sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Finados e Todos os Santos – Jayme Copstein

Feriadão à vista, de repente a nostalgia de uma profissão que ficou lá atrás, com a devoção das pessoas: os sineiros. Onde estão os sineiros que chamavam os fiéis para a missa, festejavam a Aleluia ou dobravam Finados? A eletrônica os transformou em passado, como a devoção dos fiéis que agora engrossam outras procissões, não a dos caminhantes carregando velas para pagar promessas a Todos os Santos, mas as dos automóveis que levam as pessoas para a praia.

Estaria morrendo, também, esta tradição de recordar os mortos, que tem quase mil anos, criada em 1040 pelo abade Odilo, no Convento de Cluny, na França? Houve tempo em que, em 2 de novembro, as emissoras de rádio não se ocupavam nos Postos de Fiscalização da Polícia Federal, contando quantos carros passam por minuto. Passavam o dia tocando música clássica, o que fez o povo das ruas associar Debussy,.Mozart, Beethoven ao luto e chamar a sua música de "funeral".

Já naquela época as pessoas se distanciavam do sentido que o Abade Odilo pretendera dar à efeméride. Mantinham um silêncio temeroso das "almas do outro mundo" – "não é bom mexer com essas coisas" – e mais rezavam para se proteger que para resgatar as almas cujos pecados mais leves – os veniais – as tinham levado ao purgatório, de onde podiam ser resgatadas para o céu, através de orações.

Era para isso que o Dia de Finados tinha sido criado, aliás, como complementação ao Dia de Todos os Santos, tradição bem mais antiga, no qual os fiéis rezam a todos os que morreram redimidos de seus pecados. Crêem que estas almas puras, estando no paraíso, podem interceder junto a Deus pelos que ainda perambulam por este vale de lágrimas. Pede-se a estas almas não o perdão dos pecados, que só Deus pode conceder, mas para proteger os fiéis das tentações e preservar seu estado de graça.

O Dia de Todos os Santos com toda a certeza foi criado por Efrém, doutor da Igreja, que vivia em Antioquia pelos idos do 4º século da nossa era. Primitivamente foi comemorado em 13 de maio para reverenciar todos os mártires do cristianismo. Quem mudou a data para 1º de novembro, foi o Papa Gregório IV, no 9º século, por um motivo nada religioso: o número de peregrinos a Roma, por ocasião de Todos os Santos, era de tal ordem, que havia – época – dificuldade para alimentá-los. Maio é primavera na Europa e as safras agrícolas do ano anterior já tinham sido consumidas em mais de metade. Não havia comida suficiente para atender a todos os romeiros. Então, Gregório IV escolheu 1º de novembro porque, nesta época, a colheita do outono já está concluída, solucionando os problemas de abastecimento.

Feira do Livro

Feira do Livro de Porto Alegre pela 55º ano consecutivo. É um recorde. A propósito, uma frase de Jorge Luiz Borges: "Que os outros se gabem das páginas que escreveram. A mim orgulham-me as que tenho lido." Pois em cada barraca da Feira da Alfândega, até 15 de novembro, vocês encontram motivos de sobra para se orgulhares de si mesmos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Chaves no Mercosul - Jayme Copstein

"Se existe preocupação com a evolução democrática ou dos direitos humanos na Venezuela, a forma para equacioná-la é inseri-la nos mecanismos de defesa da democracia existentes no Mercosul". A frase não é de Madre Teresa de Calcultá, colhida em alguma sessão espírita, mas do obediente senador Romero Jucá (PMDB – Roraima), líder do Governo, defendendo a entrada da Venezuela de Hugo Chaves no MERCOSUL.

Jucá apenas repetiu argumento que seria calhorda, não escondesse o servilismo ideológico do diplomata amador Marco Aurélio Garcia, mentor dos fiascos que o Itamaraty tem protagonizado nos últimos tempos. Ele precisava apenas fazer alguma figuração na sessão do Conselho de Relações Exteriores do Senado, pois contava mais que o dobro dos votos oposicionisas. A aceitação de Chaves eram favas contadas. Mas o próprio Jucá não acredita que a cegonha traga as criancinhas e para esconder que apenas cumpria ordens, acabou discutindo asperamente com alguns de seus colegas, para liquidar a questão. Parecia ter pressa em aprovar o ingresso e sair correndo para acompanhar Lula na visita que faz hoje a Chaves, para lhe dizer: "Missão cumprida, chefe! Qual a próxima tarefa?.

O Mercosul não é nenhum sucesso porque já nasceu torto – e coisa melhor não se poderia esperar das mãos de Zé Sarney, então governando o país por azar de todos nós. Na prática só favoreceu a indústria pesada paulista, com grandes prejuízos para a agricultura do Rio Grande do Sul, notadamente a rizicultura que teve de enfrentar o pesado contrabando de arroz praticados pelos "hermanos", e também a triticultura, arruinada por longos anos e só agora começando a recuperar seu terreno. Isso, sem falar no contumaz desrespeito dos argentinos do que resultou a falência da nossa indústria calçadista.

Afora a calhordice da conversão de Chaves ao bom mocismo, outro argumento falacioso do Governo brasileiro é o desempenho da Venezuela na balança comercial com o Brasil. De fato, as importações venezuelanas do Brasil multiplicaram-se por oito nos últimos anos, mas isso só aconteceu porque Chaves rompeu com o Pacto Andino. Ele não tem temperamento para conviver em organizações democráticas. Manda, não pede, grita, ameaça, bagunça, desagrega e está ansioso por alguma aventura bélica que o consagre como o novo Napoleão das Américas.

Esperar que Chaves faça seu discurso de ingresso no Mercosul com um saco de cinzas na cabeça, como os reis quando se penitenciavam ante o Papa em Canossa, é acrescentar Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa ao mito da cegonha. É só o que falta para terminar de vez com o MERCOSUL de Sarney.

Contra as drogas

Quem é contra a liberação das drogas tem encontro marcado npo Bric da Redenção neste domingo. Por iniciativa da Juventude Revolução, Pastoral da Juventude e do Grêmio Estudantil da Escola Técnica de Portão, haverá caminhada de protesto. Os jovens querem alertar as autoridades e a sociedade que desejam uma vida sadia – formação moral e intelectual, e diversão sadia – e não ficar à mercê de bandidos traficantes. Concentração às 10 da manhã no Monumento ao Expedicionário.


 


 


 


 

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um rio de problemas – Jayme Copstein

Enquanto o Rio de Janeiro se contorce na violência da guerra sem fim entre traficantes e policiais, outra notícia chama a atenção: o inexplicável e volumoso ingresso de dólares. O Ministério da Fazenda tomou providências para sustar o derrame e evitar a valorização do real, superior às demais moedas do mercado financeiro internacional, que pode liquidar com nossas exportações.

É verdade que há grandes investimentos vindos do Exterior, para comprar empresas brasileiras que, apesar do otimismo do Governo, não saíram bem da crise. A Folha de São Paulo de ontem ("Estrangeiros avançam no álcool brasileiro") estampou matéria sobre a presença de multinacionais no setor sucro-alcooleiro, mas as inversões divulgadas parecem ficar aquém da soma dos dólares que nos chegam.

Mas, o que teria isso a ver com a violência que fustiga o Rio de Janeiro? Anteontem, em sua coluna "Circo da Notícia", publicada no portal eletrônico "Observatório da Notícia" em poucas 30 linhas, o jornalista Carlos Brickmann fez observações que fazem pensar e despertam desconfianças.

"É o helicóptero caindo, explodindo", escreve Brickmann. "São os policiais militares morrendo na queda, tudo filmado pela TV, tudo fotografado em cores pelos jornais, tudo noticiado no momento pelo rádio, tudo atualizado a cada instante pela Internet. São os favelados fugindo de casa, sem ter para onde ir, para escapar ao fogo cruzado dos grupos rivais de traficantes e da Polícia. É o cadáver no carrinho do supermercado, é o corpo transportado num carrinho de pedreiro, é policial matando, é policial morrendo. São entrevistas meio sem sentido, dadas por gente que não sabe muito bem o que está ocorrendo (ou, o que é pior, que sabe muito bem o que está ocorrendo)."

Brickamnn prossegue: "O Rio tem problemas imensos, inclusive de segurança, inclusive de requalificação moral de parte da Polícia. O que a imprensa não vem mostrando é que, nesta guerra de quadrilhas, nesta guerra com a Polícia, tudo vem de fora: o Rio não produz cocaína, não produz fuzis de longo alcance, não produz lança-foguetes, não fabrica munição. Essas coisas vêm do Exterior; portanto, não haverá policiamento possível apenas nas fronteiras do Rio. É preciso bloquear a entrada de armas, é preciso vigiar as fronteiras, é preciso mapear e cortar as rotas de suprimento de drogas, de munição, de material de guerra. É preciso governar."

