Admar Mendonça Ferreira gostou de "As mortes de Napoleão" (coluna de ontem). Também achou que não dá para acreditar na história de Napoleão Bonaparte ter vivido como joalheiro em Verona, indo um sósia em seu lugar para a Ilha de Santa Helena. Ele pergunta se é ou não verdadeira a versão de que Adolf Hitler e Eva Braun não se suicidaram em Berlim, mas fugiram para a Argentina. Sósias é que teriam se suicidado em seu lugar.
É mito, nascido do fato de não terem sido achados os despojos do casal nazista quando Berlim caiu. A suspeita de que os russos haviam ocultado os restos do casal nazista foi confirmada no fim das União Soviética, com a liberação de documentos até então considerados secretos. Stalin pretendia usar a incerteza da morte de Hitler como trunfo nas cartadas da Guerra Fria que já iniciara antes mesmo de terminar a II Guerra Mundial.
A versão mais corrente sobre a fuga secreta do ditador nazista não fala em sósias, mas em cadáveres de soldados, incinerados para que nem seu próprio sexo pudesse ser identificado. Seja como for, favorece o surgimento desses mitos o pouco que vem à luz sobre os bastidores do poder em qualquer época.
Por exemplo, a Gestapo nunca utilizou um sósia de Hitler porque ele não permitia. Dotado de imensa vaidade, considerava-se o messias da germanidade. Daí não admitir alguém à sua "imagem e semelhança". Paranoico a não mais poder – nisso também se igualava a Stálin – quem pudesse ser confundido com ele seria risco permanente de conspirações para apeá-lo do poder.
O recusa de Hitler de usar sósias fez a Gestapo desenvolver procedimentos especiais para preservar sua segurança, neles incluindo mudanças de trajetos ou dos horário de suas aparições públicas, impedindo o planejamento sem o qual os atentados não são exequíveis.
Mesmo assim, não faltaram histórias fantásticas sobre um inexistente atentado, no qual teria morrido Julius Schreck, o motorista de Hitler. Segundo a versão, Schreck não era motorista, mas "obscuro professor do interior da Baviera" que, por ser cópia tão fiel, impressionara o próprio Fuehrer. Convocado para ser seu sósia, teve de submeter a regime para emagrecer – era um pouco mais gordo – e usar sapatos com solado alto para compensar os três centímetros que lhe faltavam em altura.
Honrado com a tarefa, ainda segundo a versão, Schreck concordou em se tornar motorista de Hitler, revezando-se com ele na direção. E assim encontrou a morte, quando fingindo ser o Fuehrer, sentou-se no banco de trás, enquanto Hitler fingia dirigir o carro em viagem para Bernau.
A história é absolutamente sem sentido, a começar pelo absurdo de Hitler utilizar um sósia como motorista. Julius Schreck realmente existiu e foi motorista de Hitler, mas não há referência alguma a semelhanças físicas entre os dois.
Schreck militou no Nacional Socialismo desde o início, e desde o início dedicou-se à segurança pessoal de Hitler. Participou da tentativa de golpe de estado em Munique, conhecida como Putsch da Cervejaria. Foi preso com os demais líderes nazistas.
Quando o Partido foi reorganizado em 1925, subiu na hierarquia das SS e chefiou a guarda pessoal do Fuehrer. A partir de 1930, efetivamente dirigia o carro de Hitler, mas como homem de confiança, não mero serviçal, E o fez até 1936, quando adoeceu de meningite e morreu em uma cama de hospital. Foi sepultado com honras, discurso de Hitler e promoção post-mortem.
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