Datafolha apurou, em recente pesquisa, que 13% dos eleitores brasileiros confessam ter trocado o voto por dinheiro, favores ou presentes. Noventa e dois por cento estão convencidos de que existe corrupção no Congresso e 88% por cento têm esta certeza em relação à presidência da República.
Não é de se duvidar que o presidente Lula anuncie em grande estilo a equiparação do país à Suécia, pois 94% dos brasileiros – o mesmo percentual dos suecos – acham a prática errada. Mas como dos 88% aprovam o Governo sem restrição, a aceitação do "rouba, mas faz", permite concluir também que 75% não tem a mesma coragem daqueles 13% de confessar que fazem negociam seu voto.
A pesquisa não surpreende, principalmente a colunistas, cuja caixa postal fica congestionada de mensagens indignadas, perguntando o que eles vão fazer para corrigir o descalabro. A resposta é pobre – vão continuar escrevendo contra a corrupção porque os perguntadores se recusam a exercer a sua cidadania, negando voto a quem não merece. Todos juram de pés juntos que já o fazem, o problema são os "outros", mas eles "ficam na deles" porque a sobrinha da cunhada está para ser nomeada para uma "mamata" que o deputado fulano vai arranjar e, "entende", aí pode complicar... Ah! E tem o filho do primo segundo, assessor de vereador, entrega metade do que ganha para o edil, mas – "entende" – ele pode se incomodar, e mesmo a metade do salário sempre dá para alguma coisa.
Escrevi as duas últimas frases quando o deputado Pompeu de Mattos propôs a emenda constitucional para aumentar o número de vereadores. Sob absoluto silêncio, salvo piadas de mau gosto que entupiram a Internet, a emenda foi aprovada até com penacho – posse imediata de suplentes não eleitos porque concorreram segundo regras somente agora modificadas, portanto, sem ter como retroagir.
E agora? Os perguntadores seguirão perguntando o que os colunistas farão contra a demagogia e a corrupção, mas continuarão se corrompendo porque – "entende" – têm o que perder se a corrupção de fato acabar algum dia.
Os corvos
Élio Gaspary estava zangando ontem, na Folha de São Paulo, com 300 bolsistas da Capes/CNPQ que fizeram a viagem do corvo da Arca de Noé: foram se doutorar no exterior, não voltaram nem devolveram o dinheiro da passagem e estada, de acordo com o trato. Não foram os únicos. Houve dezenas que fizeram o mesmo, mas aceitaram o acordo de ressarcir em 60 módicas prestações, recebendo quitação.
Mais 300, menos 300 pouca diferença fazem no panorama geral da malandragem e corrupção, matéria em que nossos doutores já nascem diplomados "cum laude" por direito de família. Bem se poderia traçar paralelo com as milhares de sinecuras que o Senado distribui até aos namorados das netas, mas o caso é outro, do qual Gaspary levantou a pontinha do tapete quando reconheceu que alguns não retornaram por falta de empregos decentes no país. Houve quem tivesse retornado. Sem conseguir furar a barreira das "panelas" em universidades públicas, viram-se obrigados a ir embora de vez. E outros que ganharam bolsa para pós-graduação aqui mesmo no Brasil, nunca a concluíram, não apresentaram tese e também não devolveram o dinheiro – ficam de fora da cobrança?