Precisão milimétrica, a da análise de Brickmann. Daí, a pergunta: e a enxurrada de dólares? Onde fica a sua nascente? No mesmo lugar de onde saíam os financiamentos para o vai-e-volta dos jogadores de futebol no mercado internacional? São meras perguntas. As respostas é que não o são.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

As duas Liberdades – Jayme Copstein

Quem está de aniversário hoje, colhendo 123 primaveras no jardim da existência, como se escrevia nos jornais antigos, é a Estátua da Liberdade, erguida na Baía de Nova York, inaugurada pelo presidente norte-americano Grover Cleveland, em l886. Foi presente dos franceses, idealizado em 1875, para as comemorar o primeiro centenário da Independência dos Estados Unidos no ano seguinte. Mas passaram-se 11 anos até sua inauguração na Ilha de Bedloe, assim batizada por ter sido comprada em 1660 por Isaac Bedloe. O nome foi mudado para Ilha da Liberdade em 1956.
A demora deveu-se, primeiramente, à dificuldade de arrecadar o dinheiro para construí-la. A campanha de subscrição popular só tomou verdadeiro alento quando Joseph Pulitzer empenhou o apoio de seu jornal, The World. A segunda dificuldade era construir o pedestal para apoiar as 156 toneladas de peso da estátua de cobre e ferro, considerando-se os ventos de 80 quilômetros por hora que a fazem oscilar. Foi uma verdadeira façanha técnica que projetou mundialmente o nome de um jovem engenheiro, Gustave Eiffel, mais tarde também perpetuado na Torre que é o símbolo de Paris.
Eu poderia escrever bem mais sobre as portentosas curiosidades em torno desta Estátua da Liberdade, mas são coisas que se acham com facilidade na Internet. Prefiro é falar da Estátua da Liberdade da cidade do Rio Grande, na Praça Xavier Ferreira, toda esculpida em mármore de Carrara, suponho, e da qual pouca gente sabe..
Não dá para comparar os dois monumentos porque a nossa é mais modesta. Com uns 20 metros de altura, somando estátua e pedestal, nem de longe se aproxima dos quase 92 metros da americana (só a estátua tem 46,50 metros) . Também as histórias são diferentes. A nossa Liberdade não nasceu propriamente como tal, mas como homenagem à Princesa Isabel, pela abolição da Escravatura, em 1888, por iniciativa da Câmara Municipal.
Naquele tempo, os municípios não tinham prefeituras. Eram governados só pelos vereadores. Fazia papel de prefeito o presidente da Câmara. Era, em 1888, alguém a quem o povo havia apelidado de "seu Rosca". Gente que conviveu com ele falava das suas dificuldades com a língua portuguesa.
A construção do monumento já estava andando, quando sobreveio a República em novembro de 1889 e o culto à Familía Real não era visto com bons olhos. A Princesa foi trocada pela República, com o barrete frígio, e as inscrições "Salve Isabel, Redentora dos Escravos", "13 de maio de 1888" mais a nominata dos vereadores foram substituídas por "Liberdade", "Igualdade", "Fraternidade" e "15 de Novembro de 1889".
No dia da inauguração (15 de novembro de 1890), a Praça encheu-se de gente. É fácil imaginar-se os cavalheiros de fraque e cartola, as senhoras com os largos chapéus emplumados e os longos vestidos que as escondiam do pescoço aos pés. A banda tocou alguns dobrados – em moda, com os militares no poder – e o seu Rosca tossiu um pigarro, antes de anunciar com eloqüência:
- Declaro inaugurada a "estauta".
Todos riram e alguém, do meio da multidão, gritou:
"Muito bem, seu Rosca!".
Seu Rosca não teve dúvida. Voltou-se na direção da voz e retrucou:
"Rosca é o @#% da mãe!".
Li esta história no "Bisturi", jornal humorístico daquela época, ao alcance de quem quem quiser consultá-lo na Biblioteca Riograndense. Pena que o repórter não contou o fim da festa. Não é difícil, porém, imaginar-se o caos que se seguiu.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Parábolas – Jayme Copstein

Fica-se sabendo da notícia e não há como não passar o resto do dia sem elucubrar sobre tão notável decisão: Zé Sarney vai desativar seu memorial. É uma grande perda para a humanidade e também para a vasta lista dos "nunca na história" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Memorial erigido em vida e pelo próprio homenageado, com toda a certeza era o único no mundo. Todos os demais foram homenagens de discípulos e admiradores.

A única conclusão possível é a de que o grande taumaturgo do Maranhão entrou em penitência. Ele, cujo maior milagre foi a multiplicação dos pães e das bolachinhas de genro Jorge Murad, sem contar o "crescei-vos e multiplicai-vos" da devota Família Sarney pelas suculentas tetas do Erário Público, expôs sua vida e obra no altar da História. E então, na hermética parábola eleitoral de Lula da Silva, a da aliança de Jesus e Judas, surgiram as mesmas palavras misteriosas que assombraram o festim de Baltasar na velha Babilônia: "Mane, tecel, fares – contado, pesado e dividido".

Convocados, os profetas concordaram na essência, mas divergissem na forma: "Contado, pesado e dividido irmãmente, deu pra tua bolinha," decifraram uns. Com certa leviandade, "Desta vaca não sai mais leite!", interpretaram outros. Mais objetivos, porém, acrescentaram: "Está na hora de cantar em outra freguesia."

Ciro? Serra? Ou viola no saco?

A propósito...

"Não te eleves como um touro no pensamento do teu coração: por não suceder que fique a tua força enervada pela tua estultícia e que ela consuma as tuas folhas, e perca os teus frutos, e que tu venhas a ficar como uma árvore seca no deserto." Está no Eclesiástic (6,2).

Coletiva.Net, o ponto de encontro dos jornalistas, radialisdtas e publicitários do Rio Grande do Sul, encerra as comemorações do seu 10º aniversário com festa, dia 4 de novembro, 8 da noite no Teatro do Bourbon Country, onde também será lançada a revista "Coletiva especial 10 anos". O portal foi criado por José Antônio Vieira da Cunha, José Luiz Fuscaldo e Luiz Fernando Moraes bem no exato momento em que os celulares e a Internet definiram a nova fronteira das comunicações. O diagnóstico perfeito do que estava ocorrendo revela-se na permanente renovação de forma e conteúdo, e aí está o segredo do sucesso de Coletiva.Net: a percepção de que sucesso deixa de sucesso se não se renova todos os dias.

Congresso dos Municípios

"Municipalização dos Serviços Públicos, suas causas, conseqüências e desafios" é o tema do
II Congresso Brasileiro do Municipalismo, programado de 4 a 6 de novembro, promovido em conjunto pelo Tribunal de Contas do Estado, Assembléia Legislativa, Prefeitura de Porto Alegre e Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul e Associação Brasileira de Municípios com seus respectivos filiados. Esperados mais de 600 participantes, além de nomes de projeção do Direito e da `Política, especialmente convidados.

domingo, 25 de outubro de 2009

Os esbanjadores de talento – Jayme Copstein

Sábado estive no Nova Olaria para colher o autógrafo de Maria Luiza de Carvalho Armando em ""Pelos caminhos do mundo", título que não dá idéia do tesouro de poesia que o livro contém. Maria Luíza teve como berço a confluência de duas famílias tradicionais do Rio Grande do Sul. , dela fazendo parte Vera Armando, Adel Carvalho, Dinarte Armando e Paulo Armando, isso para citar apenas alguns nomes.


 

O que caracteriza e dá unidade à família, afora laços de profundo afeto, é o esbanjamento de talento. Adel Carvalho ("Por mais contas que se façam, / ninguém se apossa da verdade") deixou nome como empresário e político e terá chamado a atenção pelos discursos que fazia em versos, quando vereador à Câmara Municipal de Porto Alegre. De Paulo Armando, grande poeta da geração dos anos 1940 ("Estas ruas eu não sei / Mas acho que não têm fim. / Pra onde vai este bonde / Por ruas que nunca andei."), sobrou apenas o que ele próprio incluiu em dois livros ("Madrugada Desespero" e "Diagrama"). O resto, que não foi pouco, ficou pelos muitos bares que freqüentou, em Rio Grande, sua terra natal, em Porto Alegre ou no Rio de Janeiro onde viveu e morreu moço. Fui testemunha, certa feita, na Confeitaria A Dalila, em Rio Grande, quando escreveu um poema em um guardanapo e entregou a uma jovem bonita que lhe despertara a atenção, em mesa próxima. Se o guardanapo ainda existe ou se o poema tem agora outro nome e dono ou dona, não há como saber.


 

Com Dinarte Armando, também falecido precocemente, a devastação foi pior. Capaz de textos admiráveis, do lírico ao mais engraçado, encantava a audiência da antiga PRH.2 com a crônica do cotidiano "Bilhete para você" ou a fazia cair na gargalhada com o humorístico "Bola Murcha", gozando os torcedores do Grêmio e do Internacional. Mas, indisciplinado por natureza, não guardava nada do que escrevia. Depois da leitura ao microfone, simplesmente amassava a lauda e a jogava na cesta do lixo.


 

Fui tão longe nesta divagação porque é aí que as coisas se juntam. Dinarte e eu dividíamos a mesma sala na velha Rádio Farroupilha. Certa tarde, muito comovido, falou-me de uma menininha que perguntou para onde iam os dias que passavam. Não me disse quem era, deu-me a impressão de viver na mesma pensão em que ele morava. E escreveu um "Bilhete" comovedor. Pois abro o livro de Maria Luiza de Carvalho Armando e dou com o poema que ela preservou: ("..., tu não perguntes nunca, / para onde foram os dias que morreram / e morrendo, foram levando os dias /dos que estavam à margem dos caminhos".


