terça-feira, 5 de setembro de 2006

A língua de Betti - Jayme Copstein

Em artigo na Folha de São Paulo de hoje, intitulado “A ética da hipocrisia”, o ator Paulo Betti, o homem das mãos onde não deviam estar, queixa-se de linchamento moral, o que deveria preocupar os democratas de nosso país.
Preocupação tardia, a de Paulo Betti. Ela deveria ter estado presente há muitos anos, quando o cantor Wilson Simonal, alegria do povo como Garrincha, foi moralmente linchado por uma calúnia, ao defender-se de um larápio politicamente correto que lhe furtava cachês. Ou então, mais recentemente, quando a sua colega Regina Duarte expressou o receio do que estava por vir. Só faltou ser lapidada em praça pública, como é dos regimes fundamentalistas, contra os quais o ator também não se rebela.
Na democracia, à qual Paulo Betti agora apela com ardor, não há duas medidas. Ou todos têm o direito de expressar ou de se opor irrestritamente a qualquer idéia, ou deixa de ser democracia. Não é admissível tentar usurpando o direito alheio de fazê-lo, através de frases feitas, como este do choroso linchamento moral. Ou de citações deslocadas de Fernando Pessoa. Só faltou o apelo ao Pequeno Príncipe.
Cada um assuma suas responsabilidades. Da próxima vez, já que não se importa tanto com as mãos, que Paulo Betti cuide pelo menos da língua. Um pequeno equívoco, e lá vai ela ladeira abaixo.
Afinal como dizia o grande filósofo corintiano, Vicente Matheus, quem sai na chuva é para se queimar. Ou seja: quem está na água ou no fogo, não é muito dono do que fala.

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