quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Em um país gracioso - Jayme Copstein

Com a notícia, já antiga, de que a Caixa Econômica Federal desistiu de mais de 35 mil ações na Justiça, vem outra, dando conta que os incréus de uma pequena cidade do Nordeste conseguiram rapidamente do juiz de Direito a proibição de o pároco local tocar os sinos da igreja de manhã cedo.
Os dois casos retratam a Justiça brasileira. Se depois de tanto tempo, por derrotas sucessivas em pendengas anteriores, a Caixa se convenceu que não tinha razão nos 35 mil processos, a sua manutenção durante anos, com interminável recurso aos tribunais superiores só significa litigância de má-fé. Não é para menos que todos esses processos se referem à correção garfeada do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Não só a litigância da má-fé da Caixa não mereceu nenhuma objeção do Judiciário como jamais foi movida uma palha para investigar a caixa preta do FGTS. Onde foi parar o dinheiro garfeado?
Em compensação, na hora, ali na batata, a igrejinha nordestina foi proibida de tocar seus sinos, porque alguns incréus dorminhocos alegaram que lhes perturbava o sono. No meio de tanta roubalheira, de tanta incompetência, de tanta omissão, é espantoso que a única coisa que não os deixe dormir são as badalações de um padreco.
Quem tem razão é o Manoel, o filósofo português que não vê necessidade de inventar piada de brasileiro. É um país realmente muito gracioso.

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