 

Descubro que a menininha da pergunta era ela, e descubro mais: ao três anos de idade, a poeta Maria Luiza de Carvalho já fazia versos porque a poesia, longe de ser metáfora, é a indagação permanente que se faz à vida, e que ela seguiu fazendo pelo tempo afora, como o leitor pode sentir em "Retrato de aniversário" (página 129): "Não era meu retrato. Esta sede / que a pedra não expressa, / esta surpresa, / este medo, esta mágoa, esta dureza,/ essa ternura. // Não era nada eu. / Não começava / onde começo eu. / Onde me espanto / não era que a figura se espantava. / Não ria como rio e não olhava / a boca escancarada – como eu olho. // (...). O livro de Maria Luiza de Carvalho Armando, também belo projeto gráfico da própria autora, pode ser encontrado nas livrarias da cidade, principalmente na Bamboletras do Nova Olaria (Rua Lima e Silva), onde foi lançado..


 

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Jesus e Judas – Jayme Copstein

Convenhamos, a gritaria provocada pela declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, juntando Cristo e Judas em uma aliança, denota mais hipocrisia que indignação. O Presidente, homem de instrução formal deficiente, a cujo exercício diário de originalidades e excentricidades verbais já estamos todos habituados, fez diagnóstico tosco, porém preciso, da realidade brasileira.

"Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".

Esta é a frase mais verdadeira que qualquer político cunhou, da Proclamação da República em diante. A crítica que se pode fazer ao seu autor é a de ter mandado os escrúpulos às favas para saciar suas ambições pessoais. No que, aliás, sequer é original: Zé Sarney o fez para conseguir cinco anos de mandato, tal como Fernando Henrique Cardoso, para reeleger-se. Collor quis ter a sua própria caterva e foi posto no olho da rua.

Poder-se-ia retroagir mais de 100 anos, até o 15 de Novembro de 1889, para assistir aos positivistas, a pretexto de democratizar o país, instaurando uma ditadura e pervertendo o sistema eleitoral com o voto proporcional, evoluído da lista ao da indicação nominal, apenas para dar ao eleitor a ilusão de que escolhe seus representantes. De perversão em perversão, desembocaram em verdadeiro pátio dos milagres, onde todos se especializaram em arrombar os cofres públicos.

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser criticado pelo desabafo, não há como fugir da indagação: se ele sabe a verdade e nada faz para mudar as coisas, quem é Jesus e quem Judas na falada coalizão?

A propósito...

Lula acaba de ordenar à sua tropa de choque mobilização ampla, geral e irrestrita para exigir lealdade da "base aliada" e liquidar a CPI do MST. Espera-se com grande curiosidade a reação da deputada estadual Stella Farias (PT-RS) porque a tática, a do banho-maria, é a mesma que a tem indignado aqui no Rio Grande do Sul, em relação à CPI do Detran. A não ser, é claro, que a ilustre parlamentar tenha alguma contribuição à notável Teoria Geral das Coisas e das Cuecas, formulado pelo irrevogável senador Aloízio Mercandante e comprovada na prática pelo sábio professor Enro Loll, da Sleevetea University of Big River: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Coisaram?

Mural

O jornalista Hilton Almeida comenta: "Toda pompa e circunstância de que desfrutam os príncipes árabes chegaram até nós pelo pré-sal. O acampamento do nosso Presidente às margens do Velho Xico, para passar três dias em comícios, vistorias de alguma obra, descanso e pescarias com D. Dilma, custou cerca de três vezes o valor da casa de D. Yeda, que tanta celeuma causou. Pelo volume dos gastos, nada se fica devendo às tendas dos mais badalados emires do petróleo."

A feminista Mariza F. Ranulfo – ela assim se intitulou – manifesta desconformidade com "mulheres petistas arrogando-se o direito de falar em nome das mulheres gaúchas". Ela critica: "Refiro-me a nota que dirigiram à bancada do PT na Assembléia Legislativa, justificando a agressão de Raul Pont à deputada Zilá Breitenbach porque ela 'apresentou um parecer na contramão do que pensam 62% das (os) gaúchas (os), conforme pesquisa realizada pelo Ibope'. É como se frauda uma pesquisa e se tenta iludir a opinião pública: 62% das mulheres gaúchas aprovaram a grosseria do deputado Raul Pont? Não foi o que o Ibope disse."    


 


 

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

As velas de Santa Maria – Jayme Copstein

Eu era guri quando li nos jornais, pela primeira vez, sobre o golpe do bilhete premiado. Quase 70 anos passados, não me admiro que ainda haja gente, e muita gente, caindo no logro porque o vigarista e o otário são os espécimes mais antigos da estirpe humana. Pensei nisso ao ler que o e-mail de um consultor da Nasa se congestionou com mensagens de pessoas afligidas pelo boato de que o mundo vai acabar em 2012, quando o planeta Nibiru chocar-se com a Terra.

O mito nasceu do fato de serem conhecidos, no calendário maia, apenas cálculos astronômicos até 2012, sugerindo aos espíritos mais crédulos profecias de apocalipse. David Morrison, cientista da NASA, comenta que o fato de a "folhinha" que ganhamos de presente todos os anos terminar em 31 de dezembro, não significa o fim do mundo, mas apenas que necessitamos de uma nova "folhinha". A irrelev|ância, porém, tem sido aproveitada por escritores de ficção científica de qualidade duvidosa, destacando-se entre eles Zacharias Sitchin, inventor do tal planeta no romance "The Twelfth Planet" ("O 12º Planeta"), de cuja existência alegava ter encontrado provas em documentos sumérios.

Escrita em 1976, quando andou em voga esta subliteratura, estilo "Eram os deuses astronautas", a história incluía visitas de Ets à Terra e traçava órbita de 3.600 anos em redor do Sol para o planeta, identificado depois como "X" ou Nibiru, por uma senhora que alegava ter comunicação com alienígenas, mas que errou feio na data do Apocalipse. Ela previu o choque para 2003. Como nada aconteceu, a grande catástrofe foi convenientemente adiada para 2012.

Não vai acontecer nada em 2012 por mil razões, como na velha anedota. A primeira é que o planeta Nibiru não existe. As demais razões não Têm a menor impoirtância. Mas de novo me remeto à infância, quando morei alguns meses na casa de meu tio Maurício em Santa Maria, naquele tempo, Santa Maria da Boca do Monte. Surgido ninguém sabe como, um boato de que o mundo ia acabar em um dia próximos, o qual dia já não consigo lembrar porque naquela idade não cuidava de pormenores. A cidade ferveu de medo e todos os devotos se apressar em comprar velas benzidas pelos dois párocos locais, para alumiar as trevas finais.

Até aí tudo bem porque a resignação é a virtude dos crentes, mas em outro de repente, novo boato: só valiam as velas sacramentadas por um dos párocos que era santo, o outro, não. Como ninguém dizia qual era e qual não era, estourou a polêmica, com o rebanho dividido: dois bandos em mútua demonização, um terceiro, o da Irmandade da Eterna Prudência, comprando mais velas para fazê-las benzer também pelo "outro" pároco.

O que estava por trás disso não tenho como saber. Quase setenta anos é tempo demais até para formular hipóteses. Fosse, porém, historiador em Santa Maria, eu haveria de pesquisar entre os fabricantes de velas da época, para saber qual deles era o profeta mais bem dotado. Os dois padres nada cobravam pela bênção.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A velha Polícia – Jayme Copstein

É patética a realidade evidenciada pelos traficantes do Rio de Janeiro, da falência do Estado Brasileiro. Os bandidos travam suas guerras particulares pelo controle dos pontos de venda sem o menor temor da Polícia, a quem enfrentam eventualmente. O resto é uma algaravia de pseudo-acadêmicos, desdobrando mil teorias que vão do bom-mocismo calhorda a contabilidades exóticas, comparando número de baixas entre bandidos e policiais, torcendo para que as dos policiais sejam maiores.

Não se toca no essencial, na estrutura herdada do regime militar, quando a velha Polícia, que todos conhecíamos, admirávamos e amávamos por se responsabilizar pela segurança do cidadão, foi transformada para que pudesse servir à segurança do Estado. Ao lhe dar funções judiciárias, a ditadura dissimulou as arbitrariedades da repressão política que, em certos momentos, baixou ao nível da delinqüência comum. Foi quando, tal qual uma Gestapo ou uma KGB dos trópicos, a velha Polícia desaprendeu a arte de investigar e prevenir, e especializou-se em métodos de arrancar confissões e acomodar provas.

Não se precisa dizer que, em uma democracia, uma Polícia assim anacrônica não tem muito o que fazer. Mas como na cabeça dos governantes, cidadão só serve mesmo é para votar – criar os juizados de instrução devolver à Polícia seu verdadeiro papel, treinando-a, equipando-a e remunerando-a com salários decentes, não são obras que se possa exibir em campanhas eleitorais. Nem superfaturar para recompensar os amigos do peito e os aliados de ocasião.

Enem, Enade

Nem bem decorrido um mês do escândalo do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), policiais rodoviários encontraram anteontem, sem nenhuma proteção, provas que serão aplicada no Enade, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, marcado para 8 de novembro. As provas estavam dentro de 52 caixas sem lacre, em uma camioneta que as transportava de São Paulo para Muriaé, interior de Minas Gerais. O veículo foi interceptado em Três Rios, no Estado do Rio de Janeiro, e o material foi apreendido porque não conferia com o discriminado nas notas de transporte, onde havia referência apenas a "folhas de resposta". Na verdade, tratava-se de cadernos de provas de diversas áreas, como direito, comunicação e turismo.

