sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Jesus e Judas – Jayme Copstein

Convenhamos, a gritaria provocada pela declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, juntando Cristo e Judas em uma aliança, denota mais hipocrisia que indignação. O Presidente, homem de instrução formal deficiente, a cujo exercício diário de originalidades e excentricidades verbais já estamos todos habituados, fez diagnóstico tosco, porém preciso, da realidade brasileira.

"Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".

Esta é a frase mais verdadeira que qualquer político cunhou, da Proclamação da República em diante. A crítica que se pode fazer ao seu autor é a de ter mandado os escrúpulos às favas para saciar suas ambições pessoais. No que, aliás, sequer é original: Zé Sarney o fez para conseguir cinco anos de mandato, tal como Fernando Henrique Cardoso, para reeleger-se. Collor quis ter a sua própria caterva e foi posto no olho da rua.

Poder-se-ia retroagir mais de 100 anos, até o 15 de Novembro de 1889, para assistir aos positivistas, a pretexto de democratizar o país, instaurando uma ditadura e pervertendo o sistema eleitoral com o voto proporcional, evoluído da lista ao da indicação nominal, apenas para dar ao eleitor a ilusão de que escolhe seus representantes. De perversão em perversão, desembocaram em verdadeiro pátio dos milagres, onde todos se especializaram em arrombar os cofres públicos.

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser criticado pelo desabafo, não há como fugir da indagação: se ele sabe a verdade e nada faz para mudar as coisas, quem é Jesus e quem Judas na falada coalizão?

A propósito...

Lula acaba de ordenar à sua tropa de choque mobilização ampla, geral e irrestrita para exigir lealdade da "base aliada" e liquidar a CPI do MST. Espera-se com grande curiosidade a reação da deputada estadual Stella Farias (PT-RS) porque a tática, a do banho-maria, é a mesma que a tem indignado aqui no Rio Grande do Sul, em relação à CPI do Detran. A não ser, é claro, que a ilustre parlamentar tenha alguma contribuição à notável Teoria Geral das Coisas e das Cuecas, formulado pelo irrevogável senador Aloízio Mercandante e comprovada na prática pelo sábio professor Enro Loll, da Sleevetea University of Big River: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Coisaram?

Mural

O jornalista Hilton Almeida comenta: "Toda pompa e circunstância de que desfrutam os príncipes árabes chegaram até nós pelo pré-sal. O acampamento do nosso Presidente às margens do Velho Xico, para passar três dias em comícios, vistorias de alguma obra, descanso e pescarias com D. Dilma, custou cerca de três vezes o valor da casa de D. Yeda, que tanta celeuma causou. Pelo volume dos gastos, nada se fica devendo às tendas dos mais badalados emires do petróleo."

A feminista Mariza F. Ranulfo – ela assim se intitulou – manifesta desconformidade com "mulheres petistas arrogando-se o direito de falar em nome das mulheres gaúchas". Ela critica: "Refiro-me a nota que dirigiram à bancada do PT na Assembléia Legislativa, justificando a agressão de Raul Pont à deputada Zilá Breitenbach porque ela 'apresentou um parecer na contramão do que pensam 62% das (os) gaúchas (os), conforme pesquisa realizada pelo Ibope'. É como se frauda uma pesquisa e se tenta iludir a opinião pública: 62% das mulheres gaúchas aprovaram a grosseria do deputado Raul Pont? Não foi o que o Ibope disse."