Daqui a uma semana, líderes palestinos e israelenses estarão reunidos na enésima tentativa de pacificação, desta vez patrocinada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "sem condições prévias". É a retomada de negociações, interrompidas há um ano e oito meses e também a reprise de Campo David, quando Bill Clinton pareceu ter conseguido um acordo entre Arafat e Ehud Barak. Em vão. Arafat voltou para Gaza e ficou o dito pelo não dito.
A reviravolta deixou Bill Clinton atônito. Nas memórias publicadas pouco depois deixar a Presidência dos Estados Unidos, conta a sua frustração ao relatar o diálogo com Arafat, ao recebê-lo em visita de despedida na Casa Branca.
"O senhor foi um grande estadista", lhe disse Arafat. "Não", respondeu Clinton. "O senhor não permitiu que eu fosse."
Clinton não entendeu que o obstáculo maior para os entendimentos no Oriente Médio está no desentendimento entre os próprios islâmicos sobre a questão palestina. Pode-se até debitar como "erros do passado", como tem sido arguido como justificação, o assassinato do rei Abdulah da Jordânia porque aceitava a realidade dos dois estados, o judaico e o palestino, ou de Anwar Sadat, presidente do Egito, o primeiro mandatário islâmico a reconhecer a existência de Israel. São muito recentes, porém, a ocupação do Sul do Líbano pelo Hizbollah e o massacre de lideranças cristãs, quando Ehud Barak retirou unilateralmente o exército israelense da região, para mostrar boa vontade, e a expulsão do Fatah pelo Hamas, na Faixa de Gaza, quando Ariel Sharon repetiu o gesto, com a mesma intenção.
Oxalá todo este raciocínio esteja errado e se consiga, desta vez, dar paradeiro à tragédia do Oriente Médio. Contudo, Barack Obama parece estar destinado não a se decepcionar como Clinton, que apesar disso saiu engrandecido da Casa Branca, mas a fazer companhia a Jimmy Carter, do qual, passados 30 anos, pouca gente lembra que também foi presidente dos Estados Unidos.
A morte de Castello Branco
Conversava com amigos, o mito do assassinato de Castello Branco, o primeiro presidente do regime militar, veio à tona. Não tem nenhum fundamento. Em 1989, entrevistei Rachel de Queiroz sobre este assunto. Primos distantes, o Marechal fora visitá-la, em Quixadá, no interior do Ceará. Foi de lá que partiu para a morte.
A hipótese de assassinato político surgiu logo depois. Rachel refutou a versão. Contou que, ao partir para Fortaleza, Castello pediu ao piloto para sobrevoar, no trajeto, um conjunto habitacional, construído na região em seu tempo de presidente.
Tal como ocorrera com Salgado Filho anos antes, e iria acontecer com Ulysses Guimarães anos depois, o piloto se opôs, mas foi vencido pela teimosia de Castello. Diferente do caso de Salgado e Ulysses, em que havia problemas de mau tempo, o piloto alertou Castello que a área era reservada ao treinamento dos caças da FAB, portanto, vedada a aviões civis pelo alto risco de acidentes.
Houve também boatos de que pretendesse voltar à presidência da República e até fizera pronunciamento contra o regime para cuja instauração contribuíra como líder, não como figura secundária.
Não confere com as informações que se tinha na época. Castello discordava do grupo de Costa e Silva e defendia a volta à democracia. Para tanto, desejava concorrer a uma cadeira no Senado. Fora ao Ceará, seu Estado natal, para coordenar apoios à candidatura. Aproveitou a viagem para visitar Rachel, com quem esteve alguns dias.
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