Desta vez, a empresa responsável pela organização das provas é a Consulplan, já envolvida em incidente aqui no Rio Grande do Sul, quando organizou as provas para concurso público aberto para preencher vagas do Tribunal Regional Eleitoral. A quebra do sigilo teve como consequência a anulação do concurso. Os inscritos receberam devolução do valor das inscrição pelo TRE-RS.

.Se somarmos o fato de duas das três empresas envolvidas na encrenca do Enem, uma delas, algo está cheirando pelo reino que não é da Dinamarca. A primeira é a Cetro, acusada de fraude na apresentação de documento para provar sua experiência em concursos. A segunda é a própria Consultec que também organizou os vestibulares para a Universidade Federal da Bahia, adiados dois dias antes da sua realização em fevereiro deste ano, pelo mesmo motivo: vazamento das provas.

Vai acontecer

Hoje, 7 da noite, Livrartia Cultura (Boubon Country), Marco de Curtis autografa "O Girassol na Ventania e outras histórias." A partir de amanhã (das 1um da tarde em diante), até dia 26, 3º Salão do Imóvel no 5º andar do estacionamento do Shopping Iguatemi. Casas e apartamento de 40 mil a 2 milhões de reais.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O olho da rua – Jayme Copstein

Nada contra o sistema de bloqueio pela Internet, de contas bancárias de empresas recalcitrantes em pagar seus credores. Até pelo contrário. Apenas a estranheza: se a Justiça não vê dificuldade em bloquear, como nos últimos quatro anos, R$ 47,2 bilhões em contas, por que resiste à teleaudiência com criminosos de reconhecida periculosidade, cujo deslocamento, das penitenciárias aos foros, exige complicado e perigoso aparato de segurança com desembolso de verbas que teriam destino mais adequado se aplicadas na melhoria das condições dos presídios?

É uma incoerência. Juízes explicam sua oposição à teleaudiência, alegando que, sem o "olho no olho", não podem saber se o réu não está sendo coagido por outros criminosos ou até pela autoridade, a confessar o que não fez? "Sancta simplicitas", como disse o tcheco Jan Hus, no século 15, à velhinha que pôs um graveto na fogueira onde ele estava sendo churrasqueado por se meter a reformar o cristianismo. Ou acaso alguém acha que o ladrão de galinhas, certo de que voltará ao presídio depois da audiência "olho no olho", não confessará o assassinato do faraó Akhenaton no século 14 antes de Cristo, se assim lhe ordenar o líder do "comando"?

Advogados estrilam contra o bloqueio de contas pela Internet, alegando o risco de prejuízos insanáveis. Só o papel garante a ampla defesa. Já é um progresso. No tempo de Jan Hus, achavam que era só o pergaminho... Claro que a indisponibilidade de todo o dinheiro da empresa pode levá-la a dificuldades, por lhe tirar os meios de pagar cheques, saldar compromissos com fornecedores e até pagar seus empregados, eles alegam. Mas basta destinar uma conta com fundos suficientes quando se pretende contestar a inexistência ou a inexatidão do débito. Do outro lado da moeda, estão os tramposos profissionais, hábeis em matar os credores "no cansaço", seja obtendo suculentos descontos ou pura e simplesmente caloteando-os, em nome da inviolabilidade do sigilo bancário.

No outro lado da outra moeda, a da teleaudiência nos juizados criminais, os delinquentes perigosos libertados para gozar de absoluta impunidade porque faltou quem e o que os transportassem para o "olho no olho". Simplesmente foram parar no olho da rua.
Mural

Maurício Moraes de Azevedo, aposentado, escreve: "O Sr. Lula afirmou que a Vale deve agregar valor ao produto, não quer só exportar minério! Quer divisas para o país! Será que só agora ele aprendeu o que significa agregar valor ao produto? A Varig recebeu um sonoro não do Sr Lula e Dirceu. Ela agregava valor ao produto: a sua manutenção."!

Professor Joacy de Abreu Faria  aplaude a referência a Revocata Heloísa de Mello (coluna do dia 14): "Justíssima a evocação da memória de Revocata de Mello - ilustre desconhecida da geração atual - em tua crônica de hoje. Personagem de singular força criadora pela contribuição dada à cultura por suas andanças no Extremo Sul, foi ela preceptora  na formação humanística de nosso saudoso professor Luiz Emilio Leo - que magistralmente soube, com o entusiasmo oratório que o caracterizava, difundi-la tanto no ensino da língua pátria como nas preleções de Filosofia enunciadas." 

 
 


 

domingo, 18 de outubro de 2009

“Deus lhe pague” – Jayme Copstein

O comentário de Elio Gaspary, ontem, na Folha de São Paulo, sobre o rumo das telecomunicações no Brasil, faz lembrar "Deus lhe pague", de Joracy Camargo, sucesso de palco na década de 1930. Simplificando, o enredo contava a história de um falso mendigo, enriquecido com esmolas extorquidas à hipocrisia da sociedade.

Se a privatização livrou o Brasil do seqüestro de que fora vítima pelas gangues apossadas das antigas estatais, a incompetência e a corrupção de governantes – é difícil estabelecer a fronteira entre uma e outra, tão íntimas que são – entregou o país a uma nova malta de saqueadores, apenas mais espertos, porém não menos vorazes: cobram o resgate como o falso mendigo da peça, tostão por tostão.

É só fazer um cálculo rápido. Tomando-se apenas a metade arredondada da média entre o 1,07 e 0,07, preços máximo e mínimo cobrados pelas operadoras de celular, multiplicando-se os 25 centavos resultantes pelos 152.364.986 linhas móveis hoje ativas no país, segundo números da Anatel, chega-se ao assombroso faturamento conjunto de mais de R$ 38 milhões em cada minuto de uso desses aparelhos. Se fizermos modesto exercício de imaginação, supondo que essa rede imensa seja utilizada apenas 100 minutos em cada 24 horas, o faturamento diário totaliza quase 4 bilhões de reais. Faturamento diário, repita-se.

Não estão computados aí os serviços de banda larga, verdadeiros cágados se comparados aos dos Estados Unidos, Europa e Ásia, mas com toda certeza vendidos a preço das Ferraris da Fórmula 1. Na montanha de dinheiro reside a explicação para a despreocupação das operadoras em relação às multas supostamente milionárias que lhes são aplicadas pela Anatel.

Tudo nisso vem a propósito do estrilo de Otávio Marques de Azevedo, presidente do Grupo Andrade Gutierrez, referido por Gaspary em sua coluna, sobre a intenção do Governo de criar o provimento estatal de banda larga, para levar a Internet a todo o país e suprir a ausência do serviço em regiões cujos habitantes não têm renda suficiente, considerando-se os preços cobrados, para arcar com o "luxo" de se conectar com o presente.

O Grupo Andrade Gutierrez, associado ao Grupo Lafonte, de Carlos Jereissati da Oi, adonou-se recentemente da Brasil da Telecom. O episódio gerou falatório nos jornais, mas não teve consequências porque este é o país da impunidade ampla, geral, irrestrita e sacramentada. Contudo, um de seus executivos não vê inconveniente em qualificar a iniciativa do Governo de retrocesso e exigir a indissolubilidade do casamento com os novos "mendigos", já que o país em 1998 renunciou ao modelo de estatização. É como se nos dissessem que perdemos o direito de escolher o "mendigo" a quem dar a "esmola". Ou, melhor dito, de desalojar os "mendigos" que se adonaram dos "pontos", estabelecendo novo monopólio nas portas das igrejas.

Em um ponto, indiretamente, Azevedo da Andrade Gutierrez tem razão: o Governo não teria necessidade de estatizar nada caso se dispusesse a exigir das operadoras de telefonia que cumprissem o papel que lhe foi atribuído quando se adjudicaram às respectivas concessões. Mas como exigir-lhes algo mais que multas rituais, se o próprio Governo tornou-se cúmplice da batota, mudando a legislação para permitir o esbulho da Brasil Telecom, enquanto o filho do presidente da República fazia excelente negócio com um dos interessados? Falta-lhe moral para exercer a autoridade.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Assédio ou assalto? – Jayme Copstein

Não demora, tal como aconteceu com Daniel Dantas recentemente, o céu vai desabar sobre a cabeça de Roger Agnelli, presidente da Vale. É como acontecia nas velhas fitas em série: uma sucessão repetitiva de episódios, em que mudavam apenas o nome do filme e a cara dos personagens.

O repeteco é a campanha do Governo para se adonar da empresa que, quando "patrioticamente" estatizada, empregava apenas a sexta parte da mão-de-obra, rendia só 1/29 do lucro atual e tinha como valor de mercado pingues 8 bilhões de dólares, meros 6,4% dos 125 bilhões de hoje.

Quem quase colocou o pontos nos "is" foi a Folha de São Paulo em sua edição de anteontem, intitulando o editorial em que trata do assunto de "Assédio na Vale. O "quase" corre por conta do título. Certo seria dizer " Asssalto na Vale", pois não passa de mais um capítulo do banditismo que conta, em episódios anteriores, com os casos da Varig e da Brasil Telecom.

