quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A tranca da porta – Jayme Copstein

Depois da porta arrombada, como diz a velha e desgastada frase, a tranca, mas não propriamente de ferro porque, até agora, não passa de um mera esperança de moralização: o TCU quer rever as generosidades da Comissão de Anistia ao conceder indenizações a vítimas da ditadura militar, algumas delas notoriamente se dizentes perseguidas, sem nenhum pé na realidade. Se isso acontecer e se, depois, o Judiciário concordar com a faxina sugerida pelo noticiário, então poderá se falar em tranca de ferro.

Há indícios de que quase 4 bilhões de reais foram distribuídos na verdadeira ação entre amigos, nada inédita no Brasil, em que se transformou a dita Comissão, a qual se arrogou atribuições administrativas, concedendo promoções até a militares, como foi o caso de Carlos Lamarca, com pagamento de "atrasados".

É tardia a preocupação moralizante. A imprensa cansou de falar no escândalo sem que ninguém se dignasse a desmentir. Nem mesmo agora a Comissão da Anistia se dispõe a justificar objetivamente tais decisões. Apenas como lembrança, reproduzo o que escrevi a respeito em outubro de 2008:

"Não faz muitos dias, eram manchete da imprensa os jornalistas Carlos Cony, Ziraldo e Jaguar pelas polpudas indenizações obtidas a título de reparação por prejuízos morais e materiais quando integravam a 'resistência democrática'. A expressão é gravada entre aspas pela dificuldade, no caso específico, de se saber em que consiste tal resistência democrática. Desafio às estatísticas de epidemiologia hepática, no caso de Jaguar? Esperta infiltração nas hostes inimigas, para abater seu moral com bem pagos trabalhos por empresas estatais, no caso de Ziraldo? Ou a linguagem cifrada dos iracundos editoriais do Correio da Manhã – onde se lia "Fora!" deveria ler-se "Fica!" – escritos por Carlos Heitor Cony, pregando a deposição de Jango, ipso facto a derrubada do regime?"

[b] Boa pergunta [/b]

Em entrevista à televisão, o candidato a presidente da República, José Serra, trouxe para o debate o destino de R$ de 40 bilhões de reais de dinheiros públicos. Textualmente: "Do começo de 2003 para cá, foram arrecadados R$ 65 bilhões para transportes, para estradas na Cide. É um imposto. Sabe quanto foi gasto disso pelo governo federal? Vinte e cinco. Ou seja, foram R$ 40 bilhões arrecadados dos contribuintes para investir em estradas do governo federal que não foram utilizados."

Eis uma pergunta que o Governo Federal deve responder: aonde foram parar esse 40 bilhões? Pela resposta, há de se medir o tamanho da cueca.

Palmadas na lei

A propósito da "Lei da Palmada", um caderno de apoio pedagógico, distribuído pela Coordenadoria de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro, ensina assim o "Chicotinho Queimado":

"Em círculo, todas as crianças batem palmas e cantam: 'Chicotinho queimado, custa dois cruzados, quem olhar para trás ganha chinelada". Logo adiante, acrescenta: 'Se esta criança não perceber, terá, como castigo, 'chicotadas' leves no bumbum'.

Aldori e o cavalo

O Aldori, o gaúcho perplexo, fala com seu cavalo sobre a "conjuntura nacional". O cavalo chama-se Camões não por ser dado à poesia, mas porque é caolho. Cada vez mais perplexo. Aldori quer saber do Camões porque Lula assinou "contrariado" a Resolução da ONU, ampliando sanções ao Irã.

"Se ele não estava de acordo, por que assinou? Tinha alguém metendo a faca no pescoço dele, para obrigar?", perguntou ao cavalo.

Como não entendesse a resposta, perdeu a paciência:

"Fala, cavalo! Tu só relincha!"

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