segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O olho da rua – Jayme Copstein

Nada contra o sistema de bloqueio pela Internet, de contas bancárias de empresas recalcitrantes em pagar seus credores. Até pelo contrário. Apenas a estranheza: se a Justiça não vê dificuldade em bloquear, como nos últimos quatro anos, R$ 47,2 bilhões em contas, por que resiste à teleaudiência com criminosos de reconhecida periculosidade, cujo deslocamento, das penitenciárias aos foros, exige complicado e perigoso aparato de segurança com desembolso de verbas que teriam destino mais adequado se aplicadas na melhoria das condições dos presídios?

É uma incoerência. Juízes explicam sua oposição à teleaudiência, alegando que, sem o "olho no olho", não podem saber se o réu não está sendo coagido por outros criminosos ou até pela autoridade, a confessar o que não fez? "Sancta simplicitas", como disse o tcheco Jan Hus, no século 15, à velhinha que pôs um graveto na fogueira onde ele estava sendo churrasqueado por se meter a reformar o cristianismo. Ou acaso alguém acha que o ladrão de galinhas, certo de que voltará ao presídio depois da audiência "olho no olho", não confessará o assassinato do faraó Akhenaton no século 14 antes de Cristo, se assim lhe ordenar o líder do "comando"?

Advogados estrilam contra o bloqueio de contas pela Internet, alegando o risco de prejuízos insanáveis. Só o papel garante a ampla defesa. Já é um progresso. No tempo de Jan Hus, achavam que era só o pergaminho... Claro que a indisponibilidade de todo o dinheiro da empresa pode levá-la a dificuldades, por lhe tirar os meios de pagar cheques, saldar compromissos com fornecedores e até pagar seus empregados, eles alegam. Mas basta destinar uma conta com fundos suficientes quando se pretende contestar a inexistência ou a inexatidão do débito. Do outro lado da moeda, estão os tramposos profissionais, hábeis em matar os credores "no cansaço", seja obtendo suculentos descontos ou pura e simplesmente caloteando-os, em nome da inviolabilidade do sigilo bancário.

No outro lado da outra moeda, a da teleaudiência nos juizados criminais, os delinquentes perigosos libertados para gozar de absoluta impunidade porque faltou quem e o que os transportassem para o "olho no olho". Simplesmente foram parar no olho da rua.
Mural

Maurício Moraes de Azevedo, aposentado, escreve: "O Sr. Lula afirmou que a Vale deve agregar valor ao produto, não quer só exportar minério! Quer divisas para o país! Será que só agora ele aprendeu o que significa agregar valor ao produto? A Varig recebeu um sonoro não do Sr Lula e Dirceu. Ela agregava valor ao produto: a sua manutenção."!

Professor Joacy de Abreu Faria  aplaude a referência a Revocata Heloísa de Mello (coluna do dia 14): "Justíssima a evocação da memória de Revocata de Mello - ilustre desconhecida da geração atual - em tua crônica de hoje. Personagem de singular força criadora pela contribuição dada à cultura por suas andanças no Extremo Sul, foi ela preceptora  na formação humanística de nosso saudoso professor Luiz Emilio Leo - que magistralmente soube, com o entusiasmo oratório que o caracterizava, difundi-la tanto no ensino da língua pátria como nas preleções de Filosofia enunciadas."