Juca de Oliveira

Falando em políticos, presente régio para vocês: Juca de Oliveira hoje, às 9 da noite, no Teatro do Bourbon Country, com "Happy Hour" texto de sua autoria, direção de Jô Soares. Juca de Oliveira é uma das grandes cabeças do teatro brasileiro. Ator e autor – talento maior em ambos – ele disseca a realidade brasileira com um humor que além das risadas deixa indagações no espírito do espectador: será este o país que nós queremos?

A propósito: além de ter uma coletânea de sua produção teatral selecionada por Sabato Magaldi para a antologia Melhor Teatro, da Global Editora, Juca foi contratado recentemente pela Band-News para dar seguimento ao espaço cultural anteriormente produzido e apresentado por Paulo Autran. Ele estréia depois de amanhã, segunda-feira, com "Devaneio", audições diárias, às 9h10 e 17h17, lendo e interpretando textos das literatura mundial.

Sucessão no Sinduscon-RS

Carlos Alberto Aita cumprindo roteiro de despedidas da presidência do Sindicato da Construção Civil do Estado (Sinduscon-RS), reuniu-se anteontem com jornalistas e apresentou Paulo Vanzetto Garcia, a quem transmite o cargo na segunda-feira, depois de amanhã, em jantar na Leopoldina-Juvenil. Ambos estiveram conversando sobre o Brasil da atualidade em que a construção civil, junto com o agronegócio, é um dos pilares do bom momento da economia. Aita cumpriu gestão profícua para a entidade, modernizando suas relações com a comunidade. Garcia a ela dará continuidade, exibindo visão criativa na abordagem de desafios que não serão poucos, com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 impondo grandes investimentos no setor.

Por falar nisso em...

Copa do Mundo de 2014, Jogos Olímpicos de 2016, como a Cida anda esburacada. Será que alguém pensa que pulo ao abismo é esporte olímpico? Ou está confundindo buraco de golfe com cratera de asfalto?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Coisas do Nobel – Jayme Copstein

Até agora repercute na imprensa mundial o Nobel da Paz atribuído ao presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, com escassos nove meses de governo. As pessoas se surpreenderiam ainda mais ao saber que seu nome foi indicado, no máximo, até 31 de janeiro, data limite para as inscrições, quando ele tinha apenas 11 dias na Casa Branca. A esse respeito, cabe assinalar que Jimmy Carter, apesar de ter sido o promotor do Acordo de Camp David, não dividiu com Menachem Begin e Anwar Sadat o Nobel da Paz de 1978, porque seu nome chegou à Comissão Julgadora fora do prazo. Só foi recebê-lo em 2002, como recompensa, não por alguma ação especial naquele ano, mas pelo largo tempo de atuação em defesa desses ideais.

A estranheza em relação a Obama é compreensível, mas descabida porque todos incidimos no erro de julgar que o Nobel da Paz é conferido apenas a quem teve êxito em sua ação para promover a paz, o respeito aos direitos humanos e à democracia. Com mais frequência ele é estímulo e encorajamento a quem tenha condições de fazê-lo. Por isso Barak Obama o ganhou com a aparente precocidade.

Há outros equívocos decorrentes do desconhecimento de como a láurea é atribuída, daí a formação de "comitês", abaixo-assinados, intervenção de governos desejosos de atrair os holofotes da mídia para seu país. Nada disso funciona. Todas as prováveis candidaturas sugeridas pelos jornais aos leitores não passa de tentativa de antecipar a informação, o que em nenhum momento deu certo. As comissões julgadoras caracterizam-se pelo mutismo absoluto sobre quem e como justificou a indicação, e os registros e atas dos seus trabalhos são lacrados por 50 anos. Tem-se até como certo que as bem-intencionadas campanhas por determinado vulto podem até prejudicá-lo pela necessidade dos julgadores de mostrar absoluta independência.

Há quem pergunte se o prêmio pode ser recusado. Pode. O francês Jean-Paul Sartre em 1964 não aceitou o Nobel de Literatura, dizendo à Academia Sueca de Ciência que não admitia ser julgado por quem quer que fosse. De outro lado, o regulamento é omisso no que diz respeito à cassação da outorga. O que aconteceria, por exemplo, se de repente, Barak Obama fosse acometido de furores bélicos e decidisse guerrear o mundo?

Tem-se que nem assim o Nobel lhe poderia ser cassado porque só são levadas em conta as circunstâncias do momento da outorga, pouco importando o que venha a acontecer dali por diante. Como o caso jamais se apresentou na prática, fica difícil saber-se se na prática a teoria é outra.

As mulheres e o Nobel

O fato de a norte-americana Elinor Ostrom
ser a primeira mulher a ganhar o Nobel de Economia, não significa que elas sejam raras na relação
dos contemplados. Assinala-se que foi uma mulher, a polonesa Maria Skłodowska - Madame Curie -- a primeira cientista a ganhar o Nobel duas vezes, o de Física, em 1903, dividindo-o com o marido Pierre Curie e Antoine Becquerel, pelas pesquisas no campo da radioatividade, e o de Química, sózinha, em 1911, pela descoberta do rádio e do polônio.


 

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A hora do adeus – Jayme Copstein

Está chegando ao Brasil o Kindle, chamado impropriamente de livro eletrônico, quando na verdade é, tal como o papel, é apenas um meio físico para registrar informações. Parece estar sendo esquecido, no debate a respeito, que livro, jornal, revista são conceitos diferentes, daí sua formatação diversa, apesar de todos serem registrados em papel com tinta de impressão, para serem lidos da mesma maneira.

O grande problema que se coloca não é o leitor. Este, depois de conhecer a nova tecnologia, há de agradecer ao papel pelos relevantes serviços prestados à civilização durante muitos séculos, porém vai lhe dizer adeus porque é chegada a hora, assim como o foi do papiro e do pergaminho. O grande problema é fazer sem traumas a transformação da indústria editorial que consome milhões de toneladas de matéria-prima e geral centena de milhares de postos de trabalho em cada país.

Mais recentemente, mesmo não tendo, ainda, se descartado definitivamente do papel, as empresas jornalísticas enfrentaram o problema, quando eliminaram linotipia, fotogravura, revisão, montagem e estereotipia, substituídos pelos programas de computador. Com exceção dos revisores, de mais fácil reinserção no mercado de trabalho, os demais eram profissionais cujo treinamento e especialização não serviam para mais nada. Se aí a transição já foi sofrida, imagine-se agora todo o aparato de distribuição e comercialização, tal como existe hoje, cedendo seu lugar a sistemas de baixamento de textos e vendas on line.

Com toda a certeza, não vai acontecer amanhã, ninguém precisa se apressar. Mas, com toda a certeza, também, vai acontecer depois de depois de amanhã. Então, é com começar a planejar.

Atentado à Constituição

Em flagrante atentado aos dispositivos constitucionais que asseguram a liberdade de pensamento e de informação, a Justiça de Brasília restabeleceu a censura, ao manter a probição ao jornal O Estado de São Paulo, de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, na qual é investigado Fernando Sarney, um dos amados pimpolhos de Zé Sarney. No tempo da ditadura militar, podia-se dizer que meteram o boi na barrica. Será que agora não dá processo por danos morais? Por danos imorais ao patrimônio público, a gente já sabe que não dá.

Começo do fim

O Tribunal Federal Regional do Rio Grande do Sul revogou a decisão de primeira instância que tornara indisponíveis os bens do deputado Luiz Fernando Záchia. Decisão unânime da Quarta Turma por não haver nenhum indício da participação de Zachial no caso do Detran.  Começa a ser desmontado o circo montado a partir dos ressentimentos do vice-governador Paulo Feijó, aproveitado com muita cvompetência pela oposição ao governo de Yeda Crusius.

Quarto Escuro

Maria Monteiro Panerai autografa "Quarto Escuro" hoje, às 6 da tarde, no Café Prawer, 2º andar do Bourbon Ipiranga.

É mais uma floração do seu talento, sacramentado pelos anos de sucesso no rádio e em livros anteriores.

Sinduscon-RS

Encerrando gestão na presidência do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado, em evento coordenado pela Todt Comunicação o engenheiro Carlos Alberto Aita reúne-se com jornalistas, hoje, às 7 da noite. É para conversar sobre a atuação da entidade, as perspectivas da construção civil em relação a programas do Governo Federal, com ênfase para as obras necessárias à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016. Aita apresentará também seu sucessor, engenheiro Paulo Vanzetto Garcia, diretor da GC, posse marcada para segunda-feira, dia 19.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Olhando para as estrelas – Jayme Copstein

Não se surpreendam com o título. É apenas a constatação de que existe vida para além do chiqueiro em que se transformou a política brasileira, de "a" a "z", ou para ser mais preciso, de Zé Sarney a Zé Dirceu. Então misturo coisas do mundo, do dia-a-dia e da história, porque é assim, com os pés plantados no chãozinho de cada dia, que a gente enxerga as estrelas.

Leio sobre o Nobel atribuído à norte-americana Elinor Ostrom, a primeira mulher a receber o prêmio na área da economia, e conto a vocês que sábado estive na festa dos 80 anos de vida da jornalista Lygia Nunes, a primeira mulher efetivada como redatora do Correio do Povo, nos idos de 1950.

