O país terá hoje a oportunidade, talvez única em muitos anos, de assistir a um debate entre candidatos à presidência da República.
É única pelas circunstâncias, não pela forma. É necessário esperar para ver se o passionalismo e a malandragem que se sobrepõem à pratica política no país não a inutilizarão, como fizeram sistematicamente com as tentativas anteriores.
Debate político no Brasil não passa de uma batalha de marqueteiros, torneando da frase à gravata, a postura de quem os contratou. Confronto de idéias nem pensar.
Soma-se a isso a charlatanice que contribui, mesmo involuntariamente, para sacramentar jogadas de marketing com dados de pesquisas eleitorais. Temos, os brasileiros, irreprimível paixão por predizer bom ou mau tempo, resultado do futebol, o bicho que vai dar, enfim, substituir a razão e o conhecimento pela magia do pajé.
Não se leva em conta a dificuldade de qualquer certeza em um universo de 123 milhões de eleitores, onde os levantamentos contam com margens de erro entre 2 e 3 por cento: significa mais de dois milhões de votos indecifráveis, somando-se a 9 por cento – em torno de outros 12 milhões de eleitores – dispostos, ao menos é o que dizem, a abster-se ou anular o voto. Em outras palavras, não há como predizer nada quando nada se sabe de 11 por cento da votação, o dobro da diferença que nos separa da possibilidade de segundo turno.
Todos esses pecados podem, de novo, inutilizar a oportunidade de hoje e transformar o confronto de idéias em exibições circenses: o dono da melhor piada, o boxeador da melhor pancada e até o vigarista da melhor cantada.
quinta-feira, 28 de setembro de 2006
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