrevo algumas das mensagens recebidas. Não identifico remetente por outro fenômeno que eu mesmo não havia identificado antes: apesar da democracia plena, as pessoas estão com medo de represálias, o que não se observava em outros governos. É tema para profunda reflexão.
Vamos às mensagens. Do interior do Rio Grande do Sul, Região da Serra: “É lamentável o despreparo da Anac em relação ao acidente da Gol. São tantas as especulações geradas pela desinformação do governo, que até penso se quando houve a colisão, o Boeing da Gol já não estava caindo.”
De São Paulo,Capital: “Em um espaço aéreo como o da Amazônia é estranho que tivessem ordenado às aeronaves voar com 1.300 pés de altitude entre elas. Isso é diferença de altitude para o tráfego de Guarulhos/Congonhas/Viracopos. Não para aquela área.”
De Florianópolis, Santa Catarina: “A Amazônia está toda monitorada pelo SIVAM, ou assim nos foi dado a entender. Será que o governo cortou o dinheiro do SIVAM? Ou alguém estava na área fazendo algo escondido e o sistema de radar foi tirado do ar?
De Porto Alegre, Rio Grande do Sul: “Acho que tenho a resposta: Falha do sistema de controle de trafego aéreo na região. O sistema de radares vive em manutenção. Utilizo o sistema de radares da Redemet (http://www.redemet.aer.mil.br), que é a mesma rede do controle aéreo e muitas vezes o sistema está parado. O despreparo do presidente da Anac é evidente. Até agora não entendi por que trocaram o DAC pela Anac? Para criar cabides aos amiguinhos? “
Se todas as objeções dos ouvintes tem fundamento, só o Governo é que pode esclarecer. Que ele o faça para cumprir o seu dever com os cidadãos deste país..

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Profetas e charlatães - Jayme Copstein

Os ouvintes do Brasil na Madrugada e também os do Chamada Geral Segunda Edição não terão tido grandes surpresas com o resultado da eleição presidencial. Desde logo, foi dito e insistido nos dois programas que a interpretação das pesquisas não estavam levando em conta os eleitores indecisos e também aqueles que declaravam intenção de votar em branco ou anular seu voto.
A verdade é que muitas pessoas se constrangem em abrir o voto. Algumas dizem que não sabem, outra que votarão com o nome mais citado e por aí afora. Só desejo repetir a vocês um trecho do comentário feito no Chamada Geral, na sexta-feira, o último antes da votação. Foi dito:
Há uma charlatanice que contribui, mesmo involuntariamente, para sacramentar jogadas de marketing com dados de pesquisas eleitorais. Temos, os brasileiros, irreprimível paixão por predizer bom ou mau tempo, resultado do futebol, o bicho que vai dar, enfim, substituir a razão e o conhecimento pela magia do pajé.
Não se leva em conta a dificuldade de qualquer certeza em um universo de 123 milhões de eleitores, onde os levantamentos contam com margens de erro entre 2 e 3 por cento: significa mais de dois milhões de votos indecifráveis, somando-se a 9 por cento – em torno de outros 12 milhões de eleitores – dispostos, ao menos é o que dizem, a abster-se ou anular o voto. Em outras palavras, não há como predizer nada quando nada se sabe de 11 por cento da votação, o dobro da diferença que nos separa da possibilidade de segundo turno.
Há que faça, agora, especulações sobre dossiês, ausência em debates, mais isso, mais aquilo. A charlatanice é a mesma. Profetas de araque não têm mesmo remédio.

Perguntas sem resposta - Jayme Copstein

A verborréia desatada pelo resultado das eleições, que desmoralizou os profetas de plantão, está pondo em segundo plano a absoluta incapacidade do governo de lidar com um acidente aéreo, que apesar das proporções, tem normas para não aprofundar o sofrimentoi dos familiares da vítimas nem inquietar a opinião pública.
Diga-se de passagem: a Gol, à qual pertence o avião sinistrado, agiu exemplarmente. Mas tanto o presidente da Agência Nacional da Aviação Civil, a Anac, como seus lugares-tenentes mostraram-se simplesmente despreparados para lidar com emergências, que apesar de raras, são previstas e devem ser planejadas.
O que se vê são parentes das vítimas tendo de se valer da imprensa para saber o que está ocorrendo e poder tomar as providências de todos sabidas nessas situações de dor. Pior, ainda, é a própria imprensa e a opinião pública completamente confusas sobre o que aconteceu e que o governo parece ter interesse em esconder, sabe-se lá porque razões.
Afinal de contas, houve ou não houve a colisão entre os dois aviões? Se há um serviço de proteção ao vôo, a rota do jato particular era conhecida ou há algo mais aí que não deva ser conhecido?
São meras especulações. Mas nascem da incompetência do próprio governo de lidar com uma situação indesejável, mas perfeitamente previsível.