Lygia estava linda como sempre, eu diria até mais que nunca, graças ao ingrediente hoje um tanto fora de moda, que as pessoas decidiram trocar pelo botox e pelo silicone: a felicidade de existir, de cultivar a família e os amigos, segundo uma maneira de ser que apaga a fronteira entre os dois. Ela não teve filhos, mas os sobrinhos, sobrinhos-netos e bisnetos lá estavam para desmentir o marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República, que gostava de citar um velho provérbio: a quem Deus não deu filhos, deu o diabo sobrinhos.

Veio à baila, a certa altura, o pioneirismo feminino nas redações dos jornais. Se Lygia foi a primeira jornalista profissional do Correio do Povo, Gilda Marinho a antecedera em muitos anos, ao ingressar em 1937 na Revista do Globo. Mas também não foi Gilda, como se tem dito, a primeira mulher a ser efetivada em uma redação de jornal. A primazia cabe a Revocata Heloísa de Mello, redatora-auxiliar do Diário de Pelotas, de 1882 a 1890. Antes, aos 18 anos, ela havia fundado e mantido, de 1878 a 1880,o semanário, "Violeta" que editava e escrevia em conjunto com a irmã Julieta de Mello Monteiro.

Hoje figura esquecida, Revocata protagonizou uma vida extraordinária, considerando-se a época em que viveu. Já em "Violeta", defendia a abolição da escravatura, idéias republicanas e direitos da mulher. Dois anos após ter deixado o Diário de Pelotas, ao retornar a Rio Grande, seguiu na mesma senda, fundando novo jornal, O Corymbo, que manteve durante 54 anos, até morrer, em 1944.

Eu já trabalhava na Gazeta da Tarde quando Revocata faleceu. Conhecia de vê-la em cerimônias cívicas e eventos culturais e me chamava a atenção o seu porte mignon e a pele muito branca, mas não a imaginava um figura importante a ponto de ser velada na sede da Loja Maçônica União Constante, oficiado seu funeral segundo o ritual da instituição, naquele tempo cerradamente masculina. Alguém que me falou na ocasião que, tendo presenciado acidentalmente trabalhos secretos da loja, a irmandade viu-se obrigada a iniciá-la.

Oswaldo Miller Barlém, do quadro social da União Constante, esclareceu que era mito. Contou-me mais de Revocata. Oradora portentosa, militante do Clube Gaspar da Silveira Martins que defendia o federalismo e o sistema parlamentar de governo, foi também fundadora do Clube Beneficente de Senhoras, com o apoio da Maçonaria Riograndina, tendo se destacou por décadas, em suas diretorias, várias das quais presidiu. Os relevantes serviços que aí prestou lhe valeram o título honroso de Benemérita da Maçonaria Riograndense, daí a derradeira homenagem da Irmandade.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Política e literatura – Jayme Copstein

Remexo em velhos papéis, um tanto para pôr em ordem o que merece ser posto em ordem, outro tanto para descartar coisas inúteis que ocupam espaço e impedem a reciclagem do papel onde foram escritas. De repente, defronto-me com uma entrevista de Érico Veríssimo – Um brasileiro tranqüilo – que colhi para a revista "Cláudia", em 1968.


 

Há alguns anos, falando com a professora Maria da Glória Bordini, que organizou o acervo de Èrico, ela me objetou faltarem ao texto as perguntas que o tinham originado. Durante algum tempo, cavoquei a memória para ver conseguiria catá-las tanto tempo depois. No fim convenci-me da impossibilidade da tarefa. Tudo o que me lembro é de ter chegado na casa da rua Felipe de Oliveira, começado a conversar enquanto Leonid Straliev o fotografa com a neta Fernanda.


 

Érico Veríssimo era de tal maneira fascinante que tornava impossível a tarefa de entrevistá-lo segundo a técnica comum, de perguntas e respostas. Conversamos o dia inteiro, como já disse, limitei-me a tomar notas. No fim do dia, perguntou-me se colhera material suficiente para a matéria. Duas semanas depois lhe apresentei-lhe a primeira versão, da qual excluiu algumas referências a episódios estritamente pessoais, que não via motivo para serem divulgados por nada acrescentarem a coisa alguma. Nada desabonatório a quem quer que fosse.


 

Jamais fiz outra entrevista como aquela. Pelas tantas, a conversa tomou o rumo do engajamento político na literatura. "Discute-se hoje se o escritor se o escritor deve ou não ser engajado". Não era uma perguntas. Ele me disse:


 

"Política é com políticos. A verdade é que detesto ser mandado e ao mesmo tempo não gosto de mandar. Tive há anos um bate-boca com um colega meu [Jorge Amado] por causa dos famosos "Congressos pela Paz" organizados pelos comunistas. Recusei participar da farsa e ele se zangou comigo. Ficamos uns tempos indiferentes. Anos mais tarde, ele me disse: 'Você tem razão. Sem liberdade, não é possível escrever.'


 

Não me peça para definir o termo liberdade. Há a liberdade política. A liberdade de palavra. A liberdade de acesso às fontes de informação. A liberdade econômica. A liberdade psicológica e outras, muitas outras mais. Mas, em geral, quando alguém pede uma definição do termo é porque esse pedinte é a favor da restrição da liberdade de expressão, quer justificar medidas repressivas... o que não é evidentemente o seu caso.


 

Quando peço liberdade para o jornalista, para o escritor, para o artista, estou pensando numa liberdade "com responsabilidade", sem o que a coisa toda não teria sentido. Concluo, com melancolia, que, à medida que a população do mundo cresce, tornando mais sérios os problemas de alimentação e habitação, além de outros, é possível que marchemos para um planejamento rígido e compulsório que porá em perigo o sistema democrático. Sou a favor dum planejamento sim, mas jamais de caráter totalitário. Porque haverá sempre o perigo de criar-se uma burocracia todo-poderosa, como aconteceu na Rússia Soviética, detentora do poder, algo muito mais sério e pernicioso que as classes sociais privilegiadas, tais como as conhecemos no nosso mundo. Seja como for, a produção e a distribuição de bens de consumo não podem continuar a ser feitas como são, sem planificação. O importante é descobrir um meio de evitar que os homens que manejam os computadores, as máquinas prodigiosas que a tecnologia nos está dando, se transformem numa elite ditatorial."


 

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Obama e o Nobel da Paz – Jayme Copstein

O presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, mostrou-se surpreso, como todo o mundo pela outorga do Prêmio Nobel da Paz. Ainda não completou sequer um ano de mandato e toda sua pregação pela melhoria das relações internacionais não saíram até agora do terreno das boas intenções. Pelo andar da carruagem, é forte candidato a repetir os fiascos de Jimmy Carter, cujo mandato encerrou-se melancolicamente com a humilhação imposta pelo aiatolás do Irã.

Chama a atenção a euforia das nações européias festejando a outorga como aplauso e estímulo ao comportamento politicamente correto de Obama, como se lhe repetissem o afago feito por ele a Lula – "este é o 'cara'. A condescedência cheira a hipocrisia.

Não demora, a lua-de-mel vai acabar. Além do irresponsável suprimento de tecnologia nuclear para produzir armas de guerra aos fundamentalistas islâmicos, os europeus andam com suas garras voltadas para a América Latina, aplicando aqui o mesmo figurino com o qual há séculos devastam a África. Enquanto apenas alguns beleguins, tipo Chaves e seus acólitos, brincam de Napoleão, tudo é divertido e pode ser levado "numa boa". No momento em que for ara valer, Obama terá de mostrar se é o líder que vai corrigir as besteira de Bush, porém sem pedir atestado politicamente correto ao velho imperialismo europeu, ou se é apenas mais um cara bem de papo, passando conversa.

Agora, sim...

Como dizia aquela outra figura impoluta, caráter sem jaça da política nacional, Ademar de Barros (o pai), quando se candidatava à presidência da República: "Agora vamos". Pois Sua Excelência, o digníssimo ministro da Justiça da República do Brasil, dr. Tarso Genro, finalmente esclarece que o pais tem lei e tem Constituição. Ainda bem, porque ninguém sabia disso e a esse vácuo jurídico atribuía a liberdade com que o MST se move, de Norte a Sul, destruindo e roubando patrimônio privado e público.

Pena que Sua Excelência tinha esta certeza como segredo bem guardado porque, em março deste ano, não via "nenhum índice de aumento de violência" nas ações do MST, conforme declarou aos jornais, justificando: "O que ocorre é a mobilização dos movimentos sociais e em determinadas circunstâncias de maneira mais arrojada."

Enfim, são águias passadas. Como diz nosso grande Guia Espiritual, é zero a zero, bola ao centro. Agora vamos, já que Tarso Genro é candidato ao governo do Rio Grande do Sul. Temos certeza que, após rigoroso inquérito para apurar os responsáveis, providências exemplares serão tomadas, "duela a quien duela", segundo outro grande patriota desta Nação, Fernando Collor de Mello, aliado do Governo.

Estamos todos à espera, ansiosos, porém sentados por precaução.

Ditos e achados

"Onde o caráter não é grande, não há grande homem. Há apenas ídolos ocos para a vil multidão: o tempo os destrói juntos". Romain Rolland.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A barreira – Jayme Copstein

A contradição entre o que afirmou certa vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o entusiasmo do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ao anunciar as primeiras providências para a realização da Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos |Olímpicos, em 2016, reflete a mentalidade ao mesmo tempo despreparada e servil da classe política brasileira.

