A coluna "Os sósias de Hitler" despertou bastante interesse entre os leitores. O jornalista Ney Gastal nos remeteu o relato de uma lenda, encontrada em blogs, que afirma ter Adolf Hitler estado no Maranhão em 4 agosto de 1944, logo após atentado sofrido em 20 de julho, no seu quartel-general de Rastenburg, Prússia Oriental.
A contribuição do Ney Gastal é didática. Mostra como se constroem versões na Internet, nem sempre por má intenção, meramente pelo desejo de contar "um causo". Aí, nem mesmo a coerência que fatos associados devem guardar entre si, é levada em conta.
Segundo o relato, mal explodiu a bomba que quase o matou, "um de seus "oficiais, em agonia (?!?), encaminhou Hitler ao submarino "de sua confiança (?!?), o S-199, que seguiria, em segurança, para lugar incógnito e remoto. Para fugir das conspirações de parte de seu exército, que o queria morto. (...) De acordo com o Diário de Bordo do SS-199, citado na reportagem da Der Spiegel, Hitler e sua amante, Eva Braum, estacionaram no dia 4 de agosto daquele ano a 2°o7′57" de Lat. S e 44°36′04" de Long. W". Estas são as coordenadas geográficas de Guimarães, no Maranhão".
FCMoraes, leitor mais atento do Blog do Alexandre (http://tinyurl.com/2bckhcx), já havia detonado a geografia do conto: "Experimenta colocar estas coordenadas 2° 7' 57" de Lat. S e 44°36' 04" de Long. W. no Google Earth e vais ver que este ponto é no continente. A menos que o litoral tenha avançado em direção ao mar (...).
A lenda, recheada de mais detalhes, descreve Eva Braun entediada com a reclusão, pedindo "para ser levada, de bote, à noite, à praia avistada pelo telescópio", onde ganhou camarões de um pescador.
Sem outras considerações para não se perder mais tempo com a historinha, o prefixo dos submarinos alemães era "U", não "S". De fato, existiu o U-199. Era o submarino que andava torpedeando navios brasileiros em nosso litoral. Foi afundado em ação conjunta da FAB e da Força Aérea Americana, em 31 de julho de 1943, um ano antes da Operação Valquíria, o atentado cometido contra Hitler em 20 de julho de 1944.
Salvaram-se 12 de tripulantes do U-199, incluindo o comandante Hans Werner Kraus. Todos foram levados para os Estados Unidos, para serem interrogados. Só foram libertados após terminar a guerra. Hans Werner Kraus viveu até 1990.
Mas que fosse outro o submarino: nos dias subsequentes ao do atentado, Hitler esteve frenético, exigindo o julgamento sumário e a execução imediata dos mentores da Operação Valquíria, ordem cumprida com requintes de crueldade. Foram todos enforcados com arame de aço, içados a ganchos de açougue. Um filme foi feito, exibindo para Hitler, naquela mesma noite, mostrou os condenados estrebuchando, enquanto as calças caiam-lhes aos pés. Haviam lhes tirado as cintas, para cobrir de ridículo o espetáculo da sua morte.
Hitler não se afastou da Alemanha, e isso é comprovado por fatos e testemunhos. Logo depois do atentado, em 23 de agosto de 1944, diante inevitável derrota na frente ocidental, emitiu ordem para incendiar Paris, descumprida pelo comandante das forças nazistas de ocupação, general Von Choltitz. É célebre a frase de Hitler, angustiado com a falta de notícias que confirmariam a destruição da capital francesa: "Está Paris em chamas?"
Nunca houve dúvida quanto ao suicídio de Hitler na tarde de 30 de abril de 1945, em Berlim. Foi relatado por várias testemunhas e cadáver foi fotografado, sendo a foto amplamente divulgada após o término da guerra na Europa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário