domingo, 29 de agosto de 2010

Baile das cobras – Jayme Copstein

Com as pesquisas indicando que Dilma Roussef pode eleger-se presidente no primeiro turno, começa a pipocar na imprensa o "remake" de um velho filme: a tentativa do PT de detonar aliados, dos quais acha que não precisa mais. "Folha de São Paulo" publicou ontem que o vice de Dilma, Michel Temer, não consegue explicar significativo aumento de patrimônio, omitido na declaração de bens à Justiça Eleitoral. Mudou para erro de digitação a primeira versão de honorários polpudos supostamente ganhos como advogado de ação antiga, porém inexistente na Justiça de São Paulo.

Nenhuma informação chega a qualquer jornal, seja ao "Times" de Londres ou ao "Arauto da Moralidade Pública e Privada" de São João das Pantufas, sem que alguém "dê o serviço". No caso, em vez de "siga o dinheiro" para desmascarar o ladrão, a frase é "a quem interessa" para identificar a fonte.

Não há, na legislação eleitoral, prazo para substituir candidato a presidente, governador ou senador e seus respectivos vices e suplentes. A primeira tentativa de explodir candidatos, que deu certo, vitimou Roseana Sarney, com grande lucro: a culpa foi atribuída ao Governo de Fernando Henrique Cardoso, o que trouxe para as águas de Lula a figura impoluta e o caráter sem jaça de José Sarney.

Se os demais fidalgos da luzidia coorte (Jader Barbalho, Renan Calheiros & Cia Ilimitada) – se incorporaram ao beija-mão por solidariedade a Il Cappo ou por temer que lhes acontecesse o mesmo, pouco importa. Deu certo. Agora a receita está sendo aplicada em Michel Temer porque ele não será uma figura dócil e decorativa, como Hector Campora, o mamulengo de Perón, o foi na Argentina.

No baile de cobras em que se transformou a sucessão presidencial, Dilma, por "n" razões, é a figura mais frágil. Uma delas diz respeito à sua personalidade. É incorruptível, diligente e obsessiva tanto em cumprir como em exigir o cumprimento de metas, enfim um conjunto de predicados considerados virtude na vida privada, mas tidos como grave defeito na política – o da falta de "jogo de cintura", seja lá o que isso signifique.

Até que ponto a capacidade de resistir de Dilma a imunizará contra as inevitáveis pressões consequentes à sua "falta de cintura" a levará a episódio como o protagonizado por Jânio Quadros? Nesta hipótese, para "salvar" o país da crise, quem melhor que Lula, com seus 80% de popularidade? Seria o chavismo à brasileira.

Para que o projeto dê certo, é necessário maioria confortável no Congresso, para remover da Constituição o impedimento legal, como já foi feito com a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Além de o PT estar empenhado decisivamente nas eleições para o Congresso em todos os Estados, Zé Sarney, o dono do terreiro, já foi avisado para não se meter de pato a ganso. O "novo" dossiê contra Roseana, sua filha dileta – agora não tem como acusar FHC – foi apenas o requentamento da denúncia de 2002.

A resposta de Sarney está em seu artigo de 27 de agosto, na "Folha de São Paulo": "O resultado do conjunto das pesquisas orienta as manipulações: hora de bater, de informar, de distorcer, de exaltar, de alegrar, hora da razão, da emoção (...) e, por trás de tudo, a turma do dossiê, 'da maldade', que, conjugada com os jornalistas de investigação, vivem à cata do fato sujo, do escândalo, do provérbio da politicagem 'onde não tem rabo a gente põe'.

Todas as cobras do baile estão arregaçando seus caninos. Cuide-se quem não tiver perneiras.

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