Lula, então, disse não ser preciso saber inglês para ser presidente do Brasil. Eduardo Paes, agora, prega que até as criancinhas falem o inglês, para mostrar que sabemos receber o visitante. Nenhum dos dois parece valorizar o aprendizado de idiomas como instrumento de crescimento pessoal e de inserção do país em um mundo onde as fronteiras estão se desmilinguindo cada vez mais. Não fossem as exigências da Fifa e do COI, ninguém cogitaria da necessidade de saber "língua de gringo". O Carnaval carioca, uma dos principais eventos turísticos do planeta, está aí mesmo para mostrar que jamais alguém enfatizou antes a necessidade de falar com os visitantes em seu idioma.

O Carnaval é coisa "nossa". Não havendo um "chefe" para agradar, um "patrão" para exigir e fiscalizar, a copa é franca e sua história registra até um presidente da República, Itamar Franco, exibindo seu irresistível poder de sedução a uma senhora desprevenida de "panties". Na verdade, em tudo neste país balança-se sempre de um extremo a outro, da prepotência à submissão, o que denota problemas sérios na aquisição dessa mescla de conhecimento, experiência e civilidade, chamada educação, que nos mantém atentos para aceitar e interagir com o conveniente sem dobrar a espinha ou recusar o inadequado, sem necessitar ir à guerra, como a cada momento se vê.

Como, porém, obrigar os políticos a trocar a estroinice e a demagogia barata por um esforço sincero e permanente para educar o povo, se eles próprios são consequência da ignorância em que o povo é mantido? Seria convidá-los ao suicídio. Cidadãos e instruídos e educados jamais votariam na caterva que impede este país de ser grande em todos os sentidos.

Conto do Nardoni

Quem caiu no que circulava ontem na Internet, merece ter entregado todas as suas senhas aos piratas e perdido todo o dinheiro dos seus depósitos. A notícia dizia que Alexandre Nardoni, respondendo com sua mulher a processo pela morte da filha Isabella, fora sido assassinado em uma revolta de presidiários e que um "cinegrafista amador" filmara o crime com seu celular. Bastava clicar em um link para assistir ao sensacional "furo". Ora, bastaria perguntar o que um "cinegrafista amador" fazia dentro de um presídio, onde não entram celulares, para descartar a mensagem como scammer. Quem tem um antivírus competente, como o Kaspersky, nem viu a mensagem – ela foi diretamente para a pasta dos spams e, dali, para a lixeira..

Ditos e achados

"No papo bem batido, a discussão não passa de motivação, sem intuito de convencer ninguém, nem de provar que se tem razão. Os que nela se envolvem devem estar sempre prontos a reconhecer, no íntimo, que poderiam muito bem passar a defender o ponto de vista oposto, desde que os que o defendessem fizessem o mesmo. Os temas devem ser de uma gratuidade apaixonante, a ponto de permitir que,m no desenrolar da conversa, de súbito ninguém mais saiba o que se está discutindo." – Fernando Sabino em "Deixa o Alfredo falar" (Editora Record)    


 

 

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O furdúncio da dupla – Jayme Copstein

Rodrigo Lopes, enviado especial de Zero Hora a Tegucigalpa, conta que Zelaya fez da embaixada brasileira em Tegucigalpa o seu palácio. Ocupa três das quatro melhores salas, a elas só dá acesso a seus assessores, um dos quais repreendeu por liberar foto em que aparece dormindo. Zelaya vai zangar-se com o jornalista. O flagrante estampado hoje por ZH mostra um assessor lhe alcançando o chapéu de fazendeiro texano, para compor o tipo com o qual posa em suas entrevistas coletivas. É um circo. Conduz à fácil conclusão de que o Brasil escancaradamente interveio em negócios internos de outro país, com o qual tinha relações normais, permitindo que sua embaixada se transformasse em bunker para uma das facções que disputa o poder.

Jamais tinha acontecido algo semelhante em nossa história, mesmo considerando-se a Guerra do Paraguai, único conflito de que participamos, assim mesmo em consequência do delírio napoleônico de Solano Lopez, a doença que hoje ataca Hugo Chávez. Para se ter idéia do que sempre foi a América Espanhola e do papel equilibrado e eqüidistante do Brasil, agora triturado pela engajamento cego de Marco Aurélio e seu acólito Celso Amorim, leia-se apenas parte do primeiro capítulo de "A Ilusão Americana", de Eduardo Prado, publicado em 1893. Era intensa, na época, a propaganda do pan-americanismo, doutrina formulada pelo presidente norte-americano James Monroe em 1803, com vistas a angariar a solidariedade do continente na guerra dos Estados Unidos contra a Espanha. Eduardo Prado rebelava-se:

"(...) Pretender identificar o Brasil e os Estados Unidos, pela razão de serem do mesmo continente, é o mesmo que querer dar a Portugal as instituições da Suíça. porque ambos os países estão na Europa! A fraternidade é uma mentira. Tomemos as nações ibéricas da América. Há mais ódios, mais inimizades entre eles do que entre as nações da Europa.

O México deprime, oprime e tem por vezes, invadido Guatemala, que tem sangrentíssimas guerras com a república do Salvador, inimiga rancorosa da Nicarágua, feroz adversária de Honduras, que não morre de amores pela república de Costa Rica. (...) A Colômbia e Venezuela odeiam-se de morte. O Equador é vítima, nunca resignada, ora das violências colombianas, ora das pretensões do Peru. E o Peru? Já não assaltou a Bolívia, já não se uniu depois a ela numa guerra injustíssima ao Chile? E o Chile já não invadiu duas vezes a Bolívia e o Peru, não fez um horroroso morticínio de bolivianos e peruanos na última guerra, talvez a mais sangrenta deste século? E o Chile não tem somente estes inimigos: o seu grande adversário é a República Argentina. Este país, que tem usurpado territórios à Bolívia, obriga o Chile a conservar um exército numeroso, e ninguém ignora que um conflito entre aqueles países é uma catástrofe que, de um momento para outro, poderá rebentar. O ditador Francia, o verdugo taciturno do Paraguai, que Augusto Comte coloca entre os santos da humanidade venerados no calendário positivista, por ódio aos argentinos e aos outros povos americanos, enclausurou o seu país durante dezenas de anos. A República Argentina é a adversária nata do Paraguai. Lopez atacou-a, e ela secundou o Brasil na sua guerra contra o Paraguai. (...) Eis aí a fraternidade Americana."

Eis, também, no caso de Honduras, o furdúncio em que a dupla Garcia&Amorim meteu o Brasil.


 

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Repetição da História – Jayme Copstein

A revelação surpreendente do fim de semana ficou por conta das origens judaicas do rancoroso presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Notabilizado pela negação do Holocausto de Hitler e pregação de extermínio de Israel, nasceu judeu, quarto filho de homem muito pobre que tentou ganhar a vida como ferreiro, barbeiro no interior do Irã, antes de se mudar para Teerã onde se converteu ao islamismo, mudando o sobrenome israelita Sabourjian para Ahmadinejad.

Comentando a notícia para The Telegraph (http://www.telegraph.co.uk/), Ali Nourizadeh, membro do Centro de Estudos Árabes e Iranianos, observou que "toda a família que se converte a uma religião diferente adquire nova identidade condenando sua fé antiga". Isso é verdadeiro não só em relação ao judaísmo, mas a qualquer confissão religiosa, desde que a conversão resulte de coação. Muitos cristãos novos da Espanha e de Portugal incutiram nos filhos sentimento antijudaico e os estimulavam a manifestá-lo publicamente para escapar de processo por retorno secreto às práticas heréticas.

Até onde isso tem importância maior é tema de debate. As pessoas estão sempre a favor ou contra alguma coisa, gostam de umas, detestam outras, enfim, é da vida. O problema se coloca quando o personagem do drama é um sociopata capaz de apelar a demônios externos para sufocar fantasmas interiores. Foi o caso de católico romano Torquemada, também com origens judaicas, mentor da Inquisição Espanhola, que mandou para a fogueira número incontável de judeus e muçulmanos.

É onde se encaixa Mahmoud Ahmadinejad (seria ele Isaac ou Jacob Sabourjian? Até que não soava mal) com sua negação do Holocausto de Hitler e pregação de extermínio contra Israel. Algo no estilo:"Ele não, mas eu farei". Hitler não escondeu o que pretendia fazer. Antecipou em "Mein Kampf", mas ninguém acreditou e por isso ninguém tentou evitar. Ahmadinejah está fazendo o mesmo. Será que de novo não vão acreditar?

 

domingo, 4 de outubro de 2009

Quem dá mais? – Jayme Copstein

Datafolha apurou, em recente pesquisa, que 13% dos eleitores brasileiros confessam ter trocado o voto por dinheiro, favores ou presentes. Noventa e dois por cento estão convencidos de que existe corrupção no Congresso e 88% por cento têm esta certeza em relação à presidência da República.

Não é de se duvidar que o presidente Lula anuncie em grande estilo a equiparação do país à Suécia, pois 94% dos brasileiros – o mesmo percentual dos suecos – acham a prática errada. Mas como dos 88% aprovam o Governo sem restrição, a aceitação do "rouba, mas faz", permite concluir também que 75% não tem a mesma coragem daqueles 13% de confessar que fazem negociam seu voto.

