Recebo manifestações sobre "A peruca de Dilma", coluna publicada sexta-feira passada. Umas concordantes, outras tantas discordantes, como é da vida e da democracia. Houve até quem, lendo apenas o título, me atribuiu injustamente a intenção de "tripudiar" sobre a doença curada da candidata governista, quando nenhuma referência foi feita neste sentido.
A metáfora da "peruca de Dilma" foi usada em contraposição à "careca de Serra" porque, como corre nos bastidores, havendo acordo entre ele e Lula, para que não se baixe o nível da campanha eleitoral, petistas se excederam em ataques pessoais ao candidato tucano, ao reagir às manifestações de Índio da Costa.
Chamou-me a atenção, porém, a mensagem de uma leitora, indagando se eu sou um "dedicado anti-PT". Pelo tom da pergunta, presumo que a leitora tem irremovíveis dificuldades para descobrir que há vida no Sistema Solar além do dilema de ser contra ou a favor do PT. De resto, a opção só paga as contas de fim de mês do Zé Dirceu ou do Paulo Maluf. O supermercado nunca me pediu atestado de ideologia ao cobrar a fatura.
Se tivesse de fazer uma declaração de princípios, eu que já ando pelos "fins", confessaria ser um velhinho malcomportado e teimoso que não pede nem aceita atestados de boa conduta. Mesmo porque, quem anda namoriscando de mãozinhas dadas com Zé Sarney, Jáder Barbalho, Renan Calheiros e Collor de Mello, não tem autoridade moral para fornecê-los a quem quer que seja. Muito feliz será se os conseguir para si próprio.
As moscas
Não sei onde li ou ouvi a história das duas moscas. Se alguém puder identificar o autor, de bom grado a autoria lhe será devolvida, em lugar de andar ao léu, na Internet, como folha nos ventos do outono. Mas o fato é que me lembrei desta história porque assisti a uma discussão entre dois entendidos em eleições sobre o valor da experiência para predizer resultados.
Como sentenciava Noel Rosa em um samba que já há muito tempo deixou de ser célebre, em toda a façanha, um perde, o outro ganha. Passou-se o caso que as duas moscas, talvez por gulosas, caíram em um copo de leite. Uma nadou, tentando subir até a borda, mas como o vidro é muito liso, escorregou várias vezes até cansar e desistir da luta. Afogou-se.
A outra – sempre há uma outra, senão a história acaba em tragédia e sem moral para vender livro de autoajuda – mais tenaz e perseverante, continuou se debatendo furiosamente. Surpresa: tanto se debateu que acabou formando no leite um pequeno floco de manteiga. Ato contínuo, nele subiu, esperou as asas secarem e saiu voando, para mosquear em outra freguesia.
Mas como não há bem que sempre dure e mal que nunca se acabe, certo dia a mesma mosca da manteiga, muito senhora de si, porque já tinha experiência, mergulhou em outro copo de leite. Começou a se debater, a se debater, a se debater, mas nada da manteiga se formar.
Uma terceira mosca que ia passando por acaso – em qualquer historinha de autoajuda há sempre terceiras moscas passando por acaso – quando viu aquilo, quis ajudar: "Tem um canudo aí! Sobe por ele!" Pois a mosca da manteiga a olhou com desprezo. Que não viesse dar palpite. Ela sabia o que estava fazendo. E ficou se debatendo até cansar e se afogar... em um copo de água.
Resumindo a ópera: quem só ouve a si mesmo, mosqueia.
Amei essa história: a segunda mosca não aceitou o "pitaco", morreu ! A intransigência tem dessas coisas ...
ResponderExcluirAmigo Jayme
ResponderExcluirestou com saudades de vc, lembro-me quando escutava seu programa via internet, pois aqui em Curitiba, o meu radio não pegava a radio gaucha,
Faz tempo, mas o mundo é pequeno e te achei novamente. sem duvida um bom encontro.
seu amigo Sergio de CURITIBA
sergiomainardi@estadao.com.br