quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A barreira – Jayme Copstein

A contradição entre o que afirmou certa vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o entusiasmo do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ao anunciar as primeiras providências para a realização da Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos |Olímpicos, em 2016, reflete a mentalidade ao mesmo tempo despreparada e servil da classe política brasileira.

Lula, então, disse não ser preciso saber inglês para ser presidente do Brasil. Eduardo Paes, agora, prega que até as criancinhas falem o inglês, para mostrar que sabemos receber o visitante. Nenhum dos dois parece valorizar o aprendizado de idiomas como instrumento de crescimento pessoal e de inserção do país em um mundo onde as fronteiras estão se desmilinguindo cada vez mais. Não fossem as exigências da Fifa e do COI, ninguém cogitaria da necessidade de saber "língua de gringo". O Carnaval carioca, uma dos principais eventos turísticos do planeta, está aí mesmo para mostrar que jamais alguém enfatizou antes a necessidade de falar com os visitantes em seu idioma.

O Carnaval é coisa "nossa". Não havendo um "chefe" para agradar, um "patrão" para exigir e fiscalizar, a copa é franca e sua história registra até um presidente da República, Itamar Franco, exibindo seu irresistível poder de sedução a uma senhora desprevenida de "panties". Na verdade, em tudo neste país balança-se sempre de um extremo a outro, da prepotência à submissão, o que denota problemas sérios na aquisição dessa mescla de conhecimento, experiência e civilidade, chamada educação, que nos mantém atentos para aceitar e interagir com o conveniente sem dobrar a espinha ou recusar o inadequado, sem necessitar ir à guerra, como a cada momento se vê.

Como, porém, obrigar os políticos a trocar a estroinice e a demagogia barata por um esforço sincero e permanente para educar o povo, se eles próprios são consequência da ignorância em que o povo é mantido? Seria convidá-los ao suicídio. Cidadãos e instruídos e educados jamais votariam na caterva que impede este país de ser grande em todos os sentidos.

Conto do Nardoni

Quem caiu no que circulava ontem na Internet, merece ter entregado todas as suas senhas aos piratas e perdido todo o dinheiro dos seus depósitos. A notícia dizia que Alexandre Nardoni, respondendo com sua mulher a processo pela morte da filha Isabella, fora sido assassinado em uma revolta de presidiários e que um "cinegrafista amador" filmara o crime com seu celular. Bastava clicar em um link para assistir ao sensacional "furo". Ora, bastaria perguntar o que um "cinegrafista amador" fazia dentro de um presídio, onde não entram celulares, para descartar a mensagem como scammer. Quem tem um antivírus competente, como o Kaspersky, nem viu a mensagem – ela foi diretamente para a pasta dos spams e, dali, para a lixeira..

Ditos e achados

"No papo bem batido, a discussão não passa de motivação, sem intuito de convencer ninguém, nem de provar que se tem razão. Os que nela se envolvem devem estar sempre prontos a reconhecer, no íntimo, que poderiam muito bem passar a defender o ponto de vista oposto, desde que os que o defendessem fizessem o mesmo. Os temas devem ser de uma gratuidade apaixonante, a ponto de permitir que,m no desenrolar da conversa, de súbito ninguém mais saiba o que se está discutindo." – Fernando Sabino em "Deixa o Alfredo falar" (Editora Record)