A pesquisa não surpreende, principalmente a colunistas, cuja caixa postal fica congestionada de mensagens indignadas, perguntando o que eles vão fazer para corrigir o descalabro. A resposta é pobre – vão continuar escrevendo contra a corrupção porque os perguntadores se recusam a exercer a sua cidadania, negando voto a quem não merece. Todos juram de pés juntos que já o fazem, o problema são os "outros", mas eles "ficam na deles" porque a sobrinha da cunhada está para ser nomeada para uma "mamata" que o deputado fulano vai arranjar e, "entende", aí pode complicar... Ah! E tem o filho do primo segundo, assessor de vereador, entrega metade do que ganha para o edil, mas – "entende" – ele pode se incomodar, e mesmo a metade do salário sempre dá para alguma coisa.

Escrevi as duas últimas frases quando o deputado Pompeu de Mattos propôs a emenda constitucional para aumentar o número de vereadores. Sob absoluto silêncio, salvo piadas de mau gosto que entupiram a Internet, a emenda foi aprovada até com penacho – posse imediata de suplentes não eleitos porque concorreram segundo regras somente agora modificadas, portanto, sem ter como retroagir.

E agora? Os perguntadores seguirão perguntando o que os colunistas farão contra a demagogia e a corrupção, mas continuarão se corrompendo porque – "entende" – têm o que perder se a corrupção de fato acabar algum dia.

Os corvos

Élio Gaspary estava zangando ontem, na Folha de São Paulo, com 300 bolsistas da Capes/CNPQ que fizeram a viagem do corvo da Arca de Noé: foram se doutorar no exterior, não voltaram nem devolveram o dinheiro da passagem e estada, de acordo com o trato. Não foram os únicos. Houve dezenas que fizeram o mesmo, mas aceitaram o acordo de ressarcir em 60 módicas prestações, recebendo quitação.

Mais 300, menos 300 pouca diferença fazem no panorama geral da malandragem e corrupção, matéria em que nossos doutores já nascem diplomados "cum laude" por direito de família. Bem se poderia traçar paralelo com as milhares de sinecuras que o Senado distribui até aos namorados das netas, mas o caso é outro, do qual Gaspary levantou a pontinha do tapete quando reconheceu que alguns não retornaram por falta de empregos decentes no país. Houve quem tivesse retornado. Sem conseguir furar a barreira das "panelas" em universidades públicas, viram-se obrigados a ir embora de vez. E outros que ganharam bolsa para pós-graduação aqui mesmo no Brasil, nunca a concluíram, não apresentaram tese e também não devolveram o dinheiro – ficam de fora da cobrança?


 

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O gatilho do STF – Jayme Copstein

Alguém me pergunta se o jornalismo de hoje é melhor ou pior do que quando comecei na profissão. A resposta é muito simples: como o mundo e as pessoas mudaram, o jornalismo de hoje não é nem melhor nem pior – apenas conta coisas diferentes. Entretanto, se compararmos a cobertura policial que se fazia no final da década de 1950, início dos anos 1960, afirmo com toda a convicção que prefiro a de hoje.

Naquela época, a prática comum ao jornalismo policial era inventar a "inimigos públicos". Quando o personagem era fictício, como o "Monstro Negro", que atacava mulheres no Parque Farroupilha em Porto Alegre, não houve conseqüências maiores: as beatas das igrejas da avenida José Bonifácio redobraram as preces para preservar sua virtude e a freqüência das menos devotas aumentou no Parque. Em vão: o monstro não existia.

Rubem Braga faz uma caricatura magistral daquele noticiário em uma crônica sobre o assassinato de misterioso alemão em determinado número da Rua do Catete. Nem mesmo quem lhe alugava a casa conhecia sua identidade. Na sucessão de manchetes, o misterioso alemão sofre notáveis metamorfoses, desde criminoso de guerra acoitado no Brasil a ser uma mulher disfarçada de homem. A crônica terminava com a revelação bombástica: não existia aquele número na Rua do Catate.

Este tipo de jornalismo substituiu os folhetins publicados pelos jornais no pé da primeira página. Como as novelas da tevê hoje em relação à audiência, tinha por objetivo prender leitores. Foi deixado de lado quando a ética se tornou descartável. Quem, naquele tempo, inventou "Cléo atira para matar" em Porto Alegre, foi autor de crime maior do que todos os cometidos pelo personagem.

Cléo tinha 18 anos quando tudo aconteceu. Menino de origem modesta, copeiro-auxiliar em uma confeitaria chique no centro da cidade, impressionou-se com o relato das façanhas sexuais dos rapazes ricos em seus carrões envenenados. Na tentativa de imitá-los, furtou um automóvel, foi preso, fugiu, e foragido praticou uma serie de assaltos a mão armada, sem que a polícia conseguisse prendê-lo.

Foi o bastante para colocá-lo nas manchetes e a incutir nos policiais ser questão de honra prendê-lo, vivo ou morto. A trajetória de Cléo seguiu neste rumo até o dia em que aconteceu o inevitável: matou o proprietário de uma farmácia na grande Porto Alegre, que reagiu ao assalto. A vítima era também oficial da Polícia Militar do Rio Grande do Sul.

Por aqueles dias, fazia grande sucesso nos cinemas da cidade o filme de caubóis "Django atira para matar". A manchete da página policial foi: "Cléo atira para matar".

Cléo incorporou o personagem. Quando a Polícia o cercou, resolveu cinematograficamente reagir, entrincheirado em um... colchão. Se chegou a disparar tiros, foram muito poucos. Seu cadáver virou uma peneira no fuzilamento.

Felizmente, casos assim são águas passadas. Os cursos de jornalismo aprofundaram os conceitos éticos das novas gerações. Pena que, em má hora, o Supremo Tribunal Federal decidiu retroagir no tempo e cassou a exigência do diploma universitário para o exercício da profissão. Ao fazê-lo, os ministros do SFT tornaram-se autores de manchetes como aquela.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Hora da verdade – Jayme Copstein

É importante identificar quem sabotou o Acordo de San José, mediado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que teria abortado a crise de Honduras. Previa a volta de Manuel Zelaya à presidência, sem mudanças na Constituição para perpetuá-lo no poder, e a manutenção do calendário eleitoral para escolher o novo presidente.

No meio da boataria, Roberto Micheletti, presidente do Congresso exercendo a presidência, foi acusado de não aceitar a volta de Zelaya. Até onde isso é verdade, meia-verdade ou nenhuma verdade também deve ser apurado. Desde o princípio, a tática de chamá-lo de presidente golpista invalidava tudo o que ele pudesse dizer a respeito da situação, tal como os nazistas e os comunistas faziam em seus tribunais e segue sendo praticado pelos "revolucionários" da América Latina, comandados por Hugo Chávez.

Aliás, não faltou o componente nazista entre os apoiadores de Zelaya. Ele próprio apelou para a velha tática do inimigo "oculto", acusando oficiais do Exército israelense de se mancomunarem com seus adversários para tentar envenená-lo. A Rádio Globo de Tegucigalpa sofreu intervenção do governo pelo incitamento à violência e ao racismo, em pronunciamento do seu diretor executivo Carlos Romero, apoiador incondicional de Zelaya, que a certa altura disse textualmente: "(...) eu me pergunto por que não desejamos que Hitler tivesse cumprido sua missão histórica. Desculpem-me a expressão dura de repente. Porém eu me pergunto isso depois que fiquei sabendo disso e de outras coisas. Eu creio que teria sido justo e correto que Hitler tivesse terminado sua missão histórica".

A notícia sobre a intervenção na emissora publicada nos jornais brasileiros não fez alusão ao fato. Nem Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim fizeram qualquer comentário a respeito. Se acaso foi por que ainda não ouviram a gravação do pronunciamento nazista do aliado de Zelaya, ainda há tempo de romper o silêncio da cumplicidade: ela pode ser acessada em http://vimeo.com/6825710. Está na hora da verdade.

Enem no país da impunidade

O que aconteceu com a prova do Enem não devia surpreender ninguém. Em um país onde a impunidade campeia solta, graças à legislação feita por rábulas de porta de cadeia com o apoio dos calhordas do mocismo que ainda crêem em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, todos se sentem à vontade para delinquir. Só tem medo quem é honesto e esta é razão para se camuflar a identidade de quem forneceu a informação ao jornal O Estado de São Paulo e evitou que mais de 4 milhões de jovens fossem burlados. É só lembrar o caso das secretárias, a da Operação Uruguai e a do Mensalão, e também do caseiro Francenildo, para saber que honestidade e zelo pela decência não têm vez neste país. Sendo vigarista, tentando "faturar algum", só "está na dele", não corre riscos. No máximo, nos casos mais graves, resolve tudo com algumas cestas básicas. Já quem é honesto... Deus nos acuda.

Mural

Miguel Ângelo Fonseca Pastelletto comenta a crise de Honduras: "Mesmo que o presidente Zelaya tenha sido cassado pelo congresso de Honduras e ratificado pelo judiciário por desrespeito a Constituição daquele pais, não é estranho a população dando apoio ao presidente deposto, indo as ruas e enfrentando as tropas do governo golpista? Se foi um ato dentro da lei feito pelo Congresso e ratificado pelo Poder Judiciários, torna-se desnecessário policiais encapuzados escondendo o rosto."