Rodrigo Lopes, enviado especial de Zero Hora a Tegucigalpa, conta que Zelaya fez da embaixada brasileira em Tegucigalpa o seu palácio. Ocupa três das quatro melhores salas, a elas só dá acesso a seus assessores, um dos quais repreendeu por liberar foto em que aparece dormindo. Zelaya vai zangar-se com o jornalista. O flagrante estampado hoje por ZH mostra um assessor lhe alcançando o chapéu de fazendeiro texano, para compor o tipo com o qual posa em suas entrevistas coletivas. É um circo. Conduz à fácil conclusão de que o Brasil escancaradamente interveio em negócios internos de outro país, com o qual tinha relações normais, permitindo que sua embaixada se transformasse em bunker para uma das facções que disputa o poder.
Jamais tinha acontecido algo semelhante em nossa história, mesmo considerando-se a Guerra do Paraguai, único conflito de que participamos, assim mesmo em consequência do delírio napoleônico de Solano Lopez, a doença que hoje ataca Hugo Chávez. Para se ter idéia do que sempre foi a América Espanhola e do papel equilibrado e eqüidistante do Brasil, agora triturado pela engajamento cego de Marco Aurélio e seu acólito Celso Amorim, leia-se apenas parte do primeiro capítulo de "A Ilusão Americana", de Eduardo Prado, publicado em 1893. Era intensa, na época, a propaganda do pan-americanismo, doutrina formulada pelo presidente norte-americano James Monroe em 1803, com vistas a angariar a solidariedade do continente na guerra dos Estados Unidos contra a Espanha. Eduardo Prado rebelava-se:
"(...) Pretender identificar o Brasil e os Estados Unidos, pela razão de serem do mesmo continente, é o mesmo que querer dar a Portugal as instituições da Suíça. porque ambos os países estão na Europa! A fraternidade é uma mentira. Tomemos as nações ibéricas da América. Há mais ódios, mais inimizades entre eles do que entre as nações da Europa.
O México deprime, oprime e tem por vezes, invadido Guatemala, que tem sangrentíssimas guerras com a república do Salvador, inimiga rancorosa da Nicarágua, feroz adversária de Honduras, que não morre de amores pela república de Costa Rica. (...) A Colômbia e Venezuela odeiam-se de morte. O Equador é vítima, nunca resignada, ora das violências colombianas, ora das pretensões do Peru. E o Peru? Já não assaltou a Bolívia, já não se uniu depois a ela numa guerra injustíssima ao Chile? E o Chile já não invadiu duas vezes a Bolívia e o Peru, não fez um horroroso morticínio de bolivianos e peruanos na última guerra, talvez a mais sangrenta deste século? E o Chile não tem somente estes inimigos: o seu grande adversário é a República Argentina. Este país, que tem usurpado territórios à Bolívia, obriga o Chile a conservar um exército numeroso, e ninguém ignora que um conflito entre aqueles países é uma catástrofe que, de um momento para outro, poderá rebentar. O ditador Francia, o verdugo taciturno do Paraguai, que Augusto Comte coloca entre os santos da humanidade venerados no calendário positivista, por ódio aos argentinos e aos outros povos americanos, enclausurou o seu país durante dezenas de anos. A República Argentina é a adversária nata do Paraguai. Lopez atacou-a, e ela secundou o Brasil na sua guerra contra o Paraguai. (...) Eis aí a fraternidade Americana."
Eis, também, no caso de Honduras, o furdúncio em que a dupla Garcia&Amorim meteu o Brasil.