terça-feira, 10 de outubro de 2006

Clodovil e Suassuna - Jayme Copstein

Clodovil Hernandez, personagem das eleições legislativas de 2006, é candidato certo à cassação de mandato. Não pelo espetáculo que apresenta há anos na tevê ou por suas preferências sexuais – vai alegar o pretexto – mas por ter dito com todas as letras que seu voto na Câmara Federal estará à venda, ao dispor de quem pagar mais.
É flagrante quebra de decoro. Não se irá discutir se apenas ele diz, mas não faz, em contraste com os que fazem, mas não dizem. Cabe comparar as duas situações, a dele e a do senador Ney Suassuna, que falou até mais, quando denunciado no escândalo das ambulâncias: todos vendem voto no Congresso.
A respeito, há um engano por arte da imprensa, ao noticiar que Suassuna pode escapar impune se não for cassado até terminar o mandato em 31 de janeiro. Não é verdade. A punição por corrupção implica também a suspensão dos direitos políticos por oito anos. Não há por que sustar o processo contra ele e contra os mensaleiros renunciantes, agora reeleitos. O Parlamento que se empossa em janeiro dirá a que veio.
Cabe refletir, entretanto, sobre o sistema eleitoral. Clodovil é fruto da aberração chamada voto proporcional. Não necessitou apresentar nenhum programa, nenhuma proposta, nada, absolutamente nada. Era apenas uma figura exótica, dizendo coisas engraçados na tevê. Se confrontado nos limites de um distrito com adversários diretos, como está acontecendo agora, na disputa para a presidência da República ou para o Governo de alguns Estados, teria de dizer o que pretendia ao se candidatar. Com facilidade seria desmascarado. Como aconteceu com Suassuna, ao disputar a reeleição para o Senado.

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