Até agora repercute na imprensa mundial o Nobel da Paz atribuído ao presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, com escassos nove meses de governo. As pessoas se surpreenderiam ainda mais ao saber que seu nome foi indicado, no máximo, até 31 de janeiro, data limite para as inscrições, quando ele tinha apenas 11 dias na Casa Branca. A esse respeito, cabe assinalar que Jimmy Carter, apesar de ter sido o promotor do Acordo de Camp David, não dividiu com Menachem Begin e Anwar Sadat o Nobel da Paz de 1978, porque seu nome chegou à Comissão Julgadora fora do prazo. Só foi recebê-lo em 2002, como recompensa, não por alguma ação especial naquele ano, mas pelo largo tempo de atuação em defesa desses ideais.
A estranheza em relação a Obama é compreensível, mas descabida porque todos incidimos no erro de julgar que o Nobel da Paz é conferido apenas a quem teve êxito em sua ação para promover a paz, o respeito aos direitos humanos e à democracia. Com mais frequência ele é estímulo e encorajamento a quem tenha condições de fazê-lo. Por isso Barak Obama o ganhou com a aparente precocidade.
Há outros equívocos decorrentes do desconhecimento de como a láurea é atribuída, daí a formação de "comitês", abaixo-assinados, intervenção de governos desejosos de atrair os holofotes da mídia para seu país. Nada disso funciona. Todas as prováveis candidaturas sugeridas pelos jornais aos leitores não passa de tentativa de antecipar a informação, o que em nenhum momento deu certo. As comissões julgadoras caracterizam-se pelo mutismo absoluto sobre quem e como justificou a indicação, e os registros e atas dos seus trabalhos são lacrados por 50 anos. Tem-se até como certo que as bem-intencionadas campanhas por determinado vulto podem até prejudicá-lo pela necessidade dos julgadores de mostrar absoluta independência.
Há quem pergunte se o prêmio pode ser recusado. Pode. O francês Jean-Paul Sartre em 1964 não aceitou o Nobel de Literatura, dizendo à Academia Sueca de Ciência que não admitia ser julgado por quem quer que fosse. De outro lado, o regulamento é omisso no que diz respeito à cassação da outorga. O que aconteceria, por exemplo, se de repente, Barak Obama fosse acometido de furores bélicos e decidisse guerrear o mundo?
Tem-se que nem assim o Nobel lhe poderia ser cassado porque só são levadas em conta as circunstâncias do momento da outorga, pouco importando o que venha a acontecer dali por diante. Como o caso jamais se apresentou na prática, fica difícil saber-se se na prática a teoria é outra.
As mulheres e o Nobel
O fato de a norte-americana Elinor Ostrom
ser a primeira mulher a ganhar o Nobel de Economia, não significa que elas sejam raras na relação dos contemplados. Assinala-se que foi uma mulher, a polonesa Maria Skłodowska - Madame Curie -- a primeira cientista a ganhar o Nobel duas vezes, o de Física, em 1903, dividindo-o com o marido Pierre Curie e Antoine Becquerel, pelas pesquisas no campo da radioatividade, e o de Química, sózinha, em 1911, pela descoberta do rádio e do polônio.