terça-feira, 31 de agosto de 2010

Rir ou chorar? – Jayme Copstein

O Supremo Tribunal Federal ocupa-se hoje de questão transcendental para a nacionalidade: se podemos ou não rir das patuscadas dos nossos políticos Como conseguimos passar 510 anos de história sem tomar uma decisão a respeito? É por isso que o Brasil não vai à frente...

Já que o STF sempre se vale de precedentes para firmar jurisprudência, vale a frase de José do Patrocínio, ao discursar em comício ao qual comparecera cansado, com os pensamentos dispersos.

"Somos um povo...." – começou Patrocínio. E engasgou, sem encontrar a continuação. Fez uma pausa e recomeçou: "Somos um povo...". E de novo engasgou.

A plateia começou a murmurar e logo vieram as risadas. Foi o suficiente para Patrocínio explodir na frase: "Somos um povo que ri quando devia chorar".

Já que os nossos políticos são os patuscos que são e ninguém vai para a cadeia, Só nos resta rir.

Dia do Professor gaúcho

Passado quase um ano, ninguém me socorreu com a informação de que existisse em Porto Alegre rua com nome do professor baiano Manoel Simões Xavier, como havia pedido em "O negro que nos ensinou o be-a-bá", em 15 de outubro do ano passado, Dia do Professor. Acabei descobrindo sozinho e por acaso: é a ruazinha da parte de trás da Praça Tito Tajes, na Tristeza.

Volto ao assunto hoje, 1º de setembro, porque acho que deveria ser o Dia do Professor Gaúcho. Nele, em 1778, Manoel Simões Xavier instalou a primeira aula de instrução primária, dando início oficial ao ensino primário em Porto Alegre. Simões Xavier era negro. Se esta condição de pele ainda hoje enfrenta preconceitos, apesar da evolução dos costumes e da legislação repressiva, imagine-se o que seria cem anos antes da Abolição.

De fato, a Câmara Municipal rebelou-se quando o governador José Marcelino, impressionado com o desempenho de Simões Xavier na cidade do Rio Grande, desde 1770, o chamou para dar início ao ensino primário regular na nova Capital. No tempo do Brasil Colônia, aulas de acesso público só podiam ser instaladas sob permissão expressa da Coroa Portuguesa. José Marcelino empenhou-se para consegui-la e, para atrair o baiano a Porto Alegre, prometeu-lhe pagar o aluguel da casa onde instalasse o curso.

Os vereadores recusaram, alegando não haver dinheiro, não ser de sua competência decidir sobre o assunto e não haver amparo no regimento da Câmara. Por trás da recusa, a rejeição ao negro que se reflete, em 1961, em texto de Ary Veiga Sanhudo, calcado em relatos da época: "(...) Quatro anos depois viria o mulato Manoel Simões Xavier com sua mulher, uma crioula gorda, instalar aula aqui e criar um sério problema para a Câmara (...)". (Crônicas da minha cidade, 1ª edição, Livraria Sulina, Porto Alegre).

O Governador José Marcelino, mandão de marca, não teve maiores dificuldade em dobrar a Câmara. Como já fizera antes, para transferir a capital de Viamão a Porto Alegre, ameaçou prender os vereadores. Foi assim que em 1º de setembro, Simões Xavier deu início às suas aulas. Sabe-se disso por ofício que lhe endereçou no dia seguinte o próprio Governador, querendo saber com quantos alunos as aulas tinham começado.

Nunca se soube. Se houve resposta de Simões Xavier, ela se perdeu.


 

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