sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Um país curioso - Jayme Copstein

Há uma polêmica nos jornais, trazida por ilustre advogado criminalista, sobre uma senhora algemada por policiais militares, após “apenas ter se envolvido em um acidente de trânsito”, segundo uma das partes, mas após “a constatação de irregularidades em seus documentos de condução do veículo, desacato aos policiais e ter tentado atropelar um deles”.
São versões conflitantes das partes envolvidas, mas com toda a certeza esta senhora não mora na Vila Cachorro Louco. Se morasse, deixaria de ser uma “senhora”, para ser reduzida a “uma mulher” e ter o nome estampado com todas as letras no noticiário. A árvore genealógica não, porque naquelas bandas quase ninguém sabe quem é. Não tem como alegar o “sabe-com-quem-está falando”.
Chama a atenção o que se pretende da Polícia aqui no Brasil. Os governantes escamoteiam as verbas para treiná-los e equipá-los porque têm outro destino a dar ao dinheiro. Destino, aliás, que caberá à Polícia investigar depois, para definir a legalidade ou ilegalidade, o que dependerá, também, de “quem está falando”, mesmo que não tenha nenhuma árvore genealógica em seu pomar.
Na planície habitada pelo cidadão comum, a Polícia serve para exigir dos “outros” o cumprimento da lei e dos deveres de cidadão. Por que ela não está lá "onde todos os crimes são cometidos"? Por que ela teima apenas em comparecer quando “eu, cidadão direito, cumpridor dos meus deveres", decido deixar de ser tão direito assim e descumprir meus deveres?
Manoel, o grande filósofo lusitano, não diria desta vez – que país gracioso. Apenas, que país curioso.

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