quinta-feira, 5 de outubro de 2006

O patrimônio ético - Jayme Copstein

Duas concepções de política se defrontaram ontem no Senado. O relator Jefferson Perez votou pela condenação de seu colega Ney Suassuna por quebra de decoro parlamentar, em nome da moralidade política. Suassuna reagiu, dizendo que Jefferson perseguia uma utopia, ao condená-lo sem provas concretas de envolvimento com a máfia das sanguessugas , apenas em nome da moralidade política.
O relator Jefferson Perez, mesmo sem as provas concretas, assinalou que a costumeira e consentida falsificação de assinatura de Suassuna, por parte dos assessores, agredia o decoro parlamentar. Suassuna defendeu-se: fora traído pelo assessor Marcelo Cardoso, este sim, comprovadamente envolvido com a gangue das sanguessugas. Mas não deu parte à Polícia, para iniciar um procedimento criminal. É tolerância demais para quem alega inocência.
A polêmica estava neste ponto quando outro membro da Comissão de Etica do Senado, o senador Wellington Salgado (MG), amigo de Suassuna, pediu vistas para adiar a votação do parecer. De novo, o jeitinho: empurrar o processo com a barriga até Suassuna terminar o mandato e escapar da confusão sem julgamento.
No centro da polêmica, algo que o próprio senador Jefferson Perez já em agosto deste ano definiu como patrimônio ético. Na ocasião, comparou o Brasil a países deserdados da natureza, como o Japão e a Coréia do Sul, que não têm em seu território uma gota de petróleo, um grama de riquezas minerais. No entanto, são países desenvolvidos não só economicamente mas também socialmente. A diferença é o patrimônio ético. Lá não se dá jeito: a imoralidade é punida. É o ponto central.
É verdade que o eleitor fez justiça a Ney Suassuna, negando-lhe a reeleição. Diante, porém, da recondução de outros notórios gatunos, parece ter sido exceção para confirmar a regra geral.
Que pena que o eleitor brasileiro não se dá valor ao patrimônio ético. É a origem dos seus desgostos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário