sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Os pecados da Anac - Jayme Copstein

O advogado José Carlos Dias, que assiste aos dois pilotos americanos envolvidos no acidente da Gol, faz uma advertência correta: é cedo demais para apontar as responsabilidades pela tragédia.
De fato. Trata-se de uma investigação demorada por sua complexidade e que tem de levar em conta detalhes pequenos, de difícil apuração. Toda a certeza que se tem, até agora, é que os dois aviões voavam à mesma altura e que uma falha de comunicação impediu que um deles mudasse o rumo.
A quem ou a que atribuir à falha, se aos pilotos americanos, ao Serviço de Proteção ao Vôo, se a equipamentos defeituosos ou se até a algo insuspeitado, só depois do exame exaustivo de registros e gravações que se encontram nas caixas pretas dos dois aviões e nos apontamentos das equipes de controle de vôo.
Até agora, o único pecado comprovado de verdade é o da Agência Nacional de Aviação Civil no trato com os familiares das vítimas. Uma das funcionárias da Anac, quando cobrada por suas respostas descorteses, respondeu ainda com mais rudeza: “Eu não sou psicóloga”.
É evidente que, criando sinecuras para correligionários do governo de plantão, a Anac nem de longe se assemelha à eficiência do velho e prestimoso DAC, o Departamento de Aviação Civil, comandado pela Aeronáutica.

Comentários:

Felipe Klein: No Brasil, sempre que ocorre um fato em que haja comoção geral, tenta-se promover uma caça às bruxas. Muitos acusam a mídia mas , o próprio povo tem sua parcela de culpa também ( vide o caso da Escola de Base, em São Paulo há alguns anos , onde os donos foram acusados de molestar crianças sexualmente. Foram absolvidos mas a moral deles foi exterminada).
Dia desses entrei no blog do jornalista americano e um comentário deixado por um leitor me chamou a atenção: "O que um Legacy fazia a 37 mil pés de altura?” Foi essa a pergunta de alguém que conhece o assunto, eu particularmente só sei que avião voa. A pergunta que me faço é: estão as autoridades desenvolvendo essa investigação com ares de xenofobia aos malvados capitalistas? Será que não devem concentrar o foco nas torres de controle?


Blog - Faltou gente capacitada na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para lidar com o acidente. Houve desde grosserias cometidas com os aflitos familiares das vítimas até a falta de informações, redundando em especulações de toda a ordem. Pode ser que, agora, com o fabricante do transponder fazendo “recall” de equipamento, alguém chame às falas o pessoal da Anac, para explicar a bagunça.

Ed Santos: Acho precipitadas e prematuras algumas acusações que tenho lido, sobre o acidente aéreo em Mato Grosso. Em acidentes com esta complexidade, não se pode tirar nenhuma conclusão, sem que todos os dados estejam disponíveis:
1 - A transcrição de todas as comunicações havidas entre o Centro de Controle e os pilotos; 2 - A decifração das caixas pretas dos dois aviões; 3 – Exame da gravação de vídeo dos radares do Centro (ou Centros) de Controle de Tráfego Aéreo; 4 - Depoimento dos controladores de vôo de serviço no Cindacta.
5 - Depoimento dos pilotos sobreviventes; 6 - Eventuais deficiências técnicas de cobertura, quer de comunicações, quer de radar, na área do acidente, já reportadas por outros pilotos que por ali voam regularmente.
Só então, de posse de todos esses elementos, será possível reconstituír o acidente. Nunca, antes, se poderá atribuir responsabilidades a uma ou mais partes.
Outro ponto importante: tem-se escrito muito sobre a falha do TCAS como fator provocador do acidente. Ora, o TCAS é um dispositivo de último recurso. O que é que falhou antes? Se o Centro de Controle tinha contato só com uma das aeronaves, por quê perder tempo e insistir em chamar a outra que estava sem comunicações? Simplesmente teria que: 1º - dar informação da situação ao piloto do Gol; 2º - Dar instruções ao piloto do Gol, que era o único que tinha comunicações com o Centro de Controle, indicando um novo rumo que este deveria seguir, de modo a que os dois aviões passassem com separação lateral segura. Este era o único procedimento seguro a seguir, não o de alterar a altitude do Gol, uma vez que se desconhecia a altitude do Legacy.

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